“O meio do caminho”. Alguém que está no meio do caminho pode estar longe demais do começo e perto do fim desse caminho ou vice-versa, mas o meio do caminho não deixa de ser o momento de olhar pra trás ao mesmo tempo em que se mira o que vem pela frente. E esse parece ser o momento da banda UmQuarto, que lança hoje seu segundo disco, intitulado “O meio do caminho”.
Mas, se quisermos pensar em Drummond, que dizia que “No meio do caminho tinha uma pedra”, essa pedra, no caso da UmQuarto, foi a saída repentina de dois integrantes no meio da produção do disco.
Talvez por essas transições de momentos e o isolamento da gravação em uma região serrana é que o álbum soe tão instrospectivo e reflexivo. Combinando com o título, o álbum parece falar sobre os diferentes caminhos e as mudanças do tempo, começando com uma batida dançante num prelúdio instrumental, evidenciando as bases psicodélicas da banda, e partindo para “O segundo instante” e “O que há de ser (será o que for)”.
“Infinita existência” parece ser um interlúdio, ignorando-se os 4 minutos da canção e focando no fato de que ela, só voz e violão, quebra a vibe indie do disco em duas, terminando com “O que há de ser” e retornando com “Carta para seus pais”, todas falando sobre o tempo, sobre o meio do caminho e seus possíveis finais – a morte, o (re)nascimento, a partida, a chegada.
Mas do que é feito um caminho e suas viagens sem as pessoas que nos cercam? “Toda vez”, essa sim com mais cara de interlúdio, com apenas 1 minuto e 26 segundos, é uma singela canção de amor que mais uma vez parte as seções dançantes e psicodélicas do álbum, já que vem seguida por “O Elasmotério”, faixa mais pesada, com as guitarras sendo as verdadeiras protagonistas.
E se aproximando do final, a narrativa do disco assume esse caráter, com a letra de “Mudanças”
Fechando o álbum, “A epifania do pássaro azul” tem cara de despedida, com guitarras pesadas em batidas repetidas com o vocal melódico que acompanha o álbum todo.
As gravações de No Meio do Caminho
As canções foram gravadas ao vivo, no formato power trio que existia até a pós-produção com a saída do guitarrista e do baterista. No meio do caminho da mixagem, a banda passou por essa mudança que trouxe os músicos Rafael Salib (guitarras e voz), Bezão (teclado e voz) e Rafa Nogueira (bateria e voz).
“Mesmo os novos integrantes não tendo participado das gravações originais no sítio, é nítido que eles estão inseridos na criação das músicas. Apesar das tensões que cercaram a gravação do álbum, tivemos muito momentos alegres e positivos. Parte dessa energia está inserida na música ‘O Segundo Instante’, que contém conversas gravadas durante intervalos entre as músicas.”
Mayer Soares, vocalista, baixista e um dos fundadores da UmQuarto
É possível notar a nova identidade da banda graças às novas gravações realizadas posteriormente e incluídas no disco, como as bases e solos de guitarra e o teclado. Embora a bateria não tenha sido possível regravar, Rafa Nogueira aparece no disco como voz principal nas canções “O Segundo Instante”, “Toda Vez” e “A Epifania do Pássaro Azul” e é backing vocal em todas as músicas, como também acontece com Rafael (guitarra) e Bezão (teclado).
Além disso, novos overdubs foram realizados, além de arranjos de voz para toda a banda cantar neste segundo álbum.
“O destino pode ser incrível, mas o meio do caminho é uma viagem interessante. Tínhamos um disco para lançar. Mas no meio do caminho, precisamos corrigir o curso para entregar um trabalho impecável. É uma transição entre o velho e o novo. Entre a antiga formação e a nova. No meio do caminho tudo acabou dando certo. Podemos dizer que só no nosso terceiro álbum que teremos o som de como nós somos de verdade. Mas esse meio do caminho é maravilhoso também”.
define Mayer
Atualmente, a UmQuarto, banda de Florianopolis, formada em 2020, é integrada por Rafael Salib (guitarra e voz), Rafa Nogueira (bateria e backing vocal), Bezão (teclado e voz) e Mayer Soares (baixo e voz).
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