Em sua nona edição, o Coala Festival 2023 levou ao Memorial da América Latina nomes importantes da música brasileira como Novos Baianos, Jorge Ben Jor e Péricles, e nomes novos, como Febre90s e Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo, nos seus 3 dias de festival.
Para além da música, Coala foi show de organização
O Coala foi um festival extremamente bem pensado e organizado, e quando falamos disso, não se trata só de trazer boas atrações musicais, o que já é reconhecido há anos por sua excelente curadoria, e que com certeza levariam um grande público para o evento, mas também em organização.
Tudo foi bem pensado, como, por exemplo, a distribuição do espaço e separação dos palcos, que eram localizados cada um de um lado do Memorial, porém, a passagem de um palco para o outro não levava mais de 5 minutos, o que garantia que você não perderia nenhuma atração.
A preocupação com comidas e bebidas de boa qualidade e com diversas opções diferentes também foi muito importante – eu, por exemplo, pude provar alimentos de alguns estandes de marcas já conhecidas como Bullguer e Chimi, e os lanches estavam ótimos e com um preço muito semelhante ao já praticado nas duas redes.
As ativações de marcas eram bastante interativas e simples, e quem chegava mais cedo no festival conseguia participar sem enfrentar filas praticamente. No domingo, participei de ativações da 99, Mate Leão, Mykes e Amstel e todas foram super rápidas. Ainda havia distribuição de água e de chá gelado em alguns momentos do dia.
A limpeza dos banheiros, uma das grandes reclamações do público de festivais, também estava impecável, praticamente a cada uso das cabines, a equipe de limpeza do Coala fazia uma higienização do local rapidamente.
Com todos esses pontos, a experiência no Coala Festival se tornava completa, e você conseguia realmente se divertir e acompanhar as bandas que tanto queria ver sem precisar se estressar e se preocupar com outras coisas. Sendo assim, pode-se dizer que o Coala foi o melhor festival do ano em relação ao cuidado e respeito com o público.
Legal, mas, e a música?
Na parte musical, o Coala foi dividido em 2 palcos. Em um dos palcos, 3 selos de música eletrônica comandaram a programação, e no outro palco, principal, shows com bandas e DJ Sets ou MCs se intercalavam nas apresentações apresentações, então, tinha música o tempo todo e para todos os gostos.
Os shows de maior destaque no Coala Festival 2023
Boogarins
O Boogarins subiu no palco do Coala para lembrar aqueles que não viam a banda há algum tempo o porque são considerados uma referência não só no Brasil, mas no mundo todo, quando se fala de música psicodélica.
Bebendo da mesma fonte de bandas como Tame Impala, os Boogarins gostam de tocar alto, cativar o público e prender a atenção de todos com uma bela apresentação, que foi marcada por músicas como “Lucifernandis”, “Avalanche”, “Te Quero Longe” e “Onda Negra”, que teve até uma “estrelinha” por parte do vocalista Dinho, mostrando o quanto a banda estava se sentindo em casa.
O Boogarins tocou cedo e numa sexta feira, dia útil, então não teve um enorme público, mas, com certeza, quem conseguiu chegar mais cedo para vê-los, teve uma experiência incrível.
FBC
FBC é um artista que ganhou espaço não só no RAP, mas em diversas outras “bolhas” musicais por sua versatilidade. Ouvindo cada álbum, você percebe o quanto a história foi construída e estudada pelo artista, e no Coala Festival 2023, FBC pôde apresentar o seu mais recente trabalho “O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA”, e foi muito interessante ver a dinâmica de palco de FBC com banda completa, metais e backing vocals, que preencheram perfeitamente o ambiente e a música do cantor.
O público ficou muito contente com os hits “Madrugada Maldita”, “Antissocial”, “O que te faz ir para outro planeta?” e “Qual a chance”, música que FBC dedicou aos apaixonados presentes e fechou sua apresentação como uma das melhores do primeiro dia de Coala.
Péricles
Péricles subiu ao palco e deu um show de irreverência. É incrivel como a sua música e o seu carisma conseguem cativar o público e criar um ambiente de muita alegria na plateia.
Desde um setlist que trata com carinho os fãs mais antigos da sua carreira até os mais novos, passando pelos sucessos da época de Exaltasamba até os brilhantes hits de sua carreira solo, a experiência de ver Péricles ao vivo ainda conta com as coreografias dele e sua banda, o que deixam a apresentação ainda mais divertida e aproxima o público do grande artista.
