Texto e fotos por Tamires Lopes
Na última sexta-feira (14 de abril) foi realizado o São Paulo Metal Fest, reunindo no mesmo palco bandas de metal de vários lugares do mundo.
Evento produzido pela IDL Entertainment no tradicional Carioca Club, o São Paulo Metal Fest trouxe duas bandas nacionais (New Democracy, da cidade mineira dos aliens, Varginha, e Hatefulmurder, do Rio de Janeiro) e três internacionais: a chilena Weight of Emptines, a canadense Beyond Creation, que fez sua estreia no Brasil, a Cynic dos Estados Unidos, e a headliner diretamente de Portugal, Moonspell.
New Democracy
As portas abriram pontualmente às 18h, e um público tímido entrou na casa, provavelmente por ser uma sexta-feira chuvosa, o que impossibilitou a ida de pessoas mais cedo ao evento. Porém, mesmo com pequeno público, a banda New Democracy formada por Rafael Lourenço (vocal e guitarra), Luiz Gustavo Lima (bateria), Pedro Henrique Abreu (baixo), Mozart Santo (guitarra) e Vinicius Borges (teclado) iniciou o seu show às 18h30.
A banda mineira de melodic death metal trouxe seu segundo álbum “The Plague” na íntegra. Com as músicas “Black Blood”, “Blood on Nile”, “Creation of the Sin”, “The Way we Die” no set e fecharam com um cover da música “Angels don’t Kill” da banda Childron of Bodon. Abrindo, assim, o festival com pequeno público, mas muito ânimo.
Hatefulmurder
Logo após, foi a vez da Hatefulmurder. Trazendo seu som Death Thrash, os cariocas agitaram muito o público que aos poucos ficava mais encorpado.
Com Angélica Bastos no vocal, única presença feminina no palco do São Paulo Metal Fest, o que mostra como a cena do metal ainda é bem excludente de mulheres, a banda também conta com Thomás Martin (bateria), Felipe Modesto (baixo e vocal) e Renan Ribeiro (guitarra e vocal).
Com uma bela presença de palco, a banda agitou o público. Angélica incitou a primeira wall of death da noite, o que foi um belo esquenta pelo que estava por vir. A banda apresentou músicas de diferentes discos de sua carreira, iniciando com “Reborn”, música do último disco, em seguida “Worshipers of Hatred”, do álbum “No Peace”, de 2014, e logo após “Silence will Fall”, “Red Eyes” e “My Battle” do disco “Red Eyes”, de 2017, e encerraram a bela apresentação com “Psywar”, single lançada em 2023, e “Creature of Sorrow”.
Weight of Emptiness
Na sequência, foi a vez dos nossos vizinhos chilenos, Weight of Emptiness (capa) trazerem o seu som pela segunda vez para palcos tupiniquins. Carregados por um Melodic Doom com Death Metal, a banda iniciou o seu show já chamando atenção de todos, com presença marcante do vocalista Alejandro Ruiz que vestia uma túnica preta com metade do rosto pintado de preto.
A banda, que também conta com Mauricio Basso (bateria), Juan Acevedo (guitarra), Alejandro Bravo (guitarra) e Mario Urra (baixo), está de passagem pelo Brasil e países vizinhos como banda de abertura de shows do Moonspell, e vieram trazendo músicas de seu lançamento mais recente, o álbum “Withered Paradogma”.
Iniciaram o concerto com a música “Mütrümtum (The Calling)” e “Befrosting”, e fecharam com “Weight Of Emptines” e “Unbreakable”, faixas do primeiro disco da banda.
Beyond Creation
Antes da entrada da banda Beyond Creation, o merch da banda era vendido pelos próprios integrantes que também estavam circulando pelo Carioca e prestigiando os shows antes deles, sendo super solícitos com os fãs ali presentes.
E com a chegada de mais pessoas para um dos shows mais esperados, às 21h a banda Beyond Creation subiu ao palco com seu Death Metal. Infelizmente, por motivos não citados, o baterista Phillippe Boucher não pôde estar presente, e Michel Belanger estava substituindo-o.
A banda entregou tudo e mais um pouco! Composta também por Simon Girard (vocal e guitarra), Kévin Chartré (guitarra), Hugo Doyon-Karout (baixo), trazendo seu som moderno, com influências do metal progressivo e recheado de “two hands”. A banda agitou muito o público que cantava todas as músicas e também fizeram muitos moshpits.
A setlist foi composta por “Fundamental Process” e “Earthborn Evolution” do álbum de 2011. Logo após vieram “In Adversity” e “Ethereal Kingdom” e “Algorythm” do álbum “Algorythm” de 2018.
E para fechar um setlist curto, mas que fez os fãs gritarem suas letras junto à banda, “Coexistence” e “Omnipresent Perception”. Com certeza, um dos shows mais cheios e animados da noite, e mesmo não sendo os headliners, o Beyond levou muitos fãs ao São Paulo Metal Fest.
