Entrevista por Erick Tedesco; edição por Letícia Pataquine
Chris Wiesen (guitarra), Felipe Ribeiro (guitarra e vocal), Eduardo Moratori (baixo) e Pedro Hernandes (bateria) se juntaram em 2021 para um novo projeto, o Treva, com referências de punk rock, folk e blues.
A união é de respeito: Felipe e Eduardo integravam o influente Confronto, um pilar do hardcore nacional com respaldo no Brasil e no exterior.
Com lançamentos pelo selo El Rocha Records*, do estúdio El Rocha, o Treva vem aos poucos mostrando seu som para o público e, depois dos singles “Renasce em Dor” e “Onde Morre o Sol”, a banda, que tem ninguém mais ninguém menos que Rodrigo Lima, do Dead Fish, como padrinho, promete muito mais.
E a gente vai conhecer melhor e saber o que o Treva nos reserva para o futuro nessa entrevista exclusiva com Felipe Ribeiro, fundador da banda.
O Treva é uma banda nova no rock nacional, que lançou duas músicas de impacto e com muita identidade, transitando do punk ao folk, passando pelo blues rock. Fale mais deste caráter de apresentar uma sonoridade autêntica, única.
Pois é, então, quando começamos a compor as músicas pro Treva eu já tinha uma sonoridade em mente, mas que não sabia exatamente como soaria quando as músicas se tornassem reais. No processo de criação, procuramos timbres na direção daquilo que eu havia imaginado e, aos poucos, tudo foi ganhando forma e identidade.
Eu queria algo que remetesse às minhas inspirações de música negra dos anos 50 e 60, mas tudo isso dentro da minha escola pessoal de Punk Rock. No início, parecia loucura (talvez ainda seja, rs.), mas eu queria unir esses universos e toda essa loucura parecia fazer bastante sentido na minha cabeça: a alma do soul, blues, folk com a energia, pegada e contestação do punk rock que sempre existiu em mim. Tudo isso expressado dentro das nossas realidades de vida e cultura. E pra isso fomos buscar amplificadores clássicos de blues e rock n’ roll, um set bem vintage, mas, ao mesmo tempo, trazer toda essa atmosfera antiga para o que é atual e contemporâneo.
A ideia é buscar inspiração do passado, mas com os pés fincados no hoje, no agora, no presente. E assim começou a surgir o som do Treva.
“Renasce em Dor” tem o Rodrigo Lima do Dead Fish, que como já falaram, é uma espécie de padrinho do Treva. De onde vem a relação de amizade com ele e qual a função do Rodrigo neste início de carreira do Treva?
Brinco com essa coisa de padrinho, porque o Rodrigo foi uma pessoa importante nesse meu processo de auto-convencimento a voltar a fazer música e montar uma banda novamente. Eu conheço o Rodrigo há muitos anos, desde o final dos anos noventa. Um dos grandes amigos que a música me deu! E, em meio à pandemia, quando eu ainda estava escrevendo as músicas, ainda muito incerto e pouco confiante no que estava fazendo, mandei as músicas, liguei pra ele e perguntei se aquilo parecia fazer sentido. A nossa conversa foi bem maluca: falei pra ele “Cara, acho que to fazendo merda da minha vida… Tô montando uma banda”. E ele me falou “É, cara, realmente, ta fazendo merda. É loucura, mas a gente ama isso, não tem jeito! E eu adorei as músicas! Tá foda! Só vai!’’. E eu fui, mas falei pra ele que eu tinha uma letra que eu queria muito que ele cantasse comigo caso um dia nós gravássemos um álbum.
Bom, quis o destino que, em pouco tempo depois, a gravadora El Rocha quis lançar o Treva, gravamos um álbum que vai sair em breve e o Rodrigo registrou sua voz na música comigo.
Outro grande aliado destes primeiros passos é o selo El Rocha Records, do estúdio El Rocha, uma marca forte no rock independente de São Paulo. Hoje, o quanto ter uma gravadora como a El Rocha agrega aos trabalhos do Treva?
Olha, posso te dizer com toda convicção que se não fosse a El Rocha, provavelmente o Treva não existiria. Pelo menos não dessa maneira que está começando a existir hoje. Digo isso porque sozinhos jamais teríamos todo esse suporte com a produção, gravação e distribuição de um álbum. Toda a estrutura de um estúdio incrível como o El Rocha, disponibilizando todos os equipamentos necessários pra que reproduzíssemos os timbres e ideias para chegarmos à sonoridade que buscávamos pra encontrar o nosso próprio som. Inclusive, a El Rocha hoje em dia passou a ter distribuição com exclusividade pela Altafonte, que cuida de artistas renomados como Gilberto Gil, Seu Jorge, Marina Sena, entre outros.
Eu tenho uma história de reencontro com o El Rocha: o criador e um dos diretores da gravadora é o Fernando Sanches e ele foi a primeira pessoa que me gravou profissionalmente há mais de 20 anos atrás. Ele foi o responsável pela gravação do primeiro álbum do Confronto, que foi lançado em 2001. Na época, o El Rocha ainda era só o estúdio e o Fernando ainda estava praticamente começando a sua carreira como produtor musical e engenheiro de som. De lá pra cá, ele já gravou, produziu e trabalhou com artistas incríveis como Pitty, Criolo, CPM22, Ratos De Porão, Dead Fish, Nando Reis, Sabotage e vários outros, ganhou Grammy, Prêmio Multishow etc… Enquanto eu, ainda baterista, estava rodando o mundo e fazendo as coisas com o Confronto.
