O mês de maio em São Paulo começou muito bem para os fãs de música na cidade, já que o tradicional Encontro das Tribos, festival que acontece há 21 anos, teve sua edição 2023 realizada no Anhembi e reuniu, pela primeira vez em 2 dias de evento, 23 atrações!
A estrutura do Encontro das Tribos 2023 no Anhembi
Com dois palcos, o festival optou pela praticidade, montando uma mega estrutura para que os palcos ficassem lado a lado. Essa opção é ótima para o público, que consegue acompanhar todos os shows sem precisar andar pelo espaço e saindo mais cedo de um show para priorizar outro.
Além disso, enquanto uma banda ou artista se apresentava no palco 1, o palco 2 já começava a ser montado para a atração seguinte e vice-versa, o que evitava atrasos – mas alguns artistas fugiram da regra, como veremos mais pra frente.
O Anhembi é gigantesco e, ao contrário do Primavera Sound, realizado lá no ano passado, o Encontro das Tribos não ocupava todo o espaço, mas ocupou uma boa área e havia espaço de sobra para ver os shows de onde você estivesse com tranquilidade, muitos bares espalhados e uma praça de alimentação separada dos palcos.
O ponto negativo na estrutura foi acumular a entrada do espaço open-bar com a saída e o acesso à praça de alimentação bem na frente do palco 2, onde Ice Cube encerrou o evento, tornando quase impossível sair do festival no domingo à noite devido à multidão.
Os shows de destaque: rap se manteve soberano entre os fãs do evento, mas festival realmente uniu tribos diferentes
Com tantas atrações em palcos lado a lado, o espaço dos shows nunca ficava vazio, mas alguns shows levaram mais pessoas para a grade do que outros.
Uns dias antes do festival acontecer, nós fizemos uma lista aqui no site sobre os shows mais aguardados e, de fato, o público concordou com a nossa lista, como pudemos perceber logo no primeiro dia, quando Teto, que se apresentou cedo, às 13h55, já levou uma multidão ao Encontro das Tribos.
O trapper, que faz parte da 30pra1, gravadora de Matuê, não levou seus parceiros para o palco, como achávamos que aconteceria, mas, em compensação, tocou todos os hits esperados: “M4”, “Mustang Preto”, “Vampiro”, “Groupies”, “Flow Espacial” e até seu mais recente lançamento, “Minha vida é um filme”, que traz uma nova roupagem ao seu trap, usando e abusando dos famosos “afrobeats”, tópico que gerou a tão grande polêmica entre Matuê e Orochi.
Falando nisso, a polêmica entre os rappers foi um destaque negativo no festival. Tudo começou na sexta-feira, quando o evento divulgou os horários e a participação de Orochi, que seria no domingo, passou a ser no sábado por questões de logística do rapper.
Mesmo com as reclamações de fãs que compraram ingresso apenas no domingo e não iriam mais ver Orochi, o horário marcado para a apresentação do carioca ficou para as 20h do sábado, porém, ele só subiu ao palco às 20h35, aproximadamente, com mais de meia hora de atraso.
O show na sequência era justamente o de Matuê, marcado para as 20h45, mas teve que começar às 21h05. E em meio a pequenas vaias vindas do outro palco (onde Matuê se apresentaria) e gritos de “Tuê Tuê Tuê”, Orochi deixou o palco fazendo um show curtíssimo.
Já Matuê, por sua vez, foi uma das maiores estrelas do sábado. Em meio ao público, só se viam camisetas com a foto do trapper e durante o show, Matuê entregou o que seus muitos fãs queriam e um pouco mais, já que cantou seus sucessos recentes – incluindo os que já tinham aparecido no set de Teto -, sucessos mais antigos como “A Morte do Autotune” e “Kenny G”, e seu último lançamento, “Conexões de Máfia”.
Terminando com guitarras e pirotecnia, Matuê se despediu como rockstar e depois curtiu o show de Wiz Khalifa, que fechou o primeiro dia de festival.
Gloria Groove roubou a cena no sábado
Fazendo jus ao seu nome, o Encontro das Tribos levou ao palco do sábado, a drag Gloria Groove, que foi um dos shows mais inesquecíveis da noite.
Com banda e um palco totalmente decorado, Gloria entregou coreografias e uma sequência de hits que agradou a todas as tribos: os pagodeiros (pois teve Lud Session), os funkeiros (com “Proibidona” e “Bumbum de ouro”), fãs de rap (afinal, é a Lady Leste) e, claro, os fãs de diva pop.
Apesar de Chase Atlantic, domingo teve cancelamento de rock e hip hop reinou absoluto
Domingo encheu os fãs de rock de expectativas, já que Pitty iria se apresentar no festival e seria justamente o dia de aniversário de 20 anos do disco “Admirável Chip Novo”, porém a cantora estava com muita gripe e cancelou o show, o que foi informado horas antes dos portões abrirem.
Mas quem curte guitarras e muita atitude no palco pôde se divertir com o surpreendente show de Chase Atlantic. Uma das bandas mais aguardadas do festival, os australianos misturam rock e trap e, apesar das acusações de playback, a presença de palco dos meninos atraíram não só o fã-clube da banda, que estava na grade, como também pessoas que não conheciam a banda profundamente.
Outros representantes do rock – e com mais atitude punk – foi o Planet Hemp, que, como sempre, arrastou uma multidão para o palco 1, fizeram discursos que ainda (infelizmente) seguem atuais e animaram o público para a única roda punk do Encontro das Tribos.
Porém, em uma noite com Ice Cube como headliner, vindo ao Brasil pela primeira vez, o destaque não poderia ser outro que não o hip hop, muito bem representado em todos os os nomes que já tinham passado pelos palcos nos dois dias de evento e demonstrando sua soberania no Encontro das Tribos com Racionais MC’s e o rapper fundador do lendário grupo NWA.
No show dos Racionais, que diga-se de passagem, é um espetáculo, com encenações, figurinos, cenários e dançarinos, Mano Brown ressaltou a importância de Ice Cube para o rap, pois quando ele tinha 18 anos, ouviu Ice Cube cantar e mesmo sem entender uma palavra de inglês, sentiu que eles falavam as mesmas coisas.
E com essa sequência mais do que lendária para o hip hop mundial, o Encontro das Tribos encerrou mais uma edição.