No início de setembro o aguardado segundo álbum de Olívia Rodrigo foi lançado e a cantora parece não cair na maldição do segundo álbum que existe no imaginário dos fãs de música. Guts consegue ser tão bom ou até melhor do que o antecessor Sour, mesmo que a receita seja a mesma: músicas feitas por uma mulher cansada e revoltada. E é isso que o torna tão bom!
“Mas ela não tem apenas 20 anos?” vocês podem se perguntar e sim, Olivia é uma jovem de apenas 20 anos e suas revoltas e reclamações podem soar mais próximas da rotina da gen z (como os jovens da geração z se chamam) do que de qualquer outro grupo, mas se você é mulher e tem ou teve 20 e poucos anos vai entender e, melhor ainda, querer repetir os desabafos de Olivia – ainda mais porque nem sempre sair da casa dos 20 e poucos anos nos faz parar de repetir alguns erros, como voltar para o ex ou se apaixonar por um cara que não vale nada, e muito menos de nos revoltar e cansar das amarras sociais impostas às mulheres.
Logo no começo, por exemplo, na faixa “All-American Bitch”, inspirada em um ensaio de Joan Didion, Olivia faz uma crítica ao que se espera de uma mulher perfeita, aquela que esquece e perdoa, que é grata o tempo todo, sexy, mas nem tanto, linda, educada e sempre gentil. Não à toa a música eclode em um grito desesperado.
Mas deixando o papo sério de crítica ao patriarcado para a primeira faixa e para “pretty isn’t pretty”, que fala sobre a eterna busca pela perfeição, mais pesada para nós, mulheres, Guts volta seus esforços para falar de problemas mais comuns de uma forma mais divertida, mas não menos revoltada e ácida, como é o caso de “bad idea right?”, “love is embarassing” e “ballad of homeschooled girl”, sobre momentos embaraçosos e escolhas erradas típicas da juventude em melodias pop punk e refrões pegajosos.
E ainda sobre juventude, terminando Guts com “teenage dream”, Olivia Rodrigo se pergunta quando a idade deixará de ser um fator, mesmo demonstrando que já sabe a resposta já que o álbum todo foi sobre cobranças que nos fazem e que, inconscientemente, fazemos a nós mesmas.
Melodicamente, tanto nos destaques mais rock’n roll de Guts, quanto nas baladas em piano, como a já clássica faixa de seu primeiro álbum, “Drivers Licence”, e o primeiro single de divulgação do segundo álbum, “Vampire”, Olivia Rodrigo se mostra uma poderosa voz feminina do rock de sua geração.
E antes que você, millenial ou boomer se levante contra, lembre-se de que tivemos Joan Jett, L7, Hole, Alanis Morissette e Avril Lavigne muitos anos antes.
Seja lá de qual geração for, de Bad Reputation a Guts, uma coisa é certa: não há nada melhor do que músicas feitas por mulheres cansadas e revoltadas*, mesmo que o rock hoje seja mais pop e a forma de se consumir essas músicas tenha mudado tanto com o passar dos anos.
*Ps.: isso não quer dizer que vocês, homens, devem tornar tudo pior pra gente. Obrigada.