Lançado em março de 2023, pela Wonderwheel Recordings, Tanto é o segundo álbum de Tagua Tagua, projeto solo do músico Felipe Puperi (ex-Wannabe Jalva), que há dois anos mergulhou no intenso processo de produção deste disco, que pode ser encarado como uma jornada apaixonada.
“É sobre se apaixonar por se apaixonar. Uma mistura de diferentes sensações e sentimentos. Gosto de pensar que você flutua pelas letras e pode imaginar esses muitos encontros e como eles mudam as coisas todas”.
conta Felipe sobre o conceito de Tanto.
Quanto à sonoridade, antes do lançamento, os singles “Tanto”, “Colors” e “Pra Trás” deixaram evidente a linha neo soul que se encontraria ao longo das dez faixas do disco.
“O álbum fala por si, o estilo dominante acredito ser o neo soul, mas tem um pouco de RnB, dream pop e indie rock. Acredito que o fato de tudo ser cantado em português ajuda a quebrar os ritmos e deixar as coisas mais fluidas e soltas dentro desses estilos”
complementa o músico.
Munido de seu home studio, Felipe conta que registrou o álbum em casa, mas uma parte significativa foi gravada durante uma imersão de alguns dias nas montanhas, em São Francisco Xavier, no interior de São Paulo, perto de Minas Gerais.:
“Foi uma criação bem solitária, como costuma ser o meu processo. Fico bastante tempo pirando nas ideias e instrumentos até me conectar com as músicas de fato e entender que elas são um conjunto e que fazem sentido juntas. A partir disso, chamei músicos amigos que tocam comigo e fomos pro meio do mato ficar alguns dias gravando coisas e lapidando essas ideias. É um processo que gosto bastante e acho que funcionou bem nesse caso”.
A turnê Tanto
Agora, dois meses após o lançamento de Tanto, Felipe se encontra no meio de uma turnê, que começou dia 28 de abril, em Recife (PE), seguiu para João Pessoa, Goiânia e Brasília e, no próximo dia 13 de maio, estreia no Rio de Janeiro, no Galpão Ladeira, depois segue para São Paulo, na Casa Natura Musical, dia 19 – ingressos aqui.
A turnê segue depois para Belo Horizonte, dia 26, na Autêntica. Já em Junho, o projeto vai para Porto Alegre, dia 02, no Agulha, dia 03, em Florianópolis e dia 10, no Arnica, em Curitiba.
Em meio às viagens com a turnê, Felipe parou para nos responder algumas perguntas sobre o processo criativo do disco e um pouquinho mais. Confira a seguir.
Tagua Tagua e o disco “Tanto”
O nome do seu projeto solo, Tagua Tagua, você disse em uma entrevista ser inspirado em uma região do Chile. Nesse álbum, você traz duas músicas com nomes de lugares, “Barcelona” e “Starbucks” e, durante o processo de composição do disco, você foi para as montanhas em Minas Gerais. Com tantos lugares ao redor do seu trabalho, como os ambientes e os lugares que você frequenta influenciam na sua composição? E qual lugar mais te inspira a compor?
Os lugares que eu tô influenciam 100% na composição, inclusive isso é uma coisa que eu fui descobrindo com o tempo: fui percebendo que cada vez que eu trocava de lugar despertava a minha criatividade e me vinha um carrossel de ideias novas. E, ultimamente, eu tenho me mudando muito. É uma coisa que eu até tentei tratar na terapia (risos), mas eu estou me mudando demais nos últimos anos e cada vez que eu chego num lugar eu tenho um boom criativo, muitas ideias, boto muita coisa pra fora e aí depois isso se esgota e parece que eu preciso encontrar um lugar novo.
Mas estar em lugares diferentes sempre traz muita coisa, né? Traz o cheiro daqueles lugares, as imagens, o clima, as pessoas, observar as pessoas que se comportam de formas diferentes… Então, é muito fundamental pra mim e me inspira muito compor perto da natureza, estar perto do do mar, perto de árvores, no meio do mato, me ajuda muito.
Especialmente na faixa “Starbucks”, eu imagino você num café, pensando em alguém ou em um encontro, escrevendo aquela letra… Minha imagem da música faz sentido? Você se lembra como essa música nasceu?
Eu poderia estar sentado nesse café observando esse encontro acontecendo ou esse encontro poderia estar acontecendo comigo, mas não é exatamente o caso. Foi a minha imaginação que funcionou nessa música, e quando eu comecei a gravar a ideia de melodia, não havia letra ainda, e eu morava perto de um Starbucks. Normalmente o gravador do celular registra com o nome dos lugares onde você está e ele registrou essas gravações de melodia e harmonia como Starbucks. Eu achei aquilo curioso e, nessa hora minha cabeça foi pra esse encontro no café, e eu comecei a criar toda essa cena acontecendo ali, trazendo, claro, referências de encontros que já tive ou de amigos.
Além de lugares, o que mais te inspirou a compor pra esse disco?
Os encontros me inspiraram muito, perceber isso no mundo, ver isso entre as pessoas, elas se apaixonando e se desapaixonando, vivendo, às vezes, romances platônicos…acho que tudo isso me motivou muito a misturar essas visões com as minhas histórias e quando vi isso tudo foi se transformando numa única coisa que é o álbum.
Na faixa “Cada passo”, você canta “pus os discos mais bonitos pra lembrar de ti”, então queria saber, quais os discos mais bonitos da música na sua opinião?
Eu amei essa pergunta, mas é uma resposta bem difícil… Olha, tem tantos discos, mas eu vou dizer um que eu gosto muito, o Sky Blue Sky, do Wilco. Eu tenho esse disco em vinil, então sempre que eu coloco pra tocar me lembra muitas histórias, ele me leva para outras épocas, para anos específicos, histórias específicas… ele se liga a muitas coisas na minha vida, então, com certeza eu colocaria esse disco.