Cynic
Fazendo seu primeiro show no Brasil, era a vez da banda Cynic!
Liderado pelo vocalista e guitarrista, Paul Masvidal, muito conhecido também por ter sido membro do Death, uma das bandas percursoras do Death Metal, o Cynic foi fundado em 1987 por Paul e Sean Reinert (bateria).
Este era um dos shows mais esperados na noite e, entre góticos e fãs de metal técnico, muitos apreciaram a apresentação de comemoração de 30 anos do disco “Focus”. Na formação atual do Cynic contam com o Paul, Matt Lynch (bateria), Brandon Griffin (baixo), Max Phelps (guitarra), Ezekiel Kaplan (teclado, guitarra e vocal).
A primeira parte do show contou com o disco “Focus” na íntegra, e ao final desse set, Paul Masvidal ficou só no palco, acendeu um palo santo enquanto aparecia uma imagem de Sean Malone e Sean Reinert no telão, uma homenagem aos companheiros de banda e grandes amigos do Paul que faleceram, ambos em 2020.
Logo após esta homenagem, a banda voltou ao palco e continuaram o show com “Kindly Bent to Free Us”, “Adams Murmur”, do querido disco “Traced in Air”, de 2008; “Aurora”, sendo uma das duas faixas do disco “Ascencion Codes”, último lançamento da banda; “Bow Up my Bones” do EP “Carbon Based Anatomy” de 2012; e “Evolutionary Sleeper”, a mais cantada entre todos; fechando com “In a Multiverse Where Atoms Sing”.
Apesar de um show bem executado, a interação da banda com o público foi fria. Eles demonstraram felicidade de tocar no Brasil pela primeira vez, mas foram sóbrios durante todo o show, com pouca interação. Além deste detalhe, também houve um atraso de 20 minutos, e acabaram o show faltando apenas 10 minutos para o headliner, o que atrasou o show seguinte.
Moonspell
Enfim, os headliners mais esperados da noite, Moonspell, fazendo sua 6ª passagem pelo Brasil. A banda formada por Fernando Ribeiro (vocal), Pedro Paixão (teclado), Ricardo Amorim (guitarra), Aires Pereira (baixo) e Hugo Ribeiro (bateria), está com mais de 30 anos de carreira e carrega uma grande legião de fãs pelo país.
Nesta turnê Latino Americana, a passagem pelo São Paulo Metal Fest contou com uma setlist recheada de grandes sucessos da banda que levaram o público à loucura.
Abrindo com “The Greater God”, passando por “Opium” e “Finisterra” – na qual Pedro Paixão deixou os teclados e veio à frente acompanhar a banda nas guitarras – “In a Above Man”, “From Lowering Skies” e, logo após veio a linda “Scorpion Flower”, que possui participação da holandesa Anneke van Giersbergen (The Gathering, Agua de Annique, The Gentle Storm, VUUR, Devin Townsend Project e Globus).
“Nocturnal” foi seguida por “Breath (Until We Are no More)” que foi muito bem recebida pelo público. E neste momento, Fernando apresentou toda a banda e falou um pouco sobre a trajetória da “vanguarda” do gótico português, e nos lembrou que era aniversário de 50 anos do Aires Pereira. Assim, o público puxou um “Parabéns pra você” muito animado.
A banda foi muito carismática e comunicativa com o público. Fernando, inclusive, brincou dizendo: “Vocês entendem o meu português? Caso não, que se f****!” em tom de brincadeira.
A banda tocou uma sequência de “Em nome do Medo” e “Todos os Santos”, do álbum 1755, cantado todo em português, e do qual a banda se orgulha muito, exibindo bandeiras de Portugal, falando de seu país e trazendo as cores da bandeira na iluminação do show.
Apesar do clima de “festa gótica”, Fernando aproveitou para expor o descontentamento com o atraso no show da banda Cynic, dizendo que eles não foram profissionais e desrespeitaram o festival e as bandas ali presentes, pois todas foram pontuais em cumprir com seus horários de passagem de som e início e duração de shows. Disse também que, devido a este atraso, o Moonspell seria obrigado a deixar de lado as faixas “Mephisto” e “Vampiria” para cumprirem com o horário.
Logo após o desabafo, tocaram “Alma Matter”, que foi cantada com vontade por todo público e antes de anunciar “Full Moon Madness” como a última música do concerto, Fernando brincou: “Nós portuga e brasuca se fode e o gringo fica rico”.
Apesar de tudo, a situação não atrapalhou o show, belíssimo e muito curtido pelos fãs, mas marcou a noite dos que presenciaram o desentendimento entre duas grandes bandas da cena. De qualquer forma, o São Paulo Metal Fest foi um ótimo evento para os fãs do gênero, que provavelmente esperam logo por uma próxima edição.