Fotos por Tamires Lopes e texto por Guilherme Goes
Formado em Los Angeles, Califórnia, no início dos anos 90, o Fear Factory revolucionou o cenário do heavy metal ao apresentar uma proposta original e ousada para os padrões da época: composições sobre temas como alienação, revolução tecnológica e contos distópicos fictícios em conjunto com riffs contundentes, batidas agitadas e vocais versáteis, passando entre o melódico e o agressivo.
A banda teve um impacto significativo dentro da cena de música pesada, sendo uma influência direta para muitos nomes do estilo “Nu metal”, um fenômeno que dominou o cenário mainstream no início dos anos 2000.
O grupo alcançou sucesso comercial e aclamação crítica com álbuns como “Demanufacture” (1995) e “Obsolete” (1998). No entanto, no fim da década de 2010, o Fear Factory enfrentou vários obstáculos, como mudanças em sua formação clássica e até mesmo uma disputa judicial pelo direito de uso do nome. Felizmente, esses problemas foram resolvidos em 2022, e agora os pioneiros do metal moderno estão seguindo com força total, contando com o novo vocalista, Milo Silvestro.
Após oito anos desde sua última apresentação em São Paulo, a referência suprema do Industrial Metal retornou à maior metrópole brasileira na última terça-feira (06).
O evento marcou a estreia da turnê “The Machine Will Rise Again”, que também passará por outros países da América Latina, como Costa Rica, Colômbia, Equador, Estados Unidos, México, Argentina, Peru e Chile.
Apesar das condições adversas, com frio, céu nublado e trânsito intenso na região oeste da capital paulista, os headbangers compareceram em massa para presenciar Dino Cazares e seus companheiros arrasarem no palco. Por volta das 18h, os bares locais já estavam completamente lotados, criando um cenário incomum para uma noite de semana na Rua Barra Funda.
Skin Culture
Pontualmente às 19h30, a banda Skin Culture, de Minas Gerais, deu início ao espetáculo. Combinando influências de djent, hardcore, breakdowns e vocais guturais, o grupo apresentou uma sonoridade moderna, semelhante à proposta do Fear Factory durante seus primeiros anos de atividade. O repertório não trouxe muitas novidades, girando em torno dos álbuns “Mudernation” (2015) e “Lazarus Eclipse” (2019).
Próximo ao final do set, o vocalista Shuck Miranda fez um discurso marcante, lembrando os 19 anos de existência da banda e agradecendo o apoio dos fãs. Em “Bring Me Back To Life”, o frontman emocionou novamente a plateia com uma belíssima homenagem ao ex-baixista Gabriel Morata e ao ex-empresário Silvio Palmeira, ambos vítimas da Covid-19. Apesar da brutalidade dos riffs e da energia no palco, os presentes pareciam um pouco tímidos, reagindo de forma contida e ignorando o pedido de Shuck para um moshpit.
Korzus
A casa estava completamente lotada, com uma das maiores audiências já registradas na Fabrique Club em um dia útil (de acordo com a experiência do redator que vos escreve), para assistir ao show do Korzus, um dos nomes mais importantes do metal brasileiro.
O set começou com uma intro instrumental, seguida pela porradaria thrash metal intensa da faixa “Guilty Silence”, que resultou na primeira roda mosh da noite.
Durante a apresentação, os efeitos visuais ganharam destaque, com chamas em movimento surgindo no telão de LED do clube, combinando perfeitamente com o cenário caótico da pista enquanto a banda executava faixas com blast beats explosivos e solos de guitarra arrebatadores, entre elas: “You Can’t Stop Me”, “Never Die” e “Truth”. Porém, o grande destaque foi a performance carismática do vocalista Marcello Pompeu, que interagiu bastante com o público, dedicou a canção “Beware” aos fãs veteranos que acompanhavam os shows do grupo na década de 90 no lendário clube underground Black Jack, e ainda declarou: “Enquanto houver um único headbanger vivo, o metal continuará pulsando”.
Foi uma apresentação extremamente animada, com uma excelente conexão entre os artistas e os fãs, que aqueceu o público perfeitamente para a atração principal!
Fear Factory
Com 20 minutos de atraso em relação ao horário oficial, os roadies finalizaram a montagem do equipamento e as alterações no cenário. Em seguida, a icônica trilha sonora do filme “Exterminador do Futuro 2” ecoou pelos alto-falantes, anunciando a entrada de Dino Cazares (guitarra), Tony Campos (baixo), Pette Webber (bateria) e Milo Silvestro (vocalista) no palco.
O set teve início com “Shock“, uma espécie de “Pré-New Metal” com trechos perfeitos para o “bounce” (um tipo de moshpit saltitante), levando o público à loucura já no começo. Dino demonstrou um domínio incontestável sobre seus seguidores, aproximando-se nas caixas de retornos e pedindo por uma reação máxima.
Felizmente, a empolgação continuou em “Edgercrusher“, com a plateia pulando de forma sincronizada ao ritmo pulsante das guitarras.
Na sequência, veio “Recharger“, permitindo ao novo vocalista Milo Silvestro exibir suas habilidades. O rapaz surpreendeu ao alternar entre guturais e vocais limpos, demonstrando sua versatilidade. Após uma breve pausa, Milo arriscou algumas palavras em “portunhol” e encantou os fãs novamente com “Soul Hacker”, demonstrando talento ao comandar rimas de rap em uma música com batidas pesadas e riffs ensurdecedores.
Milo se destacou como o frontman do grupo no início do show, mas Dino Cazares seguiu dominando o espetáculo. Durante as músicas “Powershift”, “Descent”, “What Will Become?” e “Linchpin“, o único membro original do Fear Factory correu e saltou pelo palco, iniciou conversas com os fãs e agitou rodas moshpits. Além disso, o guitarrista retribuiu a devoção dos fãs paulistanos ao tocar “Disruptor“, faixa do álbum “Aggression Continuum” (2021) que ainda não havia sido executada ao vivo. Em “Archetype“, ele assumiu um papel maior nos vocais, resultando em uma cena épica.
A energia no moshpit continuou intensa ao som dos singles “Demanufacture” e “Replica”. Próximo ao final, a banda destacou “Martyr” e “Scapegoat”, do álbum de estreia “Soul Of a New Machine”, dedicadas aos irmãos Cavalera do Sepultura. Após aplausos e uma sessão de urros animados, a escolha para encerrar o set foi “Resurrection”.
Os fãs paulistanos puderam constatar que a nova formação do Fear Factory funciona muito bem ao vivo. Milo Silvestro é um músico talentoso e exibe uma presença de palco poderosa. Dino continua arrasando e inovando em seu instrumento. Tony Campos e Pette Webber também são músicos habilidosos, que não ficam atrás dos demais integrantes que já passaram pela poderosa instituição do Industrial Metal.
Apesar das três décadas de carreira, a banda ainda promete lançamentos promissores, que certamente irão abalar a música extrema!
Fear Factory em São Paulo – Setlist
- Shock
- Edgecrusher
- Recharger
- Dielectric
- Soul Hacker
- Powershifter
- Disruptor
- Linchpin
- Descent
- What Will Become?
- Archetype
- Demanufacture
- Zero Signal
- Replica
- Martyr
- Scapegoat
- Resurrection