Alexandre Magno Abrão, o Chorão, nasceu em 09 de abril de 1970 e, ao contrário do que muitos acreditam, seu nascimento se deu na cidade de São Paulo. Depois da separação dos pais, aos 11 anos, é que se mudou para Santos, onde fez seu nome.
Nos tempos de escola, apesar da sua habilidade de escrita, nunca foi um bom aluno. Ainda nesse período, sua mãe sofreu um derrame e quase faleceu, quando ele tinha 14 anos. Por isso, cursou só até a 7ª série (atual 8º ano).
Foi diante das dificuldades e, agora na nova cidade, que Alexandre conheceu o skate. Viu o freestyle que a cidade litorânea proporcionava, na qual o skate também sempre foi valorizado.
O apelido Chorão surgiu justamente da relação com o skate. Antes de aprender as manobras, ele passou boa parte do tempo observando os mais velhos. Quando perdia algum campeonato ou aposta, resmungava e “chorava”, daí veio o nome que o consagrou.
Tudo mudar
No início da vida adulta, sem formação e com um filho, tinha dificuldades em se manter em um emprego fixo. Trabalhou em diferentes empregos, inclusive com o pai, vendendo desde imóveis a cartões de Natal.
Foi um dia, dentro do bar Creperie, em Santos, que, ao notar a ausência do vocalista da banda que se apresentava, Matrix, Chorão assumiu o microfone. Improvisando, cantou uma música de uma banda que era sua referência, Suicidal Tendencies.
Para sua sorte, um frequentador do bar era olheiro e convidou Alexandre para um teste no dia seguinte, às 14h, para ser vocalista da banda What’s Up. Ele foi aprovado e dois dias depois já estava gravando uma demo que seria enviada para a rádio 95, de Santos.
Foi em sua passagem pela What’s Up que conheceu seu futuro parceiro, Champignon, o baixista de Charlie Brown Jr.
Dias de Luta, dias de Glória
Em 1992, Chorão fundou a banda Charlie Brown Jr., cujo nome surgiu, literalmente, por um acidente: ele trombou com uma barraca de água de coco que tinha o desenho do personagem Charlie Brown, dono do cãozinho Snoopy.
O Jr. ele decidiu colocar porque se consideravam “filhos do Rock”, tendo como influência bandas como Legião Urbana, Ratos de Porão, Olho Seco, Grinders, Garotos Podres, Raimundos, O Rappa, Planet Hemp e outras.
Foram muitos os desafios no começo. Chorão desenvolvia o papel de vocalista, compositor e até empresário e administrador, pois corria atrás dos shows e gravações.
Em 1993 ficaram conhecidos em Santos, mas só em 1997 lançaram o primeiro álbum, Transpiração Contínua Prolongada, produzido por Rick Bonadio, que contava com 16 faixas. No dia 24 de junho do mesmo ano, fizeram sua primeira aparição na TV, no Programa Livre, comandado por Serginho Groisman nas tardes do SBT.
Em 1999 veio o segundo álbum, com 25 faixas. Essa quantidade de canções lançadas, bem diferente da realidade que o mercado tem hoje, que conta com álbuns de 10 a 12 faixas, se justifica pela necessidade de a bandar ter o que tocar nos shows. Quanto mais músicas o público conhecesse, mais cantariam junto.
Ainda em 1999, o seriado Malhação, da Rede Globo, estreou seu novo formato com uma nova abertura, que contava com o hit “Te levar daqui”, que ficou em vigor até 2006.
Depois, a abertura foi substituída por outra composição de Chorão, “Lutar pelo que é meu”, que ficou até 2007, mesmo ano em que ele lançou o filme O Magnata, do qual foi o roteirista e que teve como ator principal Paulo Vilhena. A obra foi vencedora do 4º Prêmio Sesi-Fiesp do Cinema Paulista.
Para a época, ter uma música em trilhas sonoras de novelas era muito importante para o marketing, pois atingia novos públicos, estourando bolhas e levando o Brasil a conhecer seu trabalho.
Daí para frente, a banda somou 9 álbuns de estúdio, 2 ao vivo, além de coletâneas, DVDs e álbuns póstumos à morte de Chorão.
