O ano é 1986, o Brasil acaba de sair da ditadura militar, e os Titãs, banda paulistana formada por Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin, Paulo Miklos e Marcelo Fromer, que já tinham lançado 2 álbuns e feito um certo sucesso, especialmente com o hit “Sonífera Ilha”, lançam o álbum “Cabeça Dinossauro”, cravando para sempre seu nome na história do rock nacional.
Os anos passaram, a banda enfrentou diversas crises, mas lançou mais 14 álbuns, muitos deles com outros hits que fizeram história, além do Acústico MTV, e resistiu mesmo com a saída de muitos dos integrantes ao longo dos anos – Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto foram os únicos integrantes que permaneceram – e a morte de Marcelo Fromer em 2001.
Corta para 2023: o encontro dos Titãs
Depois de tantos anos, talvez até os fãs mais esperançosos se surpreenderam com o anúncio feito no início de 2023: os Titãs, em sua formação original, fariam uma série de shows pelo Brasil.
Meses depois de milhares de ingressos vendidos e datas e mais datas extras marcadas, São Paulo, a terra natal dos Titãs, recebeu no palco do Allianz Parque a aguardada turnê do encontro.
Com 3 noites esgotadas só em São Paulo, em um estádio com capacidade para 47.713 pessoas, a banda provou que o sucesso desse encontro vai muito além da simples nostalgia de fãs que queriam vê-los juntos de novo. Com uma megaestrutura, letras atemporais e muita presença de palco, o show foi uma celebração ao rock nacional.
Como foi o segundo show dos Titãs em São Paulo
O segundo show em São Paulo, no dia 17 de junho foi o primeiro a ser anunciado na cidade e a ter ingressos esgotados.
A apresentação dos Titãs, que contou com abertura das bandas Colomy e Sioux 66, estava marcada para as 20h30, mas só alguns minutos depois, com a ansiedade do público lá no alto é que os 7 integrantes subiram ao palco em uma entrada emblemática: o telão branco ao fundo contrastando com a presença deles ali, em preto, na frente, parados como se marcassem: estamos de volta.
Depois de gritos e mais gritos do público, os primeiros acordes de “Diversão” começaram.
Deixando de lado alguns grandes hits que foram trilha de novelas e são os mais escutados da banda nas plataformas de streaming, como “Isso”, “Porque eu sei que é amor” e “Enquanto houver sol”, o setlist tem sido o mesmo em todos os shows até agora, com algumas mudanças mínimas na ordem das músicas, e com um repertório que vai só até o álbum “Tudo ao mesmo tempo agora”, a fase mais punk dos Titãs, abrindo espaço apenas para hits do Acústico, “Epitáfio” e “É preciso saber viver”.
Assistindo ao show do sábado ao vivo e vendo o show de domingo que foi transmitido na TV, deu até pra entender o porquê alguns críticos disseram achar o show “engessado”, já que o set se repete, os discursos entre uma música e outra são parecidos, o jogo de câmeras e as performances dos integrantes também, porém, as críticas podem ter vindo de quem não soube se atualizar, como os Titãs souberam nessa turnê.
Quando falamos “megaestrutura” no título dessa resenha, por exemplo, não é exagero. O palco gigante tinha quatro telas imensas ao redor, além de um telão gigante ao fundo e diversas câmeras que captavam todos os integrantes. Essa estrutura só tornou o espetáculo que vimos naquele sábado ainda mais gigantesco e mostrou que os Titãs podem ter ali seus mais de 30 anos de carreira, mas souberam modernizar sua forma de fazer shows, integrando as tecnologias audiovisuais a um show de rock, coisas que vemos nos shows de Coldplay e até de ícones pop, como Rosalía.
Além disso, o público muda a cada show, mesmo que se mantenha apaixonado, o que transforma a experiência, tanto que a comoção em rever Nando Reis no baixo cantando “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” pode ter sido a mesma em todos os shows, mas, no sábado havia menos ressentidos políticos quando Nando comemorou o fim do governo Bolsonaro e incluiu o nome do ex-presidente na letra de “Nome aos bois”.
Além disso, o show do dia 17 teve um clima mais especial, pois, como dito, foi o primeiro show a ser anunciado e Sérgio Britto fez questão de ressaltar que aqueles fãs foram os primeiros a comprar ingresso para aquela turnê.
E estar em casa deixa qualquer banda à vontade, né? Fato que também foi comemorado pelos Titãs naquela noite. Tocar em todo o Brasil é especial, mas em São Paulo, na Pompeia, “berço do rock” – como disse Liminha, músico e produtor que atualmente toca guitarra com a banda -, foi ainda mais.
Uma noite de muitas homenagens
Sem Marcelo Fromer nessa reunião, a banda optou, como Arnaldo Antunes disse, não lamentar a falta dele, mas sim tornar o momento uma forma de lembrar da presença de Marcelo e de sua obra, convidando Alice Fromer, filha de Marcelo, para cantar “Toda cor” e “Não vou me adaptar”.
Aproveitando a voz feminina no palco, os Titãs homenageiam outro nome da música, Rita Lee, lembrada como “Santa Rita de Sampa” por Sérgio Britto antes de cantarem “Ovelha Negra”.
Outros homenageados foram Erasmo Carlos, compositor de “É preciso saber viver”, e o fã que fundou o primeiro fã-clube do Titãs e que, infelizmente, faleceu antes de poder ver a reunião dos ídolos.
Branco Mello e Arnaldo Antunes roubam a cena, mas plateia se emociona mesmo com a banda junta
A banda ficou bem disposta no palco, ocupando praticamente todos os espaços, apesar de ficarem mais para o lado esquerdo, mas, ali no meio, em uma estrutura mais alta, Branco Mello e Arnaldo Antunes se destacavam não só nos backing vocals de muitas músicas da era Cabeça Dinossauro, como também nas dancinhas, isso sem contar a emoção de rever Arnaldo junto da banda de novo e de ouvir Branco com a voz diferente, depois de passar por um câncer na garganta no ano passado, mas com a mesma paixão pela música.
Apesar de cada pessoa ter seu “titã” favorito, o que fez o público se emocionar de fato naquele dia 17 foi ver toda a banda reunida, visto os momentos em que os 6 – com Charles na bateria – apareciam abraçados e cantando junto no telão para todo o estádio.
E depois de Paulo Miklos contar que “Sonífera Ilha” fazia tanto sucesso na época de seu lançamento que eles tocavam duas vezes no show, uma no início e outra no final, a música é tocada e em seu encerramento só o que se vê é fã de Titãs voltando pra casa de alma lavada.
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