30 anos de In Utero: a obra-prima final do Nirvana
Leticia Pataquine 
No dia 21 de setembro de 1993, seis meses antes da morte de Kurt Cobain, o Nirvana lançava In Utero, que completa 30 anos e deixou alguns clássicos como “Heart Shaped Box”, “Rape me” e “All Apologies” além de ser a obra-prima final da banda que mudou o rock nos anos 90.
Inicialmente, o álbum se chamaria “I Hate Myself and I Wanna Die” (Eu me odeio e quero morrer), mas, por razões óbvias, Krist Novoselic, baixista da banda, sugeriu buscar outro nome para o álbum que, curiosamente, começou a ser pré-produzido durante a passagem do Nirvana pelo Brasil, em janeiro de 1993.
Inclusive, os brasileiros, apesar de presenciarem um dos piores shows do Nirvana na história, tiveram o privilégio de ouvir pela primeira vez duas canções de In Utero: “Scentless Apprentice” e “Heart-Shaped Box”.
Voltando à sua terra natal para finalizar o disco, o Nirvana foi praticamente forçado a se isolar em um estúdio no interior de Minnesota, visto que Kurt já dava sinais fortíssimos de que seu vício em drogas poderia colocar tudo a perder. Apesar dos cuidados da gravadora e da rapidez (duas semanas) com que a banda finalizou as gravações de In Utero, no período pós-gravação e o lançamento do álbum, Kurt teve duas overdoses.
O resultado final de In Utero não foi o que a gravadora queria, mas Kurt bateu o pé e se recusou a mexer no álbum novamente. E contrariando as expectativas da gravadora, o disco considerado mais “alternativo” que Nevermind foi um enorme sucesso e vendeu 180 mil cópias só na primeira semana, colocando o Nirvana no topo da Billboard.
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O In Utero
Polêmico desde sua capa, In Utero, cujo nome vem de um poema escrito por Courtney Love, traz em si diversas simbologias que remetem à fertilidade, sexo, nascimento e morte.
Nas artes da capa, é possível ver alguns desenhos retirados do livro The Woman’s Dictionary of Symbols and Sacred Objects, de Barbara G. Walker, o que alguns interpretam como mais uma crítica de Kurt, que era sempre a palavra final nas obras do Nirvana, ao sexismo na música, um dos pontos que mais o destacavam dos rockstars da época.
Mergulhando nas letras e melodias, por mais que Kurt tenha afirmado em uma entrevista na época que a maioria das composições de In Utero eram impessoais, é impossível não ligar a letra da faixa que abre o disco, “Serve the Servants” aos sentimentos do vocalista, que cresceu em uma relação familiar turbulenta e tinha acabado de se tornar pai.
A angústia adolescente valeu a pena/ Agora estou entediado e velho (…) Esse divórcio lendário é tão chato/ À medida que meus ossos cresciam, eles doíam/ Eles doeram muito/ Eu tentei muito ter um pai/ Mas em vez disso eu tive um papai/ Eu só quero que você saiba que eu/ Não te odeio mais/ Não há nada que eu possa dizer
A faixa seguinte, “Scentiless Apprentice”, é inspirada no romance O Perfume, de Patrick Susskind, e é mais pesada e barulhenta, talvez uma das que a gravadora não aprovou na época, junto de outras tão distorcidas e desesperadoras, como “Rape Me”, “Tourette’s” e a nada comercial “Very Ape”, que tem apenas 1 minuto e 55 segundos.
O disco oscila entre a raiva e a melancolia, com o hit “Heart-Shaped Box” e as grudentas “Dumb” e “Pennyroyal tea”, além de “Milk it”, cuja letra, hoje, parecia ser um pedido de socorro:
Olhe pelo lado positivo, suicídio/ Visão perdida, estou do seu lado/ Asa esquerda do anjo, asa direita, asa quebrada/ Falta de ferro, não estou dormindo/ Eu possuo meu próprio vírus de estimação
E se falarmos de melancolia, mesmo sem prever que aquele seria o fim do Nirvana, com o suicídio de Kurt meses depois, In Utero funciona como uma clássica, pesada e histórica carta de despedida com a faixa final “All Apologies”, uma das músicas mais lentas e tristes do Nirvana, cuja letra parece ser um pedido de desculpas real de Kurt e que termina com o repetitivo “All in all is all we are”, ganhando contornos ainda mais sombrios no acústico da banda.
Comemorações de 30 anos trazem edição comemorativa para colecionador
No dia 27 de outubro, via Geffen, uma edição comemorativa de 30 anos do In Utero será lançada, com 9 LPs ou 5 CDs em um box deluxe.
Essa edição comemorativa ainda trará o álbum original remasterizado, b-sides e faixas bônus, além dos registros ao vivo da turnê de In Utero.
O box para colecionadores está em pré-venda no site oficial da banda.
Bela matéria! Nirvana foi a minha babá no sentido de formação de gosto musical e apresentação ao rock e grunge. tenho um carinho gigantesco por esse álbum.