Depois de Cenas Brutais, de 2021, e do EP T3RROR, lançado em 2022, a Eskröta, banda formada por Yasmin Amaral (vocal e guitarra) e Tamyris Leopoldo (baixo e backing vocals), lançou recentemente o álbum Atenciosamente Eskröta, contando ainda com o baterista Jhon França, que deixou a banda recentemente.
Ainda focado no crossover hardcore/trash metal, o álbum é o mais hardcore da banda até agora, contando, inclusive, com a participação de Milton Aguiar, vocalista do Bayside Kings, em uma das 9 faixas.
Essa mudança na sonoridade antecipa grandes shows que estão por vir, alguns em uma turnê conjunta com o Bayside e outros em uma turnê conjunta com o Dead Fish.
Além disso, o show de lançamento de Atenciosamente Eskröta já está marcado para esta sexta-feira, dia 26 de maio, no Sesc Belenzinho. Ainda há ingressos à venda na página do Sesc, e se você não viu a Eskröta ao vivo ainda, está perdendo um ótimo show, como contamos na resenha do Pré-Kool Metal Fest de 2022.
Atenciosamente, Eskröta
Funcionando como um manifesto, o primeiro single divulgado foi “Homem é assim mesmo”, e Yasmin, vocalista e responsável pela produção das músicas, conta: “A faixa ‘Homem é assim mesmo’ foi a primeira a tomar corpo e a ideia partiu do vídeo da influenciadora Hana Khalil, em uma série em que ela trata sobre feminismo. O vídeo basicamente frisa o quão nocivo é o comportamento da sociedade de sobrecarregar as mulheres em diversas funções e amenizar a vivência do homem com frases como: ‘deixa pra lá, homem é assim mesmo’. Então negamos tudo isso, homem não deve ser assim mesmo, precisamos mudar nossa forma de pensar. O thrash que envolve essa composição também condiz muito com a atmosfera de revolta que queremos passar”.
E como a gente queria saber mais sobre esse álbum, a gente fez mais algumas perguntas para a Yasmin e a entrevista você confere a seguir.
1- O disco é mais hardcore do que os anteriores e vocês vão fazer turnê com o Bayside Kings e o Dead Fish, né? Pode adiantar alguma informação sobre essa turnê? Quando ela começa, cidades por onde vão passar etc.
Sim! Nós temos algumas datas com o Dead Fish que serão anunciadas em breve e com o Bayside Kings já temos alguns shows confirmados em São José dos Campos e Belo Horizonte, por exemplo. Naturalmente, por essas bandas estarem inseridas no cenário hardcore e a Eskröta vir ocupando esse espaço nessa cena gradativamente, conseguimos fazer algumas coisas interessantes juntos e logo menos poderemos divulgar.
2- E o que vocês têm escutado que influenciou essa vibe mais hardcore do álbum?
Nós sempre gostamos muito da veia hardcore puxando para o crossover, bandas como D.F.C, Surra, Mukeka di Rato e até mesmo o próprio Ratos de Porão, mas ultimamente nos aproximamos também de outras vertentes mais melódicas, como é o caso do Pense, que tem uma influência muito grande nesse último álbum, pelos temas e por características do som. Bandas como Turnstile, GEL e TERROR, que são estrangeiras, também nos guiaram nessa nova entrega. Mas tudo tem muito a cara da Eskröta que, por princípio, é uma banda de crossover, mistura tudo.
3- Falando em Bayside Kings, o Milton participa da faixa “Pertencer e Conquistar”, e é a minha favorita do álbum, por ter a cara da Eskröta e a cara do Bayside! Como essa parceria aconteceu? A intenção era justamente ser essa mistura de sons entre as duas bandas ou acabou sendo algo natural?
O Milton é alguém que eu admiro e acompanho há um tempo, por coincidência o Bayside Kings e a Eskröta começaram a fazer shows em lugares parecidos, com produções parecidas e isso foi nos aproximando como músicos e parceiros de cena. Quando eu comecei a escrever o álbum, pensei que a participação especial teria que ser de fato alguém que fizesse sentido, como já fizemos anteriormente com outras pessoas, colaborações espontâneas e reais. Assim nós entramos em contato com o Milton e ele nem pensou duas vezes, aceitou e fez esse feat acontecer. É uma das músicas mais diferentes, mas também uma das mais legais, porque não é óbvia e é muito verdadeira.
