Definitivamente, o festival Best of Blues and Rock, que aconteceu entre os dias 2 e 4 de junho em São Paulo, foi um dos mais esperados pelo público. Com apresentações de grandes nomes como Tom Morello, Steve Vai, Buddy Guy, entre outros, a festa foi uma verdadeira celebração da música e o Musicult pôde estar presente nos três dias, mas deixe-me contar sobre o último deles, o fechamento do festival.
Day Limns e Ira abriram a programação do último dia do festival Best of Blues
No domingo (4), os trabalhos do festival começaram cedo, com a cantora Day Limns se apresentando numa tarde ensolarada, já reunindo uma quantidade considerável de pessoas no Parque Ibirapuera. Com a apresentação mais pop do dia, ela cantou diversas músicas do seu repertório, inclusive “Minha Religião“, lançada no dia 8 de junho, data em que completa 28 anos de idade.
Um dos momentos mais icônicos da apresentação, sem dúvida, foi o cover de “Mania de Você“, em homenagem a Rita Lee, icônica rainha do rock brasileiro, que nos deixou recentemente.
Em seguida, sem perder tempo, foi a vez do Ira! subir ao palco. A lendária banda paulistana, liderada por Nasi e Edgard Scandurra, trouxe um pouco mais de rock e distorção para aquela tarde de sol de domingo, abrindo o show com a clássica “Dias de Luta” para um público agora maior. A apresentação foi uma verdadeira sinergia entre banda e público, que pareciam um só, cantando hits como “Flerte Fatal“, “Pegue Essa Arma” e “Flores em Você“.
Um dos pontos altos da apresentação da banda foi o cover de “Foxy Lady“, de Jimi Hendrix, uma das principais influências do (também canhoto) guitarrista Scandurra. No público, um misto de pessoas que vivenciaram os primórdios do grupo, e outras mais novas que, assim como eu, nunca haviam visto um show do Ira!, que finalizou a apresentação com a clássica “Feliz Aniversário“.
Pouco tempo depois, em coletiva de imprensa, o vocalista Nasi destacou o quanto está feliz por voltar à estrada após as restrições impostas pela pandemia. “O Ira! é uma banda feita para estar na estrada”, disse. “Infelizmente essa crise esbarrou em diversos planos da gente, mas agora estamos de volta, nos apresentando nesse festival incrível, com representantes de uma cena tão ampla. Com 40 anos de banda, você passa a concorrer consigo mesmo e estamos sempre nos reinventando. Por isso, estamos lançando em vinil algumas demos de 83 e 84, pela Nada Nada Records, em um projeto super legal”, completou Scandurra.
Goo Goo Dolls agradou os mais românticos
O Best of Blues seguiu sua programação e, no fim da tarde, o Goo Goo Dolls subiu ao palco para sua apresentação. O som, que obviamente não faz jus ao nome do evento, agradou aos fãs de uma sonoridade mais “de balada romântica”, por assim dizer. Durante o show, o grupo formado em Nova York em 1986 passou por diversos hits da carreira, como “Here Is Gone“, “Yeah“, “I Like You“, “Better Days” e a conhecidíssima “Iris“, que fechou a apresentação de mais de duas horas.
Na coletiva de imprensa, realizada horas antes da apresentação e conduzida por Gastão Moreira, o vocalista Johnny e o baixista Robby falaram sobre a trajetória de quase 40 anos da banda, destacando marcos importantes, como a inserção do single “Wake Up Now” na trilha sonora do filme A Hora do Pesadelo 6, de 1991. Além disso, ambos falaram do prazer de voltar a se apresentar no Brasil.
“É sempre muito bom retornar ao país. As pessoas sempre falam da popularidade que temos aqui, e é muito bom sentir isso. Em nossa carreira, sempre mantivemos o sonho vivo e fizemos o que foi preciso para alcançar essa projeção. Fico feliz por termos conseguido e por sermos relevantes até hoje”, finalizou Johnny.
