Resenha por Letícia Pataquine e Flavia Carvalho
O Oxigênio Festival 2023 aconteceu no último fim de semana e, em dois dias de evento, mais de 24 shows ocuparam os palcos, que inicialmente seriam montados no Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, mas faltando menos de 10 dias, precisou mudar de lugar, indo para um parque industrial na Barra Funda, zona oeste.
O local
Em 2022, primeiro ano do festival em um local parcialmente coberto, os palcos ficaram expostos ao sol e à chuva… e choveu muito no segundo dia, gerando algumas reclamações do público, que era acostumado ao Via Mattarazzo, mas as reclamações foram mínimas perto de quem tinha curtido muito a nova disposição dos palcos e das ativações de marca ao longo do festival.
Mudando de local faltando poucos dias para o evento é natural que algumas coisas saíssem diferente do esperado, como o caminho entre um palco e outro estar muito apertado no sábado à noite, quando as bandas mais aguardadas do line up se revezaram.
Mas assim como a chuva no ano passado, que também resolveu aparecer este ano, acompanhada de um frio de 13 graus, os contratempos e questões negativas foram quase imperceptíveis perto do calor e da empolgação do público e da equipe do festival, todos empenhados em fazer dar certo mais uma edição do festival queridinho do público underground.
Os shows
Assim como em 2022, o festival diversificou o line up, trazendo bandas de ska, nacionais e internacionais, como Sapobanjo e The Slackers que colocaram os emos e punks pra dançar no sábado, além de nomes mais famosos na mídia, como Day Limns e Leela, com bandas novas pra ficarmos de olho, como Uelo, The Zasters e Refugiadas.
Do punk rock de Blind Pigs ao emocore de Hevo84 e o pop punk da MIA, foi difícil escolher entre as 24 atrações aquelas que marcaram mais nosso fim de semana, mas a gente tentou. Confira nossa lista a seguir.
PS: a ordem da lista é referente aos dias, primeiro os shows de sábado, depois os de domingo.
Os 10 shows mais marcantes do Oxigênio 2023
1 – Lylith Pop
Nem só de nomes consagrados no hardcore e punk vive o Oxigênio, que traz suas surpresas, e uma delas foi Lylith Pop, cantora que abriu os trabalhos no palco principal do festival e, apesar de fazer um show às 14h, deixou a tarde que já estava cinzenta por causa do frio mais sombria, no bom sentido. Sua banda tem visuais que misturam o punk e o glam rock e Lylith mistura em sua performance as divas do pop e do rock, além de se destacar pelo vozeirão e pelo carisma ao interagir com o público, que teve sorte em ir cedo ao festival e prestigiar esse show.
2 – Blind Pigs
Um dos retornos mais esperados não só ao festival, mas aos palcos de fato foi o da banda punk Blind Pigs, um nome histórico na cena e que tinha se separado há 10 anos, mas ensaiava um retorno, que não poderia ter ficado para outro evento que não fosse o Oxigênio.
Emocionante, os “porcos cegos” fizeram um show nos moldes do punk clássico, com muito coro do público, muita roda punk e muito discurso político. E Henrique deixou claro: nos shows do Blind Pigs você é bem-vindo seja qual for a sua tribo, a não ser que seja um supremacista branco. Isso é tão verdade que Badauí, maior nome do hardcore melódico do Brasil, foi o convidado especial da banda em uma das músicas.
3 – Dead Fish
Fazendo o que fazem de melhor, o Dead Fish não inovou, mas isso não é demérito, já que o sábado a noite foi tomado por uma multidão de pessoas que sabem cantar todas (ou quase todas) as músicas do atual setlist da banda, que tem passado por todas as fases desses 32 anos de carreira.
Em meio a hits que estão em todos os shows, surpresas no setlist e discursos políticos, foi incrível ver essa potência do hardcore ao vivo novamente no festival mais importante do gênero.
4 – Samiam
Aquele show que você pode chamar de aula. Assim foi o show do Samiam, headliner do primeiro dia de Oxigênio, e eu nem falo isso porque os integrantes tem cara e se vestem como professores universitários. É porque a banda de El Sobrante, na California, é uma entidade no hardcore melódico com mais de 30 anos de carreira e que, com uma apresentação simples, mandando uma música atrás da outra sem quase nenhuma pausa para discursos ou agradecimentos extensos, embalou a noite de uma geração inteira que esperava pelo retorno dos caras ao Brasil. O set focou nas músicas do excelente “Stowaway”, lançado este ano, mas trouxe clássicos também, como “Dull“, “Sunshine” e “Full on“.
5 – Bad Luv
A banda Bad Luv é relativamente nova, nasceu no berço da pandemia, em pleno 2021, mas já vem conquistando o público cada vez mais em cada show. Muito disso se deve à expertise dos integrantes que já vêm de outras bandas conhecidas e amadas pelos fãs da cena, como Black Days e Nx Zero. O Bad Luv aproveitou oxigênio para anunciar o novo vocalista Bruno Tubino após a saída do vocalista anterior, Stéfano Loscalzo. O novo vocalista agradou o público e combinou muito com o estilo da banda. Já queremos ver mais shows com ele. Outra substituição que aconteceu para o oxigênio foi a participação de Isadora Sartor para substituir o Murilo Amancio que não pôde tocar.
6 – Hevo84
A banda Hevo84 já foi uma das febres no cenário emo/pop-rock nacional em meados de 2011, com muitos singles que fizeram parte de trilhas sonoras de novelas e músicas que tocavam nas rádios. Hoje, apesar de não estar em tanta evidência, a banda segue produzindo novas músicas e com o mesmo fôlego de antes. O lado bom se assistir a um show da Hevo84 é que não dá nem tempo de descansar porque a gente quer cantar junto todas as músicas. É uma sensação de nostalgia muito boa. Fora que ver a banda tocar a música Oxigênio em pleno festival Oxigênio rendeu bons trocadilhos. E, ó, teve gente que achou que o show nem ia lotar… ledo engano, tinha muita gente lá para ver Hevo84!
