Com o fim do isolamento social, os anos de 2022 e 2023 já estão marcados como os anos em que mais artistas vieram ao Brasil, alguns pela primeira vez em muito tempo, como o caso do Epik High, trio de hip hop coreano que, depois de 20 anos de carreira, finalmente fez uma turnê pela América Latina, incluindo entre os destinos São Paulo, onde deram ao Vibra SP, uma das maiores casas de show da cidade, um ar de show underground.
Diversão, histórias e muita água: o show do Epik High em São Paulo
Marcado para as 20h30, o show começou alguns minutos depois, e sob os gritos de uma plateia que espera há anos pelo grupo – inclusive a hashtag “EpikHighisFinallyHere” foi criada nas redes sociais – o trio composto por Tablo, Mihtra Jin e DJ Tukutz subiu ao palco do Vibra ao som de “Here”, prelúdio do álbum Epik High is Here (entendeu a hashtag agora?) que antecede a faixa “Prequel”, que também foi tocada na sequência no show.
E “Prequel” inaugurou o show muito bem. O refrão em inglês, com versos sobre superar obstáculos, levou todo mundo a cantar junto com Tablo e Mihtra Jin, e a gritar a frase que encerra a música, dá nome ao álbum, inspirou a hastag e parecia ser um alívio para os fãs que estavam no Vibra aquela noite: EPIK HIGH IS HERE.
Esse clima de celebração por finalmente ver esse encontro acontecer não vinha apenas da plateia. Tablo, que é bem ativo nas redes sociais, já tinha feito diversos tweets sobre a viagem para o Brasil.
Mas no show, o frontman do Epik High aproveitou os intervalos entre uma música e outra para falar sobre a vontade antiga de tocar na América Latina. Tablo disse que anos atrás tinha vindo para o Brasil para trabalhos comerciais e prometeu para seus parceiros de banda que um dia eles deveriam ir para fazer um show e mesmo que tenha demorado muito mais tempo do que eles imaginavam, finalmente tinha acontecido.
Bem-humorado e apaixonado por contar histórias, Tablo comentou que mostrou fotos da praia para sua filha e ela queria vir para o Brasil, mas ele a lembrou que ela tinha escola no dia seguinte. E quando os fãs insistiram que ele se mudasse para o Brasil, ele respondeu que os fãs poderiam visitar a Coreia, avisando, é claro: “very long flight”, já que a viagem de avião levou mais de 20 horas.
As interações entre os músicos e a plateia seguiram divertidas, e o show de rap quase virou um stand up do Tablo, especialmente ao comentar as reações dos fãs que estavam na grade aos seus discursos (uma fã com muita raiva da Covid-19, que atrasou a turnê, e a dúvida de outra fã sobre o brasileiro ser realmente gentil ou não) e a confecção dos lightsticks (uma tradição em shows de k-pop) improvisados que os fãs levaram para o grupo.
E falando em k-pop, para fazer a alegria dos fãs mais recentes que conheceram a banda a partir do maior fenômeno de k-pop dos últimos anos, o BTS, o Epik High incluiu no setlis a música “All Day”, parceria de Tablo com Namjoon, integrante do BTS.
Mas a vibe k-pop para por ali. Ao contrário dos grupos do gênero, alguns deles que vieram ao Brasil e que pudemos ver o show, como Super Junior e NCT 127, o Epik High não tem coreografias (apesar de DJ Tukutz arriscar um breakdance de vez em quando) e muito menos possui um show roteirizado e com um certo distanciamento do público, fazendo totalmente o contrário, se jogando no público, dançando quando quer e transformando um show gigante, em uma casa com capacidade pra 7 mil pessoas, em um show com ar underground, com muita interação entre público e artista, especialmente nas inúmeras vezes em que Tablo e Mihtra Jin jogavam água no público (sério, foram mais garrafinhas do que pude contar sendo abertas e jogadas na plateia), como artistas que tocam em casas minúsculas fazem quando o público está todo suado e precisando se hidratar.
Mas voltando ao setlist, o grupo excluiu o último álbum, Strawberry, talvez, justamente por ser uma turnê histórica em um lugar nunca visitado antes, os rappers optaram por focar em grandes sucessos, alguns até bem diferentes do que eles normalmente fazem, como a mais antiga “Fly”, do álbum “Black Swan Songs”, de 2006, com uma pegada mais pop, e “Don’t hate me”, de 99, álbum de 2012, que é quase um hino pop punk do grupo de hip hop coreano e encerrou a primeira parte do show, depois do clássico “Born Hater”.
Inclusive, antes de “Born Hater”, uma música inusitada tomou conta do show: “Someone like you”, da Adele, tocada por DJ Tukutz e cantada pelo público enquanto Tablo tentava retomar seu discurso sobre o fim do show (por isso a trilha sonora triste), dizer que “We will saudade very much” e passar uma importante mensagem: “Don’t let the haters fuck with you”.
Talvez essa versatilidade sonora e o enorme carisma do grupo foram os itens que fizeram o show do Epik High em São Paulo, um evento esperado por tantos anos, passar muito rápido, deixando em quem estava presente um sentimento de que poderia ter durado mais do que duas horas.
E a gente não sabe quando o grupo voltará, já que o voo é muito longo, como Tablo não deixou de repetir, mas esperamos que a distância entre um show e outro, seja menor do que a distância entre Coreia e Brasil.
Setlist completo do show
- Here
- Prequel
- Fly
- Map the Soul
- Eternal Sunshine
- Rosario
- BURJ KHALIFA
- NO THANXXX
- All Day (RM cover)
- Rain Song
- Love Love Love
- One
- BORN HATER
- Don’t Hate Me
BIS
- EYES NOSE LIPS
- Kill This Love
- New Beautiful