Quem conhece e vive o underground paulistano sabe que o Kool Metal Fest é uma tradição. Sendo assim, o aniversário de 20 anos do evento merecia uma festa à altura de sua importância.
E realmente foi, já que no último domingo (12), o Carioca Club recebeu Vermenoise, Trovão, Facada, Violator, Ratos de Porão e os estadunidenses do D.R.I. (Dirty Rotten Imbeciles) em uma verdadeira noite crossover (apesar de nem todas as bandas serem da vertente), com direito a jaquetas jeans com patches, bandanas e bonés do Suicidal Tendencies, bem como manda o figurino do aclamado metal punk.
O início da tarde no Kool Metal Fest 20 anos
A festa foi aberta com a apresentação do Vermenoise. Pontualmente às 14h30, a banda subiu ao palco destilando seu som pesado, rápido e cheio de energia.
Nem mesmo a chuva torrencial que caía em São Paulo naquela tarde de domingo foi capaz de dispersar o público, que compareceu em peso ao Carioca Club.
No set, músicas como “Ausência em Vida”, “Homem Santo”, “Abuso”, “Molotov”, entre outras. O trio formado por Rafaela Bega, Victor Costa e Chris Justino mostrou, com competência, que a música extrema ainda é extremamente relevante no underground e fez um show poderoso no evento.
Em seguida, foi a vez da Trovão subir ao palco do Kool Metal Fest. Com seu heavy metal nos moldes dos anos 80, era a banda que mais destoava das demais do line up.
Obviamente, isso não é um demérito. Pelo contrário, com muita segurança no que estava fazendo, eles deram ao público uma apresentação intensa e, ao mesmo tempo, divertida, por conta dos clichês clássicos de heavy metal, com músicas como “Princesa de Fogo”, “Prisioneiro do Rock n’ Roll” e “Furacão”.
Depois, foi a vez dos cearenses do Facada se apresentarem. O power trio de grindcore de Fortaleza, velho conhecido do underground não só de São Paulo, mas de todo o país, trouxe muito peso em sua apresentação.
No setlist, verdadeiros hinos da música extrema, como “Tu vai cair”, “Nadir”, “O Cobrador”, “Amanhã vai ser pior” e “A maldição da rede” estremeceram um Carioca Club já lotado. A banda, liderada por Carlos James, definitivamente mostrou a que veio e fez o que foi um dos melhores shows da noite, com um tom sempre político e falas importantes contra a ascenção do fascismo no País, mostrando que o underground nunca será só música.
Ratos de Porão e D.R.I.: hora do thrash/crossover
Como o foco do Kool Metal Fest 20 anos era o thrash metal/crossover, as bandas que vieram a seguir cumpriram bem essa função.
Os brasilienses do Violator subiram ao palco do Kool Metal Fest e já nos primeiros momentos, problemas técnicos com o baixista/vocalista Poney atrasaram um pouco o início da apresentação, mas nada que comprometesse o show por completo. E o frontman ainda brincou com a situação: “É por esse tipo de coisas que nós nunca seremos profissionais”, disse.
Tudo certo, era hora do show. A banda, que segue bem a estética do thrash de músicas rápidas + um caminhão de riffs, foi responsável por circle pits intensos e stage dives de body board.
No set, músicas como “False Messiah”, “Endless Tyrannies”, “Respect Existance or Expect Resistance” deram o gás para rodas punk intermináveis. E nos intervalos, discursos afiados contra o fascismo, representado nos últimos quatro anos pela figura execrável de Jair Bolsonaro.
O quarteto mostrou que está mais em forma do que nunca, tanto no som quanto na mensagem, e o show foi encerrado com a clássica “United for thrash”, que colocou boa parte do público em cima do palco, cantando junto com a banda. Foi incrível.
Ratos de Porão veio em seguida. A banda liderada por João Gordo abriu o set com “Alerta Antifascista”, do disco “Necropolítica“, lançado no ano passado. O registro contém um tom extremamente político devido aos últimos quatro anos vividos pelos brasileiros e isso está muito claro nas letras.
“Aglomeração”, uma clara referência ao negacionismo da pandemia, veio na sequência e, se no show do Violator, os circle pits e stage dives já estavam intensos, no do Ratos os seguranças da casa tiveram muito trabalho para conter o público ensandecido.
“Amazônia Nunca Mais”, “Lei do Silêncio”, “Vivendo cada dia mais sujo e agressivo” e “Crucificados pelo Sistema” também fizeram parte do setlist, entregando sempre um show muito intenso e pesado.
A novidade da apresentação foram algumas músicas do EP “Isentön Päunokü”, tributo aos finlandeses do Terveet Kädet.
Um dos blocos mais intensos do show foi o formado pelas músicas “Guerrear”, “Políticos em Nome do Povo” e “Caos”, extremamente rápidas e tocadas uma atrás da outra, mostrando que o tempo definitivamente não tira a intensidade do show do Ratos de Porão, que foi encerrado com a clássica “Aids, Pop, Repressão”.
Então, o relógio marcava 20h30 quando o D.R.I. finalmente subia ao palco. A banda já se apresentou por aqui outras vezes, mas ainda havia aquele clima de “primeira vez” no público, inclusive em mim, que nunca tinha visto.
Os texanos, que completaram 40 anos de estrada no ano passado, iniciaram o show com um bloco poderoso, despejando “Application”, “Violent Pacification”, “Madman” e “Couch Slouch” uma atrás da outra, colocando um sorriso de satisfação no rosto do público, que contagiava o vocalista Kurt Brecht.
No setlist da banda, também estiveram presentes músicas como “Acid Rain”, “Who Am I”, “Manifest Destiny” e a clássica “Thrashard”, que incendiaram o público do Kool Metal Fest e garantiram circle pits ainda mais intensos, apesar do já visível desgaste físico da platéia, após tantos shows.
A apresentação do D.R.I., assim como Ratos, Facada e Violator, tem o poder de juntar vertentes diferentes: do grind ao thrash, passando pelo hardcore, e isso se refletiu de forma muito forte no público.
Os blocos finais do show também trouxeram músicas intensas como “I’d Rather be Sleeping” e “Equal People”. E depois de quase duas horas de apresentação, o D.R.I. se despediu do público tocando “I Don’t Need Society” e “5 Year Plan”.
Em resumo, o Kool Metal Fest fez 20 anos, mas quem ganhou o presente fomos nós: uma noite incrível, de muita música rápida e muita confraternização. Com certeza, é uma festa que vai ficar na memória.