E já que falamos de discos, seu som é algo muito original, então não posso deixar de perguntar quais suas maiores influências musicais desde sempre, especialmente as que te levaram a criar o Tagua Tagua, depois da Wannabe Jalva, e quais as mais recentes, que trouxeram novidades para esse álbum.
Eu tenho muitas influências e isso oscila muito de tempos em tempos… Não tem nada que eu escute “só isso e isso me me traz o combustível”. É uma mistura de influências, sou muito eclético musicalmente, então acho que isso faz com que eu consiga despertar uma sonoridade mais própria e mais minha, justamente por estar tão aberto a escutar muitas coisas, sabe?
Eu vou desde as coisas antigas, dos anos setenta, fim dos anos sessenta, como o soul daquela época, junto de Beatles, que eu ouvi desde criança, e vou misturando com artistas brasileiros, como Jorge Ben, Tim Maia, Cassiano, até coisas mais modernas que eu super escuto, como Michael Kiwanuca e Jungle.
O primeiro álbum saiu no fim de 2020, e “Tanto” foi uma produção feita nos últimos dois anos. Em 2021 ainda lidávamos com o isolamento social, que afetou todo mundo, especialmente o meio artístico e o mercado de shows. Pra você, como artista, como foi lançar um disco em um momento em que os shows eram inviáveis? E como foi esse processo entre um disco e outro em momentos tão diferentes?
Foi muito difícil lançar o álbum no meio da pandemia. Eu demorei bastante pra me conscientizar de que seria assim e aceitar isso. Acho que passei por um momento de negação, de não querer viver aquela realidade que nos jogavam de que seria “a nova realidade”, mas eu tive que me adaptar e acho que me adaptei. Eu lancei o álbum com uma session via streaming, na qual a galera pagou pra assistir como se fosse um ingresso de show e super funcionou. No fim das contas, acho que o álbum acabou significando muito para as pessoas por conta da pandemia, porque é o que mais escuto hoje em dia quando saio pra fazer show: pessoas falando que Inteiro Metade salvou a vida delas na pandemia ou foi muito importante pra elas, então é doido como uma coisa, aparentemente, ruim, pode se tornar uma coisa positiva.
Lançar um álbum em meio à pandemia quando tudo está limitado pode parecer o pior cenário do mundo, mas de alguma forma gerou nas pessoas alguma coisa e essa é a parte mais importante.
Os álbuns parecem, de alguma forma se complementar, com o primeiro falando sobre solidão, encontros, desencontros e este com músicas que parecem relatar as diferentes fases de um relacionamento. Há alguma história sendo contada entre os discos? Você considera que um álbum é continuação do outro?
Acho que sim, porque sou eu que escrevo as músicas, a maioria delas está em primeira pessoa, então tem uma timeline da minha vida junto com isso, sabe? E eu acho que sempre vai ter. Eu gosto dessa ideia de ficar mais vulnerável e escrever coisas que podem vir a ser pessoal ou podem não ser, gosto dessa confusão de não saberem exatamente se isso é a minha vida ou se são histórias que eu crio, também gosto que as pessoas consigam pegar isso pra si e fazer suas leituras sobre, jogar pra vida delas, se enxergarem nessas histórias… mas de uma certa forma, sim, é a minha vida correndo, sou eu contando histórias, é como vou vendo o mundo e como eu vou sentindo as coisas.
Então, claro que um álbum tem relação com o outro, sabe? O Inteiro Metade era sobre ressignificar uma relação, sobre terminar uma coisa e aprender a lidar com isso e se enxergar no mundo de novo depois de uma relação, enquanto Tanto é muito mais sobre estar aberto depois de ter vivido muitas coisas, aberto pra se apaixonar, pra viver os encontros, pra curtir as coisas e mergulhar de cabeça.
Você tem uma música, “Peixe Voador”, na trilha sonora do FIFA. Como surgiu essa parceria?
“Peixe Voador” é uma música que eu não pensava em lançar inicialmente, mas eu já tinha um esboço dela e a gente já tinha um contato com EA Sports, que é quem faz o jogo, desde a época do Wannabe Jalva, então o manager que trabalha comigo mostrou algumas ideias pra equipe da EA Sports e eles amaram “Peixe Voador”, mas ela ainda era uma música pela metade, só a partir disso eu compus mais uma parte dela e finalizei lançarmos no jogo, e a música virou single justamente porque pintou essa oportunidade, mas não foi nada planejado, foi acontecendo bem espontaneamente.
O que o público pode esperar dos shows dessa turnê? E você, o que espera do Tagua Tagua daqui pra frente?
Acho que o público pode esperar um show bem dinâmico e diverso, porque ele está trazendo coisas de todos os momentos da banda. Apesar de tocar bastante o Tanto, tem muita coisa do Inteiro Metade ainda, porque é um álbum que muita gente ainda tá curtindo e digerindo, e há singles soltos no setlist, então é um show variado que traz bastante sensações, o que eu gosto, porque enriquece a apresentação.
E daqui pra frente eu não tenho muita ideia do que que vai ser. E eu gosto de não saber. Eu gostaria de fazer coisas diferentes do que eu já fiz, tenho um pouco de inquietude, então tenho vontade de tentar caminhos novos, coisas completamente diferentes. Ainda não sei como fazer e isso não está na minha cabeça ainda. Estou muito com a cabeça no que foi feito até aqui, no lançamento desse álbum, mas eu espero dar mergulhos profundos em novas ideias.
Tanto está disponível em todas as plataformas de streaming e você pode acompanhar as novidades de Tagua Tagua em seu Instagram.