No sábado, 15 de abril, a casa Fabrique Club, na Barra Funda, São Paulo, ficou cheia de um público versátil e simpático, em sua maioria vestindo preto, todos ali para ouvir as músicas melancólicas de Shawn James. O cantor traz uma mistura de folk, blues, r&b e gospel, mas os fãs das canções mais pesadas não saíram desapontados: o setlist recheado também incluiu rock e metal.
Além da voz de The Last of Us
Muitos podem conhecer Shawn James como o cantor da música que, em 2016, teve uma canção tocada pela personagem Ellie no trailer do jogo The Last of Us Part II, a “Through the Valley”. O sucesso da música foi tanto que, em 2020, ele compôs uma música especialmente sobre Ellie, chamada “The Guardian (Ellie’s Song)”.
O compositor e cantor americano Shawn James começou sua carreira em 2012, e suas letras e sonoridade são influenciadas por mitologia. Não é a toa que as músicas carregam cenários e pensamentos a introspectivos e melancólicos. Seu som é composto, muitas vezes, apenas por voz e violão, um folk com pitadas gospel e, vez ou outra, influências de heavy metal.
O grande destaque, no entanto, é para sua voz, que fez o chão do Fabrique Club vibrar no último sábado.
Melancolia e heavy metal: um show de dois atos
Assim que Shawn subiu no palco para seu 2º show na turnê brasileira, em silêncio, o público o recebeu entusiasmado. Um clima que permaneceu até o meio do show. Nada que ele não soubesse, já que o próprio introduziu a 2ª música “Midnight Dove” dizendo: “Agora vamos ficar bem tristes antes de começar a ficar feliz”, apesar de melancólica, sua empolgação o fez quebrar a corda do violão.
Como companheiro de palco, Shawn tem Sage Cornelius, o violinista carismático que conquistou o público com um solo de violino com distorção de guitarra. Depois, para a próxima música, sem instrumento algum, o cantor pediu que a público não pisasse neles mesmos, e foi entre pisadas, palmas e clima de taverna medieval que ele cantou “John the Revelator”.
A voz do Shawn James realmente impressionou a noite toda. Quando precisa, ele não tem medo de inspirar e soltar um canto grave e quase gutural. Pela quinta música, ele introduziu “Flow”, canção que compôs quando, em suas palavras “estava muito triste e foi para o rio”. Foi impossível não pensar, ao longo do show, que a maioria das músicas dele foram compostas a noite no meio de uma floresta.
Depois de perguntar se o público também gosta de mitologia, assim como ele, o show seguiu em clima soturno com a sua banda composta por, além de violino, bateria e baixo. Para surpresa do público, o cantor tocou uma música inédita: “I Want More”, que será lançada no dia 1º de maio.
Pela 12ª canção, o show mudou de tom.
“Não existem muitos públicos como vocês, que você pode tocar as primeiras músicas e também as mais pesadas e as pessoas vão curtir da mesma forma.”, disse Shawn.
Quem preferiu a introspecção antes do rock n’ roll ainda teve vez quando Shawn tocou “Through the Valley” uma música que, em suas palavras, teve que parar de tocar ao vivo porque ninguém queria ouvir e ninguém ligava. E ele se conformou com isso, “Tudo bem, seria uma música só minha”. Até que se tornou sua música mais popular devido a The Last of Us.
Embora “Through the Valley” seja ótima, foi “The Guardian (Ellie’s Song)”que me fez chorar.
Mãos para cima e dedos em forma de chifres, assim seguiu a última parte do show com músicas mais pesadas, alegrando a outra parcela dos fãs. Foi a vez de “Orpheus” e “Hounted”.
Com um setlist de mais de 15 músicas, o público ainda pedia por mais. E antes de encerrar a noite com “The devils daughter”, Shawn respondeu aos pedidos dizendo que gostaria de ficar para tocar mais músicas, prometendo voltar ao Brasil.
É sempre muito bem ver artistas que amam as músicas que fazem, e mesmo em devagar ascensão, são gratos por cada pessoa do público estar ali, curtindo.
A casualidade é incrível. Não deixo de pensar: se não fosse pela adaptação de TV de The Last of Us, os jogadores do game não iriam aumentar e, consequentemente, ouvir e conhecer Shawn James? Seja lá qual for o motivo, é uma combinação de casualidades interessante e que vale a pena aproveitar, principalmente em shows despretensiosos mas verdadeiros e divertidos como esse.
1 thought on “Shawn James faz show em São Paulo e prova que seu setlist vai além da trilha de The Last of Us”