Eu, como um fã da sua fase Exalta, fiquei muito contente em ouvir músicas como “Jogo de sedução”, “Falando Segredo”, “A gente bota pra quebrar” e “Livre pra voar”, mas, além disso, ainda deu tempo de Péricles trazer Tim Bernardes para cantar “Melhor eu ir”, homenagear Arlindo Cruz e Marilia Mendonça e fechar com uma canção de Tim Maia.
Fafá de Belém e Johnny Hooker
Fafá abriu seu lindo show com “Vermelho”, já para quebrar o gelo e trazer o público pra si com muita comemoração e cantoria. A voz da cantora ainda é tão potente, mesmo depois de uma extensa carreira, tanto que ela canta com o microfone bem distante da boca, técnica que só pessoas de vozes muito fortes conseguem alcançar com excelência.
Ela se mostrou emocionada em quase todo o show, enquanto conversava com o público entre uma música e outra, disse que estava nervosa com o grande público presente, mas muito feliz de estar sendo tão aplaudida. Jhonny Hooker fez uma participação mais que especial no show, cantando junto com Fafá as músicas “Volta” e “Abandonada”.
Fafá fechou sua apresentação com “Núvem de Lágrima” e levou o público à loucura, fechando sua apresentação com chave de ouro.
Olodumbaiana (Olodum e Baiana System)
A OlodumBaiana, junção dos grupos Olodum e Baiana System, foi a última atração da sexta-feira de Coala Festival 2023, e quando se imaginava que o público já estaria cansado, afinal, havia-se passado um dia todo de festival, veio a explosão de energia. E que energia! Em alguns momentos, tive a impressão de que o chão do Memorial da America Latina tremia, de tanto que o público pulou e abriu rodas na apresentação.
Essa catarse fantástica faz com que os grupos juntos encantem até quem ousa não gostar da música. “Nossa Gente (Avisa lá)” de Olodum, e “Lucro” de Baiana System, foram as músicas que mais me chamaram a atenção nessa troca tão genuína entre bandas e público, algo realmente emocionante.
Don L
Don L abriu as apresentações do sábado e foi mais um rapper que subiu ao palco com banda, mas, ao contrário do que FBC fez na sexta, ele não teve tanto sucesso assim. Don L enfrentou alguns problemas técnicos durante sua apresentação, o que fez ela ser resumida, e em alguns momentos senti que as pessoas que aguardavam muito o show do artista, por conhecerem sua imensa qualidade e incrível discografia, acabaram se dispersando um pouco por conta da demora e do extremo calor que fazia em São Paulo. Mesmo assim, houve tempo para o rapper apresentar hits como “Morra bem, viva rápido”, e “Pânico de nada”.
Jards Macalé e Ana Frango Elétrico
O lendário ator, cantor e compositor Jards Macalé fez um show muito interessante para um grande público no Coala. Ele subiu ao palco e logo na primeira música já debateu com sua banda sobre como a música deveria começar, e fez isso em alguns outros momentos do show também, tudo aberto no microfone para todos ouvirem, o que eu achei bem cômico, na verdade, e nada arrogante por parte de Jards, que arrancava risos da plateia com sua falas e histórias de vida.
Além desse jeito “diferente” em cima do palco, o show de Jards prendeu atenção do público por fazer um som diferente de tudo que seria visto aquele dia no festival, muitíssimo original e agradável aos ouvidos. Além disso, Ana Frango Elétrico, uma expoente da nova música brasileira subiu ao palco para cantar com Jards.
“Revendo Amigos” e “Hotel das Estrelas” foram as músicas mais celebradas na apresentação do artista.
Simone
Simone foi um dos pontos altos do sábado de Coala Festival 2023. A cantora foi assistida por um enorme público, e que finalmente entrava no clima do que foi visto na sexta à noite, com muita energia, principalmente vinda do público feminino, que parecia ser maioria no festival.
Simone entrou no palco com uma guitarra “Flying V”, combinando com seu figurino e fazendo uma abertura bem rock n’ roll, e cantando “O tempo não para”.
“Jura Secreta”, “Separação”, “Tô voltando” e “O Amanhã” fecharam a apresentação da cantora que teve participações especiais de Jota Pê e Juliana Linhares.