7 – Granada
Outro grande reencontro que o festival Oxigênio promoveu foi o da banda Granada, que subiu ao palco do festival no domingo com a sua formação original. O show contou com grandes sucessos da carreira da banda liderada pelo vocalista Yuri Nishida. Mesmo com a chuva castigando do meio para o final do show, muita gente não se importou e permaneceu lá na frente dando a maior força para os caras, o que mostra que realmente certos amores nunca morrem. Fora que ouvir “Erros em Comum” depois de tanto tempo dá um quentinho no coração capaz de nos fazer aguentar qualquer temperatura fria.
8 – Zander
Aqui a gente poderia resumir com “Zander é Zander”, né? Tinha tanto fã esperando pelo show do Zander em frente ao palco que podemos facilmente dizer que foi uma das principais bandas do domingo. A banda, que está na estrada há pelo menos 15 anos, já conquistou o coração da cena nacional hardcore há muito tempo e, mesmo com mudanças de formação e novos projetos, os caras seguem com o mesmo DNA. Músicas como “Auto Falantes” e “Dialeto” não podem faltar. Gabriel Zander aproveitou também pra tocar “Aspirina” da Noção de Nada, além do hino “Depois da Enchente“, com um momento lindo da baterista Nico tocando violão na intro.
9 – Jonny Craig
Dono de uma da vozes mais icônicas do post-hardcore, Jonny Craig desembarcou no Brasil na última semana para fazer alguns shows, dentre eles, dois aqui em São Paulo, sendo 1 sideshow do Oxigênio no cine joia e outro no próprio festival. O primeiro não deu muito certo, o que gerou certa suspeita dos fãs em relação ao show de domingo, mas no final deu tudo certo. Jonny apresentou músicas de suas ex-bandas como Slaves e Emarosa, além de músicas de sua carreira solo. A voz de Craig é realmente surpreendente e mesmo nas músicas mais recentes, que beiram um estilo trap (não muito voltado para o público do Oxigênio), renderam elogios ao vocalista.
10 – Chelsea Grin
Um show tão perfeito que algumas pessoas na plateia levantaram a suspeita de “playback”, mas não era. Chelsea Grin é mesmo um fenômeno do metal moderno, tanto que foi a banda secreta do line up por uns dias e causou uma comoção nas redes ao ser anunciada. O show realmente se assemelha a ouvir a banda no álbum (em um volume absurdamente alto), com os integrantes focados em não errar nenhum acorde e sem muita interação com os fãs, pirotecnias ou performances enérgicas. Mas não precisava, pois só as músicas já levaram os fãs à loucura, em um show pesado do início ao fim. E o vocalista, Tom Barber, impressiona pelos vocais impecáveis.
Bônus: A volta do Rancore ao Oxigênio e os melhores shows do fim de semana
Achou que não ia ter Rancore na nossa lista de shows mais marcantes? Achou errado!
Uma das atrações mais esperadas, o Rancore esteve presente nos dois dias de festival, afinal são 10 anos dos fãs pedindo pela volta da banda.
Mesmo fazendo o retorno oficial um fim de semana antes, no Agulha Sounds, que aconteceu dia 20 de agosto na Augusta Hi-Fi, os shows da banda no Oxigênio eram muito aguardados, afinal o espaço desse primeiro show era bem menor do que o espaço do festival.
Mas, contrariando as expectativas, o Rancore não foi headliner em nenhum dos dois dias. No sábado, a banda tocou no meio da tarde, próximo das 17h, entre os shows de Sapobanjo e Colid; já no domingo, a banda tocou após as 20h, mas antes das atrações internacionais Jonny Craig e Chelsea Grin.
No sábado, a atmosfera do show foi hipnótica. Todos olhavam para o palco como sem acreditar que aquele momento parecia estar acontecendo de verdade. E a própria banda parecia sentir o mesmo, com Teco mais contido no início do show, mas se soltando músicas depois e sendo o Teco que todos conhecem, chegando até a ficar de cueca antes de chamar a participação especial de Lê, do Gritando H.C., para cantarem juntos “Quarto Escuro”.
No domingo, a energia se intensificou, muitos chegaram a comentar que o vocalista Teco Martins parecia se sentir ainda mais à vontade no segundo dia – e muito à vontade, diga-se de passagem, porque fazia 13º e o “homi” lá sem camisa. Mas não houve tempo ruim que esfriasse a vibe do show, mesmo aqueles que haviam comparecido ao festival no dia anterior pareciam estar vendo a banda pela primeira vez em tempos, talvez tenha sido o tamanho da saudade. Só quem viveu o movimento #voltarancore sabe a sensação. O setlist dos shows foi bem focado nas músicas mais conhecidas do público, perfeito para festivais.
Ouvir o festival Oxigênio inteiro cantar “Respeito é a Lei” foi tão gratificante que mesmo após o show ainda tinha muita gente fora de si, naquela sensação gostosa que só um “pós-rancore” pode promover.
Mesmo com o frio que fez nos dois dias, o show do Rancore foi quente e aqueceu bem mais que os corações dos fãs, que pularam, deram stages dives, abriram rodas punk e curtiram ao máximo.
Por aqui, fica o nosso agradecimento e, claro, a ansiedade pelo Oxigênio de 2024, que já está com data marcada – dias 24 e 25 de agosto – e com blind tickets à venda.
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