Definitivamente, o dia 11 de dezembro foi especial para quem esteve na Fabrique Club, em São Paulo, e presenciou o encontro de duas forças da natureza: Discharge e Ratos de Porão, em data extra da tour dos ingleses na capital paulista, fizeram a alegria dos fãs de punk, mas vamos começar do começo.
No sábado (10), o Discharge fez sua primeira apresentação no Brasil após 18 anos, com as bandas Surra e Urutu completando o lineup.
“Histórico”, “inesquecível”, “para lavar a alma” foram alguns dos feedbacks de amigos sobre o primeiro show da turnê organizada pela Agência Sob Controle. E eu estava prestes a descobrir que eles não estavam exagerando.
Ratos de Porão
Em uma Fabrique lotada num fim de tarde de domingo, fãs de punk e metal se reuniram para presenciar o encontro entre Discharge e Ratos, dois grandes expoentes da música pesada no mundo.
Então, pontualmente às 19h, a banda capitaneada por João Gordo subiu ao palco trazendo um setlist pesado, passeando por todos os 40 anos de carreira.
O show começou com Alerta Antifascista, música de abertura do disco Necropolítica, lançado neste ano, e Farsa Nacionalista e Amazônia Nunca Mais, do disco Brasil, vieram logo em seguida, mostrando que a banda não perdeu a mão na execução de seus clássicos.
Falando em execução, o baixo de Juninho foi um dos destaques do show. O clássico Rickenbacker usado pelo músico estava particularmente pesado neste show. Um verdadeiro terremoto a cada nota tocada.
Aliado à guitarra de Jão, à bateria veloz de Boka e ao vocal gritado de Gordo, o som produzido era o que a banda outrora já chamou de “trilha sonora do fim do mundo”.
Em alusão à pandemia e ao negacionismo do governo Bolsonaro, Aglomeração foi a próxima música do setlist. Morrer, Crocodila e Beber Até Morrer fecharam o primeiro bloco do show.
Na pausa, Gordo se mostrou visivelmente feliz por estar tocando com uma das bandas que mais influenciaram o Ratos de Porão.
O segundo bloco foi aberto com Necropolítica, faixa-título do disco novo, trazendo toda uma alusão à política da morte do governo que assolou o Brasil nos últimos quatro anos. Em seguida, foi a vez do hino “Crucificados pelo Sistema“, que fez o moshpit na frente do palco ficar ainda mais intenso. Várias gerações de punks e headbangers confraternizando no meio da bagunça.
O setlist contou ainda com músicas como Descanse em Paz, Vivendo cada dia mais sujo e agressivo, Igreja Universal e Sofrer, sempre trazendo um som bastante agressivo e rápido.
Chegando ao último bloco dos veteranos paulistanos, Guerrear, Políticos em nome do povo, Caos, Difícil de Entender, Engrenagem, Conflito Violento, Suposicollor, Aids, pop, repressão, Paranóia Nuclear e Crise Geral fecharam o show que, na minha opinião, trouxe um setlist perfeito para quem acompanha a banda há muito tempo, abordando todos os discos. Perfeito. E a festa estava apenas começando.
Discharge
Também pontual, o Discharge subiu no palco às 20h30, começando o show com The Blood Runs Red e fazendo a Fabrique parecer ainda mais cheia e quente.
Fight Back veio logo em seguida, sem pausa para respirar. Caprichando no setlist, a banda apresentou, na sequência, Hear Nothing See Nothing Say Nothing, faixa título do álbum mais emblemático dos ingleses.
Durante o show, o vocalista Jeff “JJ” Janiak exaltou o fato de a casa ter lotado em dois dias seguidos de apresentações. “Quem esteve no show de ontem?”, perguntou. Após a resposta do público, ele completou: “Perfeito. Públicos diferentes, energia diferente, e ambos os shows sendo muito importantes para nós”, destaca.
Quatro décadas de banda não é para qualquer um. Tocando com a energia do Discharge, menos ainda. Era uma festa de clássicos, com A Look At Tomorrow sendo executada logo depois, para delírio da multidão, que já não se importava com o calor que fazia dentro da casa.
O som na Fabrique era extremamente pesado e o moshpit se estendia até o fundo da pista. Com poucas pausas, o Discharge emendava uma música na outra, como fez com The End, Hell On Earth, Cries of Pain e Ain’t no Feeble Bastard.
Mas, um dos pontos altos do show, definitivamente, foi quando a banda tocou o clássico Protest and Survive, adorado por diversas gerações de fãs e reforçando o tom político das letras.
O setlist contou também com músicas como State Control, Decontrol e The Possibilities of Lifes Destruction, que fechou o show e contou com a participação de João Gordo, cantando ao lado do guitarrista Terry Roberts.
Eu diria que esse retorno do Discharge ao Brasil fez jus à expectativa do público, que precisou esperar quase duas décadas para vê-los de novo por aqui.
Um encontro de duas instituições da música, ambas celebrando mais de quatro décadas de estrada. Quem viu, com certeza não vai esquecer daquele domingo quente em São Paulo.