
Quando entrava em seu quarto para compor, Vitor Kley costumava se isolar por um tempo, junto de seu violão e composições. Sua família dizia que ele estava dentro da sua bolha. Depois, em uma noite, Vitor teve um sonho com a cor roxa, que ficou em sua cabeça por um bom tempo até que, pesquisando, o músico descobriu todo o significado espiritual da cor… Isso tudo deu origem ao álbum “A Bolha”, que Vitor Kley lançou em 2020.

Porém, com a pandemia, os shows eram inviáveis e só em 2023 o registro ao vivo desse álbum carregado de significados foi lançado. A gravação aconteceu na Audio Club, com casa cheia e muitas participações especiais. E os registros foram divididos em 3 partes, lançadas entre 28 de setembro e 1º de novembro.
E foi sobre o lançamento de “A Bolha Ao Vivo em São Paulo”, todos os significados desse disco e muito mais que conversamos com o Vitor em uma entrevista super legal que você pode conferir a seguir.
Entrevista Vitor Kley
Começando do começo, como “A bolha” surgiu? Antes mesmo do registro ao vivo teve o álbum e as composições, a escolha da cor… Além disso, você lançou o álbum durante a pandemia e não podia fazer shows.. como foi esse período todo pra você?
A bolha é um álbum muito especial e a cor roxa não é por acaso, foram sinais da vida, de que deveríamos usar essa cor, que significa transformação e também melancolia, e A Bolha é um álbum que traz músicas mais nessa onda, mais harmônicas, que me fizeram sair um pouco desse pop mais solar, não tanto, porque a minha essência é essa, mas trouxe novidades, e justamente todo esse conceito que torna o projeto muito especial.
E estava tudo pronto, mas aí veio a pandemia e a gente pensou “o que fazer? Lançar ou segurar?” E com a experiência do Rick Bonadio, decidimos lançar e deu tudo certo, por que o nome “A Bolha” não é uma referência à pandemia, é meu lugar de criação, onde eu componho, mas por ter saído nesse período serviu de companhia para as pessoas, cada um na sua “bolha”. E logo depois da pandemia, nós já fomos indicados ao Grammy Latino com esse álbum e agora temos o o registro ao vivo disso tudo.

E sobre o registro ao vivo, como foi escolher as músicas mais antigas que iriam entrar no setlist, como “Farol” e “Dois amores”? Teve alguma música que doeu ter que deixar de fora?
Ah teve muita música que eu tive q deixar de fora e que doeu (risos). A escolha do repertório foi tentar passar por todas as fases da nossa carreira, então começa com “Ainda bem que chegou”, depois vem “Morena”, que ficou super conhecida, mais as músicas inéditas, então era muita coisa!
Por exemplo, “Dois amores”, que você citou é uma música de 12 anos atrás! É muito material para se cantar em um tempo que fique bom para as pessoas assistirem, então tive que tirar algumas e senti falta de “Retina”, “Dúvida” e “Groove de Jacarandá”, por exemplo, mas tivemos que abrir mão justamente porque o projeto vai além, não dá pra fazer só o que a gente quer mesmo, tem que pensar no público.
Os lançamentos aconteceram em 3 partes e elas não refletem a ordem do setlist do show, então como foi essa definição tanto de dividir em partes quanto a ordem das músicas em cada álbum lançado?
Essa ideia foi da distribuidora e da gravadora e foi muito legal porque a gente já tinha lançado 2 singles e sobrou 3 músicas inéditas, então optamos por separar ficando uma inédita em cada uma das partes…Lançamos uma parte, tinha uma inédita, uma semana depois outra inédita… isso chamou a atenção das pessoas.
E essas músicas inéditas foram tocadas pela primeira vez no show…
Sim, no show, e isso é muito louco, porque você chega pra tocar uma música sem ninguém conhecer. O que acontece comigo é que eu criei um quadro no meu Instagram que se chama “como as músicas começam”, onde eu pego músicas de exemplo e mostro como elas vão começando, então alguns fãs meus já conheciam algumas dessas músicas por meio dessa interação no Instagram, mas não sabiam do resultado final.
