Blood Red Shoes é uma dupla formada há quase 20 anos composta por Laura-Mary Carter, guitarra e voz, e Steven Ansell, bateria e voz. Eles se conheceram em 2004, quando os dois estavam cada um em seu projeto, e acabaram se juntando para formar uma nova banda.
A ideia inicial não era ser o que alguns chamaram de “The White Stripes ao contrário”, o que aconteceu foi que os novos membros da banda nunca chegaram a entrar porque Laura e Steven tiveram receio de que interferissem na química que os dois já tinham. Estava formada para sempre a composição do “sapatos vermelhos-sangue”.
Ainda soando como dois jovens fazendo barulho na garagem, com muita distorção alta e vozes estridentes, eles lançaram o primeiro álbum, “Box of Secrets”, em 2008 — foi por ele que conheci a dupla depois de ler sobre na extinta revista Love Teen (ou seria Rock Teen?), no mesmo ano.
Esse primeiro CD é barulhento e inimigo daqueles que amam baixo, mas é dele a faixa It’s Getting Boring By The Sea, que entrou na trilha sonora do filme Scott Pilgrim contra o Mundo, de 2010.
Blood Red Shoes contra o mundo
Rejeitados pela cena punk, a dupla continuou firme e forte. Suas influências vêm da cena underground de rock e grupos como Nirvana, Pixies e Sonic Youth. Como qualquer banda moderna e com muitas influências que vão do garage rock, noise rock até o punk e grunge, eles acabaram sendo classificados como indie.
Em 2010, saiu o segundo álbum, “Fire Like This”, menos barulhento, com canções um pouco mais comerciais e introspectivas e letras sobre auto conhecimento, relacionamento e tédio sem muita poética, mas bem escritas. A partir daí as rádios britânicas mainstream passaram a tocar o Blood Red Shoes embora, ao vivo, continuassem altos e barulhentos.
Quando questionados se eles gostariam de colocar instrumentos gravados nas apresentações ao vivo, para preencher o vazio que um bom baixo pode deixar, Steve respondeu que “nunca faria isso!”. Mas com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e, com a idade e experiência, a dupla começou a incluir baixo e sintetizadores nas músicas, o que acabou exigindo a presença de músicos de apoio nos shows, mas nada de gravação playback.
Maturidade e surpresas boas a cada álbum
Música barulhenta e rápida? Tem. Canções gritadas por Steve? Tem. Músicas mais lentas e dançantes cantadas só por Laura ou pelos dois? Tem também. A cada disco, a dupla não parou de se renovar sem deixar a essência garage e noise de lado.
Em 2011, o Blood Red Shoes veio ao Brasil no Festival da Cultura Inglesa e provou para uma plateia morna, e com poucas pessoas que os conheciam, que seu som, carisma e animação eram o suficiente para preencher um palco.
“In Time To Voices” foi lançado em 2012 e, nas palavras da dupla, foi neste álbum que jogaram fora totalmente o livro de regras de como escreviam e gravavam músicas. Eles queriam fazer um álbum que refletia como soavam ao vivo e conseguiram.
Laura-Mary Carter e o adeus à timidez
A guitarrista e cantora Laura-Mary Carter sempre foi tímida. No começo da banda, eles ensaiavam no escuro para ela se soltar melhor. Com os anos na estrada e mais músicas em que só ela canta, Laura ainda não é um exemplo de presença de palco como Steve, mas ela e sua guitarra começaram a ter mais destaque.
Depois do disco homônimo, “Blood Red Shoes”, 2014 (o primeiro álbum autoproduzido pela dupla), incluir novos instrumentos e experimentar sonoridades passou a ser mais natural para os dois, até que cinco anos depois chegou “Get Tragic”. As músicas mais pop e melodias bem construídas, mas ainda com distorção e bateria em destaque, fazem do disco o meu favorito.
Enquanto Laura deixava a timidez ir embora naturalmente, a dupla seguiu sem planejamento. Eles nunca idealizam a próxima música, simplesmente sentam e começam a tocar e escrever as letras. Talvez seja justamente essa falta de prepotência e liberdade autoral que faz o Blood Red Shoes seguir firme.
Fantasmas oitentistas
Em janeiro de 2022, foi lançado ou sexto álbum da banda, o “Ghost on Tapes”. Ele tem muita influência da Laura-Mary, que ama bandas dos anos 80 como Tears for Fears e Depeche Mode.
Além disso, as canções foram inspiradas em podcasts de crimes e assassinatos com letras narradas na perspectiva de personagens com psique sombrias.
O Blood Red Shoes é uma dupla versátil, com poucas curtidas no Instagram e Facebook, mas popularidade não é sinônimo de qualidade, pelo menos quando estamos falando desses ingleses.
Aproveita para ouvir essa dupla energética na sua plataforma de streaming favorita e depois conta aqui o que você achou!