
Existem 3 grupos de pessoas: o que acha as músicas entre os anos 70 e 80 cafona, o que adora e o que gosta de músicas atuais, com leves influências dessas duas décadas. A banda HAIM tem a capacidade de conquistar os três.
Formado em 2007 por três irmãs nascidas e criadas na Califórnia, Danielle Haim, Este Haim e Alana Haim, o trio HAIM lançou seu primeiro álbum em 2013, Days Are Gone e, com músicas pop rock e indie dançantes, conquistaram um público sedento por bandas novas e de som diferente.
De 2013 até hoje, HAIM tem três discos lançados, prêmios como o Brit Award de 2021 (Melhor Grupo Internacional) e uma carreira consolidada.
Para quem ainda não conhece a banda, a hora é essa. Continue lendo o especial e vá preparado para o primeiro show das americanas em território brasileiro, no Mita Festival, que acontece em maio deste ano no Rio de Janeiro e em São Paulo.
O som das irmãs cabeludas
Quem ouve Days Are Gone, primeiro álbum do HAIM, pode levar um tempo para gostar. As linhas vocais meio entrecortadas, soluçadas e sussurros da irmã do meio e vocalista, Alana, não é o que estamos acostumados a ouvir nas rádios.
Mas quem dá uma segunda chance, como eu fiz em 2013, e escuta o álbum inteiro com a mente aberta, entende a proposta e é conquistado pela influência de Michael Jackson, Prince e referências eletropop, disco, brega, romântico, eletrônico e rock indie do grupo. Sim, HAIM é tudo isso e mais!

E quem são elas?
Este Haim, 36 anos, é a mais velha do trio. Ela toca baixo, percussão e também canta. A do meio, Danielle Haim, 34 anos, é a vocalista principal, está nas guitarras e percussão. E a caçula, Alana Haim, 31 anos, toca guitarra, teclado, percussão e canta.
Influenciadas pela família, as meninas começaram a ter contato com a música desde criança. Seu pai, Mordechai Haim, foi baterista, e sua mãe, Donna, chegou a vencer um concurso de canto na década de 1970.
Então, na pré-adolescência de Este, formaram uma banda com os pais, as meninas eram tão pequenas que suas guitarras foram escolhidas baseada em peso, já que mal conseguiam carregar os instrumentos.

Mas bateria ainda foi o primeiro instrumento que elas aprenderam e o gosto das irmãs pela percussão é perceptível nos seus shows e em músicas como “Send me Down” e “Let me Go”. Para elas, o instrumento é o que as influencia e, por isso, tem destaque em todas as suas músicas e nas performances ao vivo, cheias de momentos em que o trio se reúne para um batuque.
Em uma entrevista para o New York Times as irmãs afirmaram:
“Na maioria das vezes compomos a partir da bateria, mesmo sem acordes. Muito do nosso senso melódico é só ritmo. Fazer música que você pode dançar é algo que amamos fazer”.
O começo da HAIM
Já crescidas, mas ainda adolescentes, Danielle e Este formaram uma banda pop chamada The Valli Girls e o único single lançado, “Always There In You”, entrou na trilha sonora do filme Quatro Amigas e um Jeans Viajante, já provando que talento não faltava para essa família.
Alguns anos depois, Danielle entrou para a banda de Julian Casablancas (The Strokes), quando este saiu em carreira em solo, e lá ficou até o músico dar a dica para as irmãs começarem a compor e lançarem um álbum de estúdio.
A baixista ouviu o conselho e, assim, nasceu Days Are Gone, o disco de estreia 100% composto pelo trio.
Dos dias que se foram até Something To Teel You
Depois do lançamento de Days are Gone, HAIM partiu em turnê mundial por três anos, e isso deixou difícil o processo de composição para o próximo álbum. Elas afirmam que compor é “como um músculo que você tem que estar sempre exercitando”.
Ao fim da turnê, sem ter onde morar, Danielle, Alana e Este voltaram para a casa dos pais e, na sala de estar, voltaram a compor.
O segundo álbum é considerado um teste de sobrevivência para muitos artistas, que parece que gastaram todos seus esforços no disco de estreia e não sobra muita coisa para os próximos. Mas isso não aconteceu com o trio.
Com o lançamento do 2º álbum, Something To Teel You (2007), elas provaram que suas canções têm um estilo e personalidade próprios e não deixaram a peteca cair nem influências externas “poluírem” sua sonoridade.

O disco é cheio de faixas gostosas de ouvir, com melodias vocais e refrãos que continuam fáceis de decorar e prazerosas de cantar junto em uma viagem de carro, não são rasas e continuam surpreendentes e diferentes de outras coisas nas rádios, destaque para “Little Of Your Love”.
Quando o talento encontra a oportunidade

As irmãs Haim cresceram em uma família de músicos e tiveram apoio e contatos que ajudaram na sua jornada, mas isso não desmerece o trio talentoso que parece trabalhar junto em perfeita sincronia.
Para cada uma delas, trabalhar com as irmãs não é nada difícil e simplesmente funciona. As musicistas até ficam tristes quando veem irmãos que não se dão bem, inclusive, a mais nova, Alana, disse que é obcecada por Este e Danielle e que são as melhores irmãs do mundo.
Além da composição própria, as apresentações ao vivo também são o que alegram o grupo. Para a HAIM, estar em turnê, apesar de estranho, é a única coisa que traz alegria pura e, apesar da fama, elas ainda se surpreendem com o grande público que está lá para assisti-las.
Andando e dançando

Assim como a música está no sangue delas, a dança também. Seus pais são da era Disco e sua mãe até teve a ambição de ser uma dançarina profissional quando mais nova. Durante a infância, a baixista Este costumava fazer coreografias e dançar pela casa, forçando suas irmãs mais novas a dançarem com ela.
Apesar de tocarem instrumentos e serem uma banda, e não um grupo pop estilo Spice Girls, HAIM sempre implementa a dança em seus videoclipes, que são mais delas dançando do que tocando.
Em uma entrevista para o NY Times a banda afirmou que a dança, para elas, é como um outro instrumento, um jeito de brincar com seus corpos. E de passinho em passinho seus clipes são gostosos de assistir, principalmente para quem sempre sonhou em caminhar pelas ruas vazias de LA intercalando uma coreografia com passos em sincronia com os amigos.
Mulheres na música

O terceiro álbum do HAIM, Womans in Music Part III, foi lançado em 2020 com uma vibe “música de viagem com o vidro do carro aberto”. A sonoridade um pouco diferente dos dois discos anteriores é bem clara, além de menos letras sobre amor, ouvimos menos elementos eletrônicos, mais influências de reggae, rock experimental e riffs de guitarra pegajosos.
Womans in Music Part III é ideal para aquele momento em que queremos sentir uma brisa refrescante em um dia verão, mas estamos bem no meio do inverno.
Talvez, no futuro, o maior desafio das irmãs seja a reinvenção dentro de um diferencial responsável por seu sucesso. Se elas vão arriscar mais, e conseguir crescer, amadurecer e sair da caixa criada por elas mesmas, não sabemos. Por outro lado, em um mundo onde a obrigação da reinvenção acaba deixando muita coisa boa padronizada ou ruim, talvez seja melhor que a irmandade HAIM permaneça exatamente como é.
O HAIM vai tocar no festival Mita no dia 04 de junho em São Paulo e no dia 28 de maio no Rio de Janeiro. No Line-Up do festival estão outros grandes artistas como, Florence + The Machine, Lana del Rey, Capital Inicial e Planet Hemp.