Buddy Guy protagonizou uma despedida emocionante
Um dos shows mais esperados da noite começou pontualmente às 18h45, quando Buddy Guy subiu ao palco empunhando sua belíssima Fender Stratocaster amarela. A apresentação, parte da turnê de despedida do ícone do blues, foi algo que, a meu ver, transcendeu o conceito de um simples concerto. A cada riff, cada nota, o guitarrista parecia estar em um transe que contagiava o público, que impressionado reagia o tempo todo soltando sonoros “p*ta que pariu!“.
Durante todo o show, o músico brincou com o público e fez questão de dizer o quanto ama o Brasil e as pessoas do país. E isso se refletia no semblante de Buddy Guy, que se comportava como um autêntico brasileiro.
Mesmo com idade mais avançada, a destreza do músico na guitarra era algo incrível. Em momentos específicos do show, tirou som do instrumento utilizando uma baqueta e, em seguida, uma toalha como palheta. E durante toda a apresentação, as pessoas no público o exaltavam. “Ele faz parecer tão fácil” foi a frase dita por diversos fãs e, posteriormente, por mim mesmo em vários momentos.
O repertório passeou por músicas como “Let My Guitar do The Talkin’” e um cover de “Boom Boom“, de John Lee Hooker. Ao fim do show, os filhos de Buddy Guy, Greg e Carlise, subiram ao palco para se apresentar ao lado do pai, com uma habilidade que com certeza não negou o DNA.
No último momento, Tom Morello subiu ao palco para um medley incrível, que encerrou o penúltimo show da noite.
Tom Morello encerrou o festival com energia e muito riff de guitarra
Às 20h30, o show que fechou o Best of Blues finalmente se iniciou: Tom Morello subiu ao palco de um Ibirapuera agora forrado de gente, iniciando o repertório com “One Man Revolution“, música de seu álbum solo, que tem o mesmo título. Em seguida, foi a fez de “Hold The Line” e “Let’s Get The Party Started“, surpreendendo um público que (acredito eu) não conheça tão profundamente sua carreira solo.
Mas os melhores momentos estavam por vir. O riff inicial de “Bombtrack“, do Rage Against the Machine, banda da qual o guitarrista faz parte e pela qual ganhou projeção mundial, levou o público à loucura. Logo em seguida, um medley de dois minutos de riffs da banda norte-americana fez todo mundo pular, relembrando a icônica apresentação do grupo no festival SWU em 2010. Nesse momento, pôde-se ouvir riffs das clássicas “Bulls On Parade“, “Guerilla Radio” e “Sleep Now In The Fire“.
Após esse momento de catarse, Morello fez uma belíssima homenagem a Chris Cornell, vocalista do Audioslave, que morreu em 2017. “Para mim, foi um prazer gigantesco poder tocar por tantos anos ao lado de alguém como ele. Eu te amo, Chris”, disse o guitarrista, olhando para a projeção do vocalista no telão e iniciando “Like a Stone“, canção mais icônica do grupo e com seu famoso solo regado a muito whammy, marca registrada do músico.
Durante a apresentação, o guitarrista proferiu seus já conhecidos discursos contra o fascismo, racismo e homofobia, e lembrou a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 no Rio de Janeiro. “Façam barulho para Marielle. Você nunca será esquecida“, disse o músico, iniciando “World Wide Rebel Songs” logo em seguida, colocando o público para se abaixar e, logo depois, começar a pular, bem ao estilo Slipknot quando toca “Spit it Out” ao vivo.
O que veio a seguir foi o ponto mais alto do show. Morello inicou o riff de “Killing in The Name“, do Rage Against the Machine. “Essa vocês vão cantar“. E o público não decepcionou, cantando todos os versos a plenos pulmões, fazendo rodas punk e colocando o local para tremer enquanto berrava FUCK YOU, I WON’T DO WHAT YOU TELL ME! O show foi encerrado com a música “Power To The People“, com vários punhos levantados em riste, repetindo o sinal conhecido dos Panteras Negras e reforçando o tom político dos shows e da mensagem passada nas músicas. Uma experiência incrível, que com certeza não sairá da minha mente.
Confira as resenhas do primeiro e segundo dia do festival Best of Blues and Rock.