Mas ainda assim você ficou apreensivo em saber como os fãs iriam reagir a essas músicas durante o show?
Ah, a gente fica apreensivo mesmo, porque você tá tocando músicas que todo mundo conhece, então você pensa “ah, a galera não vai cantar tanto”, bate essa dúvida, mas ao mesmo tempo é legal porque o fã que tá ali naquele show quer saber coisas que ele não sabe, ver o que não viu ainda… então eles não conheciam totalmente, mas estavam muito felizes de ser algo inédito e exclusivo pra eles.
E o registro foi gravado em São Paulo, mas você é de Porto Alegre… então, me conta, qual sua conexão com a cidade e se você pensa em fazer algum registro ao vivo na sua cidade natal em algum momento?
Eu moro em São Paulo há 8 ou 9 anos, e a primeira vez que eu vim pra cá foi em 2009/2010 quando eu vim gravar meu primeiro disco, eu era um gurizinho, mas desde aquela época eu sabia que São Paulo era o centro de tudo, dos estúdios, músicos, rádios, televisões…tudo acontece aqui.
E sem nunca imaginar, eu vim morar aqui e as coisas começaram a sorrir pra mim, conheci o Rick Bonadio, veio “O Sol”, que abriu muitas portas pra gente… Então fazer o show aqui foi uma escolha natural, porque é o centro de tudo, é onde eu moro, onde está toda a minha equipe, além de ser um local fácil para os fãs de outras cidades e estados virem, mas eu pretendo gravar um projeto em Porto Alegre ou Novo Hamburgo, que foi onde eu cresci…Mas, sem dúvida, o que eu mais quero é gravar algo no Marambaia, onde eu aprendi a surfar. Meu sonho é fazer algo lá, tocar na praia em um show aberto pra todo mundo.
E nesse projeto, você juntou diferentes nomes pra participações especiais, desde pessoas do rock, como o Samuel Rosa, até L7nnon e Jorge e Mateus, estilos totalmente diferentes. Você tinha receio de pessoas que te viam mais como um músico do rock, verem participações de trappers e sertanejo com maus olhos ou você sempre se colocou como alguém que não tem barreiras musicalmente e sempre encontrou bastante receptividade do público?
Ah, eu sempre fiz música pela música mesmo… então, por mais que tenham pessoas que pensem dessa forma, cada um pensa de um jeito e o meu é diferente, eu gosto de tudo o que é música boa, tem sertanejo bom, tem rap bom, enfim… e eu acho que quando tu cria uma canção, tu imagina a pessoa ali. Por exemplo, quando eu e o Simão, meu amigo compositor, escrevemos “Porta Retrato”, a gente viu que tinha uma vibe country rock e pensamos já em chamar o Jorge e o Mateus. E por que não chamar? Eu acho que é sempre legal fazer essa mistura até para as pessoas que têm esse preconceito verem que o resultado pode ficar legal.
E quebrar barreiras é sempre bom, acho que quanto mais a gente estiver junto, mais damos um exemplo pra sociedade que união e respeito fazem a gente mais forte. Quanto ao público, por mais que tenha uma parte que é mais do rock, a galera que me escuta é mais de boa. Sinto que quem gosta do meu som, gosta de todo tipo de som.
E ainda sobre essas participações, quando o Samuel entra, vocês tocam “A Tal Canção Pra Lua”, mas também tocam “Saideira”, do Skank. Por que a escolha por essa música?
Essa é uma doidera, porque não estava nos planos (risos). A gente já tocava uma versão de “Saideira”, quando a gente se apresentava em bar e tocamos em outro show que fizemos na Audio, então no dia da gravação, a gente decidiu tocar, mas não ia entrar no álbum, era apenas pra galera que estava no show, só que ficou tão bom, que a gente colocou no DVD. E esse presente veio até nós graças ao Samuel. Ficou animal ter o registro com ele, mas foi improviso total, tanto que em um momento o Samuel sai correndo e a guitarra puxa o fio e dá pra ouvir que estamos cantando e rindo da situação, mas o resultado ficou bem natural, bem legal.
