Que Ramones é a maior banda de todos os tempos, não há dúvida alguma. E obviamente, um show de Marky Ramone, um dos bateristas mais icônicos não só da história da banda, mas do punk rock como um todo, deixaria os fãs do quarteto nova-iorquino em verdadeiro êxtase.
A Blitzkrieg Tour 2023 passou por quatro cidades brasileiras: Porto Alegre, Curitiba, Londrina (PR) e, por último, São Paulo. A apresentação aconteceu no emblemático Carioca Club, no dia 15 de outubro, e atraiu uma grande quantidade de adeptos dos três acordes para ouvir, mais uma vez, os hits da banda que inventou o punk rock bubblegum.
Abrindo os trabalhos, a School of Rock subiu no palco da casa por volta das 18h. A banda, formada por integrantes bem jovens – adolescentes, eu diria -, despejou, com muita habilidade, uma série de covers, indo de Motorhead, passando por Dead Fish, Black Sabbath, Green Day e Offspring. Entregando uma apresentação com muita energia, a banda chamou a atenção do público, em geral formado por uma galera bem mais velha.
Em seguida, foi a vez dos santistas do Apnea subirem ao palco. A banda, formada por figuras importantes do hardcore brasileiro, como Maurício Boka, baterista do Ratos de Porão, e Nando Zambelli, ex-guitarrista do Garage Fuzz, segue impressionando com sua apresentação cheia de peso e melodia, com um stoner rock moldado por bandas como Fu Manchu. No setlist, músicas como Star King, Cruel, Peacefully e Bus Ride deram o tom da apresentação, em um Carioca Club já mais cheio.
Durante a apresentação, a Apnea tocou músicas do seu trabalho mais recente, o disco Sea Sound. Grande parte do público parecia não conhecer a banda e mesmo assim participou ativamente de todo o show, deixando a energia da apresentação ainda mais forte.
Depois do Apnea, foi a vez do Electric Punk subir ao palco. Também focada em covers, a banda tocou clássicos de bandas como Generation X, The Cramps, Dead Kennedys e Dead Boys. O ponto alto da apresentação foi a execução da primeira música autoral do grupo, intitulada Last Chance. Um verdadeiro prato cheio para os fãs do punk rock da década de 70.
Supla, nosso Papito, Charada Brasileiro, veio em seguida, com uma apresentação bastante energética e com um caráter quase teatral, bem característica desse personagem icônico da nossa música. O setlist do show contou com clássicos como Garota de Berlim e Supla Ego, além de um cover de Dancing With Myself, de Billy Idol, e uma versão inusitada de As It Was, de Harry Styles.
Marky Ramone
Por volta das 21h30, Marky Ramone subiu no palco com a banda. Sem muita conversa, o show já começou com clássicos: Teenage Lobotomy, Havana Affair, Commando (essas duas com participação ilustre de João Gordo nos vocais) e Rock n’ Roll High School. O público, pra lá de empolgado, cantava tão alto que quase encobria a banda.
Sem intervalos, a banda mandava uma música atrás da outra e, posso dizer com segurança, de todos os shows que vi no Carioca Club, aquele foi um dos que vi circle pits mais intensos. Parecia que os Ramones estavam completos ali no palco, com a formação clássica. Esse era o sentimento.
O setlist foi uma verdadeira antologia da banda, passando por músicas como Beat on The Brat, We’re a happy family, Rockaway Beach, Surfin’ Bird, Judy Is a Punk, The KKK Took My Baby Away, Pet Sematary, entre outras. Apesar de um público majoritariamente mais velho no show, era possível perceber a mistura de gerações na plateia, indo de pessoas de 40 a 50 anos, a jovens de 17, 20 anos. Ramones realmente é uma banda que une gerações e cujo público vem se renovando ao longo dos anos.
Durante o show, podia-se perceber que Marky Ramone ainda está em plena forma, apesar da idade, mantendo sua característica de ser o chimbal mais rápido do punk rock. Vê-lo tocando é uma verdadeira aula. E ainda tinha muito mais por vir.
Naquela noite de domingo, o público foi brindado por outros clássicos, como I Wanna be Sedated, Oh Oh I Love Her So, Cretin’ Hop e Sheena Is a Punk Rocker. De modo geral, o único intervalo do show foi o momento em que a banda saiu do palco para o bis. Faltava o maior hino, obviamente.
Os músicos voltaram para o palco após um intervalo de 10 minutos, mandando a clássica Blitzkrieg Bop. Ouvir aquela multidão gritando “Hey Ho Let’s Go” a plenos pulmões me fez sentir em um show clássico dos Ramones que eu nunca pude ver.
Foi uma verdadeira aula, que só comprova a seguinte máxima: quem não gosta de Ramones bom sujeito não é. Uma noite inesquecível, sem dúvida alguma.