Passados 20 anos, em uma conversa por telefone no meio do período da pandemia (sim, o Fernando e o Rodrigo ainda ligam para as pessoas, rs.), conversávamos sobre coisas pessoais, tristeza com a pandemia, a tragédia da política brasileira, mudança de casa etc., falei pra ele sobre as músicas que eu estava fazendo em casa e ele me contou sobre o El Rocha que, além de estúdio, havia se tornado também uma gravadora ainda antes da pandemia. Enviei as músicas da pré-produção do Treva, ele curtiu bastante e um tempinho depois surgiu a ideia com a proposta da gravadora lançar a banda. Incrível!
Já que estamos falando de começos e recomeços, apresente-nos os integrantes do Treva? Quem são, de onde vieram, quais seus backgrounds etc.
Treva conta com o Chris Wiesen, Pedro Hernandes, Eduardo Moratori e eu. Bom, eu e o Chris dividimos apartamento desde 2018. Ele é um guitarrista incrível, é produtor musical, engenheiro de som e veio de São Luís do Maranhão pra São Paulo já há algum tempo. Tinha uma banda chamada Voiceless e também tocou em outra banda chamada Eutenia. O fato do Treva existir é culpa totalmente dele! Explico: o Chris já havia me chamado inúmeras vezes pra tocarmos juntos e montarmos uma banda, mas eu sempre declinei. Além de eu não ter tempo para me dedicar a uma banda como eu gostaria, a verdade é que, após o fim do Confronto, eu não tinha convicção se fazer música novamente estaria novamente no meu plano de vida. Em meio à pandemia, trancados em casa, o Chris acabou me convencendo de que era possível e então começamos a trabalhar nas músicas do Treva.
Já o Pedro tocava em uma banda chamada Avalina e eu o conhecia da estrada quando ele trabalhava com as bandas Raimundos e Shaman. Pra se ter uma ideia, quando eu conheci o Pedro eu nem sabia que ele era baterista. Pra mim, foi uma surpresa incrível quando ele se interessou em tocar com a gente. Antes mesmo de fazermos o primeiro ensaio com o Treva, eu já tinha a certeza que ele era o cara.
Agora, o Dudu dispensa comentários. Tocamos juntos por 17 anos no Confronto e ele é mais do que um amigo pra mim. Ele é meu irmão. O cara que sempre está pronto pra qualquer guerra. Não há desafio que nós não topemos juntos. Quando mandei mensagem pra ele e falei sobre a ideia da banda, ele abraçou na mesma hora!
Puxando um pouco da pergunta anterior, você, Felipe, era do Confronto, um nome de peso e histórico do hardcore nacional. Como foi essa transição para o Treva, uma banda de estilo bem distinto? O Confronto, aliás, um dia volta?
O Confronto foi uma banda importante na minha vida. Na verdade, foi a minha vida por quase 20 anos. Mas como tudo tem o seu tempo, o tempo do Confronto acabou. Fui muito feliz e vivi muitas coisas incríveis com a banda. Ela foi responsável por quase tudo que vivi e aprendi na vida. Mora no meu coração. Mas é um ciclo que considero encerrado e não vejo mais como voltar. Hoje não faz mais sentido. Eu sou uma pessoa que não costuma olhar muito pra trás, sabe? Pra mim as coisas caminham, seguem seu curso e o que passou, passou. Valorizo tudo que foi construído, mas devemos continuar caminhando e nos desapegar do que já foi construído. Não sou saudosista e nem adepto a zonas de conforto, e, por vezes, precisamos nos impor novos caminhos e desafios. E pra mim, nesse sentido, a Treva é isso: um novo desafio.
Larguei a bateria, assumi a guitarra e os vocais, coisas que eu nunca havia feito na vida, e resolvi expor ideias e influências que eu sempre tive, mas que não se encaixavam no Confronto. Eu adorava compor e escrever pro Confronto, mas existia um lado meu que não seria possível externar dentro da ideia que era a banda. No Treva, eu consigo expressar meu outro lado em uma nova forma de escrever, compor, criar, com outras ideias, inspirações e influências que eram muito difíceis de transparecer no Confronto.
Com o Treva eu quero escrever uma outra história pra mim mesmo. Independentemente da opinião que as pessoas possam vir a ter sobre a banda, o Treva é algo que faço por mim. É a expressão da minha verdade, daquilo que eu sou. E pelo menos nesse começo, aparentemente, as pessoas estão se identificando com o que está sendo feito. E fico muito feliz por isso.
E agora, após “Onde Morre o Sol” e “Renasce em Dor”, qual será a próxima música e quando deve chegar ao streaming?
O que posso dizer nesse momento é que o próximo single já está prontinho, será lançado com mais um vídeo e que logo terá data de lançamento. A música escolhida traz algumas características diferentes das outras anteriores, com alguns elementos novos. E já afirmando também que dentro de pouco tempo anunciaremos a data de lançamento pro álbum de estreia, já gravado e praticamente finalizado. Tá tudo na mão da El Rocha Records.
Outra coisa importante é que vamos ter ótimas novidades relacionadas ao merchandising oficial da banda, assim como show de lançamento e início da turnê de divulgação, passando por várias cidades e capitais. Só estamos começando!
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*O El Rocha Records sempre merece apresentações: selo de três nomes importantes da produção musical brasileira, Daniel Ganjaman, Fernando Sanches e Carox, recentemente foi responsável pelos lançamentos do mais recente álbum da Deb and the Mentals, da dupla A Ride for Two e da The Gramophones.
E aí, curte Treva? Ouça a banda na sua plataforma de streaming favorita e acompanhe as novidades na página oficial da Treva e no instagram do Musicult.