E pra fechar o assunto colaborações musicais, você já gravou com muita gente que admira e que te influencia, mas se você pudesse escolher qualquer nome da música, nacional ou internacional, que esteja entre nós ou não, pra gravar uma música com você, quem seria?
Nossa, tem tanta gente (risos), mas acho que o John Mayer seria muito bom… a Beyoncé também… Já no Brasil, eu gostaria muito de fazer uma parceria com o Armandinho, que foi meu padrinho na música, que produziu meu disco de 2012, e acho que IZA, Baiana System, Pitty… ah, tem muita gente, se eu for falar todo mundo…
Mas agora eu estou me perguntando, porque essa parceria com o Armandinho ainda não rolou…
Pior que se colocar eu e o Armando pra conviver um tempo, a gente faz um álbum inteiro juntos porque a gente tem muita conexão. Ia ser muito legal, mas o que eu sinto é que estamos esperando o momento certo pra fazer isso.
E entre os lançamentos dos registros ao vivo, você fez uma turnê de 2 meses pela Europa. A gente sabe que o público brasileiro é o mais caloroso do mundo, mas pra um músico brasileiro tocando lá fora, qual foi o público mais maluco, animado, que você encontrou e qual show mais te marcou nessa turnê europeia?
Portugal é um lugar que recebe a gente muito bem. A gente passou por Inglaterra, Portugal e Itália. O show em Londres foi muito legal também, mas o show em Portugal, especialmente o do Festival da Caparica me marcou mais, porque o povo tava jogando com a gente. Estava cheio e com as pessoas gostando de estar ali. A única diferença entre eles e a gente é que, como você disse, nós somos muitos calorosos, gritamos e isso é muito bom, mas lá, quando você vai falar fica um silêncio no público, sabe? Quando você vai contar uma história, a plateia fica toda em silêncio, como se fosse um teatro, e aí a música começa e volta aquela loucura.
Agora, pra fechar, você começou sua carreira em meados de 2009, mas foi com “O Sol”, entre 2017/2018, que você estourou pro Brasil inteiro até chegar nesse momento desse registro ao vivo gigante. O que o Vitor Kley de hoje diria pro Vitor lá do começo?
Ah, primeiro iria agradecer por tudo que foi tentado, testado, batalhado, por todas as pessoas que ele escolheu pra andar do lado dele… e daria uma dica pra tranquilizar o coração dele, eu falaria “véio, fica tranquilo, que tudo acontece no tempo certo, viva em paz, se dedica, aproveita e ame muito o que você faz, porque as coisas vão pro lugar certo na hora certa quando a gente vai atrás”. E claro que eu diria que eu tô muito orgulhoso… Muito doido pensar nisso.

Novidades para os fãs e música preferida
Durante a nossa conversa, Vitor Kley também falou sobre o ciclo de A Bolha estar se encerrando, afinal já são 3 anos trabalhando neste projeto. Perguntei se ele já tem planos para um próximo álbum, músicas prontas etc. e ele afirmou que a turnê deste álbum vai até o início do ano que vem, mas que já está pensando em conceitos e até pré-produzindo as músicas – e tem música pra caramba, segundo ele – que entrarão no próximo disco.
E eu aproveitei pra saber mais sobre uma das minhas músicas preferidas, “O Dia de Amanhã”. Vitor contou que escreveu essa música para seu primo, Matheus, que faleceu num acidente de carro e que era uma pessoa muito alegre. Por isso a música, por mais que fale de uma história triste, é uma melodia agitada e pra cima. Nesse momento, Vitor confessou que está é uma das suas faixas favoritas, mas que atualmente sua criação preferida é “Meu quesito é saber viver”.
E a sua música preferida do Vitor Kley, qual é? Deixe um comentário e não esqueça de dar play n’A Bolha ao vivo em São Paulo.
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Gosto muito do trabalho do Vitor kley e que bela entrevista, parabéns!!!