Sou quem eu sou
Chorão era um frontman singular, conhecido não só pelas letras e pela presença de palco, mas por seu temperamento que dosava humildade e um coração gigante, com o fato de ser muito explosivo, tanto que é impossível falar de Chorão sem lembrar de sua briga com Marcelo Camelo, do Los Hermanos, em 2004.
Ele defendia muito a banda que criou e não admitia que os outros falassem mal, volta e meia tirando satisfações por declarações feitas acerca do seu trabalho. No programa Ensaio, de 2009, Chorão contextualiza toda essa situação, que, na época, repercutiu negativamente para ele.
O Charlie Brown Jr. foi a grande missão da vida de Chorão. Além de extravasar a dor, colocar dedos em feridas sociais e celebrar as conquistas, a banda foi muito mais do que o trabalho com a música.
Em meados dos anos 2000, Chorão sofreu com a morte do pai e por cerca de 6 meses engordou e entrou em um quadro bastante melancólico, que refletiu em composições como “Ouviu-se falar” e “Talvez metade do caminho”.
Nesse tempo, as coisas foram ficando cada vez mais pesadas. Ao longo da história do grupo, muitas famílias passaram a depender dos ganhos conseguidos, e o vocalista sempre carregou nas costas essa responsabilidade. Daí começa o contato com as drogas e uma decadência em relação à carreira e relações interpessoais.
Mesmo em meio a crises, inclusive a saída dos integrantes originais e uma reestruturação da banda, ele seguiu firme e se manteve em atividade.
Em 2013, no entanto, Chorão foi encontrado em seu apartamento em São Paulo, já sem vida. A causa foi uma overdose. O Brasil ficou em luto e a cidade de Santos, inclusive, decretou luto por três dias.
Em meio a homenagens de pessoas famosas e amigos do cantor, a MTV colocou vários clipes e reprises de programas no ar, que ele havia participado, e a Globo colocou “Te levar daqui” na abertura da Malhação naquele 06 de março.
Champignon e os demais membros decidiram encerrar a história do Charlie Brown Jr. e fundaram a banda A Banca, com a intenção de levar à frente o legado de Chorão e deram início ao projeto Chorão Eterno.
Porém, em 09 de setembro do mesmo ano, o baixista Champignon cometeu suicídio.
Especula-se que a morte do baixista tenha sido resultado do estresse de não conseguir seguir dar sequência ao trabalho do amigo e ex-companheiro de banda, além das constantes acusações de que ele estaria se aproveitando da morte do amigo para lucrar com a nova banda e homenagens.
Tamo aí na atividade
Mesmo após a morte de Chorão e Champignon, Charlie Brown Jr. segue sendo uma das principais bandas do rock brasileiro, tendo marcado uma geração inteira com sua sonoridade inconfundível e letras que retratavam o amor, a sociedade e o cotidiano dos jovens, principalmente os que precisam estudar, trabalhar e ter responsabilidades desde cedo.
A identificação das pessoas com as composições de Chorão deixa acesa sua memória até hoje. Artistas de diferentes meios musicais fizeram novas versões de várias canções e foram lançados alguns trabalhos póstumos.
Em um momento em que o rock parecia elitizado demais, nos anos 90, o Charlie Brown Jr. rompeu barreiras musicais, unindo a linguagem das ruas e do hip hop com as guitarras e influências de música internacional.
Uma década após a perda e o Brasil ainda lembra com muito carinho e tem as canções de Charlie Brown Jr. na ponta da língua.
Para não esquecer quem foi Chorão, o Marginal Alado
- O último álbum de estúdio foi o La Familia 013, de 2013, que já vinha sendo produzido. Depois dele, em 2021, foi lançado o ao vivo Chegou quem faltava, com grandes hits da banda;
- Também em 2021, foi apresentado ao público o documentário Chorão: Marginal Alado, dirigido por Felipe Novaes, contando a trajetória do compositor.
- Em 2018, Graziela Gonçalves, ex-esposa de Chorão, lançou o livro “Se não eu, quem vai fazer você feliz?”, no qual conta sua história de amor com o músico.
- Em 2022, o Santos Futebol Clube prestou uma homenagem a um de seus maiores torcedores, criando uma linha de camisetas do time com tendências do street wear e com o logo do Charlie Brown Jr. na frente.