Novos Baianos
Finalmente chegava a hora da atração mais aguardada do sábado de Coala: os Novos Baianos, de Baby do Brasil, Paulinho e Pepeu, subiram ao palco para encantar e emocionar a todos apresentando o seu show de 50 anos (atrasados) do álbum Acabou Chorare, de 1972.
“Anos 70” abriu a apresentação e, quando Baby do Brasil soltou a voz, o memorial foi abaixo com tantos aplausos e gritos de alegria. “Dê um rolê”, foi cantada tão alto pela plateia que o som se confundia com o som da banda, e Pepeu Gomes deu show em “A Menina dança” e “Samba da minha terra”.
Em seu show, os Novos Baianos contaram a história da música e cultura do Brasil, e fizeram um fim de sábado perfeito de Coala Festival.
Sophia chablau e uma enorme perda de tempo
Sophia inaugurou os shows de domingo do Coala, e como a própria vocalista disse, é incrivel ver uma banda de rock tocando num festival mais voltado a outras vertentes, bem no início do festival, às 13h15, num sol absurdo, com um bom público cantando todas as músicas, inclusive as do novo álbum da banda que não tem nem 3 semanas de lançamento.
A banda estava muito animada com o momento que estavam vivendo ali, e mesclaram músicas de seu mais novo lançamento com as músicas de seu primeiro álbum, homônimo.
Do novo álbum, me chamou a atenção as performances de “Segredo” e “Minha mãe é perfeita”. Já de seu álbum anterior, as muito adoradas “Delicia/Luxúria” e “Debaixo do pano” foram muito comemoradas e dançadas pelos presentes num show que pode ter sido um divisor de águas para a jovem banda.
>>Relembre aqui o show de Sophia Chablau e uma enorme perda de tempo no Locomotiva Festival 2022
Letrux
Letrux faria seu show com participação de Angela Ro Ro, mas, um mal-estar impediu que a Angela estivesse no palco do Coala Festival, porém, apesar da frustração, o público não se abalou e Letrux fez um show explosivo, cheio de performances da cantora que parece em cada música interpretar uma pessoa diferente, de forma muito consciente, mas também bastante selvagem.
Em dado momento do show, Letrux pediu ao público que soltassem seus bichos e dançassem como bichos, e parece que o público levou a sério, e balançou muito ao som da artista.
Os destaques do show foram “As Feras, essas queridas”, “hypnotized” e “Que estrago”. E Letrux aproveitou para cantar a canção “A Mim e a Mais Ninguém” de Angela Ro Ro.
Marina Lima e Fernanda Abreu
Marina lima subiu ao palco e antes mesmo da primeira nota recebeu uma chuva de aplausos. Ela, com certeza, era uma das atrações mais aguardadas do domingo e o público, assim como Marina, deu tudo de si nesse show.
Foi uma apresentação, junto a Fernanda Abreu, lotada de hits da carreira de ambas, como “Acontecimento”, “À Francesa” e “Criança” de Marina, e “Você pra mim”, “Garota sangue bom”, e “Rio 40 Graus”.
As duas juntas ainda homenagearam Renato Russo e Cazuza cantando “Ideologia” e “Ainda é Cedo”, e Marina fechou a apresentação das duas com “Puro Disfarce”.
Jorge Ben Jor
E finalmente chegou o momento da grande atração do Coala Festival 2023: Jorge Ben foi o escolhido para fechar o festival e, em meio ao seu show, pensei em como eu estava assistindo uma verdadeira orquestra guiada pelo músico, e o privilégio que temos de ter artistas tão incríveis na música brasileira.
Jorge, durante o show, não exige todo o destaque para si, dividindo-o com sua banda de apoio extremamente capacitada, afinal, um grande guitarrista e intérprete precisa de uma grande banda ao seu lado.
Em meio às canções, ele vai mostrando um pouco mais de cada um. Pudemos ouvir um solo de contrabaixo, um solo de metais, de bateria, a banda toda junta, Jorge Ben sozinho, tudo em alto e bom som e com a qualidade que só a mpb poderia nos entregar.
Ficam de destaque as canções “A Banda Do Zé Pretinho”, “Magnólia”, “Jorge da Capadócia”, e “Chove, Chuva”.
>> Relembre aqui o show de Jorge Ben Jor no Festival Turá 2023
E assim se encerrou o Coala Festival 2023, que provou que é possível fazer um festival de grande porte com qualidade e cuidado com o público, e dando oportunidade para a música brasileira ser protagonista.
3 thoughts on “Coala Festival 2023: Uma aula de como se fazer um festival”