“Fale Comigo” apresenta uma premissa interessante, que busca reviver o espírito dos filmes de terror dos anos 2000, em que jovens enfrentam tormentos e perseguições de entidades demoníacas. No entanto, considerando o contexto de 2023, a obra também se propõe a dialogar com a geração Z, como vimos em outras produções recentes, como “Bodies, Bodies, Bodies” e os novos “Pânico” 5 e 6.
Os diretores estreantes Michael e Danny Philippou, conhecidos por seu canal no YouTube voltado para o público jovem, demonstram habilidade em alcançar esse objetivo. Mais do que um simples filme de terror, “Fale Comigo” tenta abordar temas profundos, como luto e vício.
Na trama, um grupo de adolescentes descobre uma mão embalsamada com poderes mágicos que lhes permite entrar em contato com o mundo espiritual. Sophie, interpretada pela ótima Sophie Wilde, é uma das personagens centrais e entra em uma busca desesperada por reconexão com sua mãe, que faleceu dois anos antes. Esse é um arco dramático pouco explorado em filmes de terror, e a ambiguidade da mãe como personagem se torna um ponto intrigante pouco explorado no roteiro. A jornada de Sophie a leva a se tornar viciada na busca por contato com o além, como uma droga, e ela acaba arrastando seus amigos, especialmente os irmãos Jade (Alexandra Jensen) e Riley (Joe Bird) para esse caminho sem volta.
Produzido na Austrália, o filme chamou a atenção em festivais e teve a distribuição garantida pela renomada produtora A24, conhecida por obras como “A Bruxa” e “Hereditário”. A crítica especializada também se impressionou, fazendo de “Fale Comigo” um dos filmes de terror mais aguardados do ano.
Embora “Fale Comigo” não seja um típico filme de terror cheio de sustos e assombros, sua narrativa ágil mantém o espectador vidrado na tela. O filme oferece sequências impactantes que gradualmente se tornam mais violentas e sangrentas à medida que o contato com o mundo espiritual se adentra. Algumas cenas podem ser consideradas perturbadoras e desconfortáveis, surpreendendo o público de um jeito inesperado, como a cena envolvendo pés (digna de um filme do Tarantino), que pode deixar quem tem podofobia enojado, além da peculiar interação entre um dos jovens e o cachorro da família.
O final do filme pode dividir opiniões, pois é confuso e deixa algumas questões sem resposta relacionadas às decisões conflitantes de Mia. No entanto, com um prelúdio e uma continuação já confirmados, “Fale Comigo” demonstra que sua indecisão entre explorar elementos de gore, drama ou terror psicológico pode se transformar em um trunfo de sucesso. Algumas peças do quebra-cabeça permanecem soltas, sugerindo o surgimento de uma franquia com potencial para se tornar terror cult.
“Fale Comigo” ainda está em exibição em alguns cinemas brasileiros, e estará disponível para compra e aluguel a partir do dia 28 de setembro, nas principais plataformas digitais.