4- A letra dessa música fala sobre a falta de identificação com boa parte da cena, e pode ser direcionada à falta de representantes das regiões norte e nordeste e até mesmo de cidades do interior de São Paulo. E a Eskröta é de Rio Claro, então como foi o começo da banda no interior até começar a tocar nos centros mais urbanos? E o que você acha que falta para a cena brasileira sair desse eixo Rio-SP?
Começar uma banda no interior é desafiador, como você disse, para o Norte/Nordeste se torna ainda mais desafiador, pois existem barreiras que vão além da internet, são custos logísticos e a falta de valorização das bandas que nasceram e tocam por lá. Para romper essas barreiras, é necessário muito investimento, além do dinheiro o psicológico também, de enfrentar vários “não”, até que alguém veja a oportunidade e te dê um “sim”.
Para nós, a Sob Controle, por exemplo, foi uma das primeiras produtoras em São Paulo que enxergou potencial e nos deu algumas chances incríveis na capital, e outras produtoras continuam fazendo isso por bandas de outros estados, pois acreditam que a cena pode ser mais plural e descentralizada. Acredito que esse intercâmbio é a única maneira de fazer as coisas acontecerem de verdade.
5- E em “cena tóxica”, vocês fazem mais críticas a cena underground, certo? Inclusive na letra tem um trecho que diz “cheguei pra incomodar essa cena tóxica”. Vocês sentem ainda muita resistência de público e contratantes e dificuldade de divulgar a banda ou se apresentar em determinados lugares por conta do machismo no metal? Acham que teve algum avanço de uns tempos pra cá ou nos bastidores as coisas ainda continuam muito retrógradas?
Nós acreditamos que, apesar de ter havido um avanço significativo na discussão das pautas antifascistas e feministas dentro do metal, ainda existe muita coisa que deveria ser diferente e, de fato, mudar o quando antes. A Eskröta é uma banda que se posiciona desde o começo, faz parte da nossa identidade, mas nós sentimos que essa necessidade de iniciar uma discussão política aflorou em outras bandas parceiras, que perceberam a urgência do assunto. Continuaremos cantando e incomodando, até que a situação seja completamente diferente.
6- Abrir com “cena tóxica” e fechar com “mosh feminista” em um álbum chamado Atenciosamente, Eskröta é pra dar essa ideia de que o álbum é uma carta/manifesto aos machistas da cena ou eu viajei nessa interpretação? hahaha Como pensaram no nome do álbum? E a ideia da capa?
Exatamente isso, nós queríamos passar uma mensagem e assinamos no final “Atenciosamente, Eskröta” para que as pessoas parem, leiam e pensem sobre aquilo que trouxemos no álbum. A capa traduz essa vontade de se libertar por meio da escrita, que é uma forma de arte, enquanto resistimos àquilo que nos faz mal (no caso, a máscara de gás é pra filtrar isso). É exatamente essa mensagem que nós idealizamos.
7- Uma música bem íntima é “Fantasmas”, que fala sobre traumas e coisas que fazemos muitas vezes só pra se inserir e agradar, além do medo de errar. Com 6 anos de banda e com essa postura combativa no palco, ainda bate aquele receio antes de lançar alguma coisa ou a música foi uma forma de marcar o fim desses receios, medos e inseguranças?
Toda vez que vamos lançar algo ou que colocamos alguma expectativa sobre algum show, nós nos sentimos como crianças, rs. Ficamos muito ansiosas! Estamos sem dormir porque o show do SESC está chegando e a nossa primeira vez no SESC, então esses fantasmas assombram a gente sempre, mas não nos deixamos abalar por isso, acho que essa é conclusão: enfrentar os fantasmas e sair mais forte de cada situação.
8- E já que o álbum fala bastante sobre pertencimento, cena underground e feminismo, tudo isso se alinha com representatividade, né? Então queria saber quem foi a mulher (ou as mulheres) do rock/metal que te inspirou quando você começou a tocar? E queria que vc indicasse mais bandas com mulheres na cena do metal pra galera conhecer!
No início de tudo, eu ouvia muito The Runaways e L7, com o passar do tempo a Nervosa surgiu no Brasil, eu tinha 15 anos, então virei uma fã instantânea da banda, por essa questão de ter uma representante tão próxima de mim aqui no país. Hoje posso indicar uma banda de hardcore chamada GEL, que é incrível e eu tenho ouvido muito.
E aí, já ouviu Atenciosamente, Eskröta? O álbum está em todas as plataformas digitais, dê o play