Divina e maravilhosa. Foi assim que Gal Costa fez da vida, cantando os diversos versos e melodias que falavam sobre o amor em suas mais diversas versões.
Amor a quem se ama, aos amigos, ao Brasil, à arte e à liberdade.
A inconfundível voz de Gal é parte da trilha sonora do nosso país. Ela que nasceu no berço do Brasil, Salvador, a capital da terra que carregou em suas canções, com influências como Tom Jobim e Dorival Caymmi.
Aos 77 anos de idade, e mais de 50 de carreira, Gal nos deixa com saudades, mas herdeiros de um trabalho impecável e de peso para nossa cultura nacional.
E como forma de homenagem, fizemos este especial para relembrar um pouco de sua grande trajetória.
Meu nome é Gal
Maria da Graça, como constava na primeira certidão de nascimento, fazia jus à sua graça. Eleita a 7ª dentre as 100 maiores vozes da música brasileira pela revista Rolling Stone, em 2012, deu forma a inúmeras canções nos mais variados ritmos: jazz, samba, bossa nova, baião, forró, rock, enfim…Música Popular Brasileira.
Sua carreira teve início em meados da década de 1960 com o musical “Nós, por exemplo”, de 1964, ano anterior à primeira gravação de estúdio, feita para o álbum de estreia de Maria Bethânia, amiga de quem seguira os passos desde que saíra de Salvador para viver no Rio de Janeiro.
Gal, que anos mais tarde inseriu o nome artístico em seu registro, contribuiu com canções para muitos de seus amigos, como Caetano e Gil, até que gravasse seu primeiro álbum solo, Gal Costa, de 1969.
Desde então, não parou mais, somando mais de 40 álbuns entre estúdio, ao vivo e coletâneas, além de DVDs, prêmios e incontáveis feats.
Vou cantar-te nos meus versos
A intérprete de “Baby” e “Vaca Profana” tem uma importância sem igual para a cultura e história da música brasileira.
Sendo um dos principais nomes do movimento tropicalista, além de ter ajudado na revolução do fazer música, usou seu palco para diferentes tipos de manifestações político-artísticas.
Gal Costa fez parte da Tropicália, movimento que misturou rock, bossa nova, samba, música erudita, rumba, bolero e baião. A ideia era fugir do patriotismo utópico que a Ditadura Militar impunha para a arte, na qual só se podia falar sobre as belezas e alegrias de se morar no Brasil, enquanto a censura e a opressão corriam soltas.
O movimento, por meio de suas letras, denunciava usando diferentes figuras de linguagem os abusos sofridos, principalmente pelos artistas.
A linguagem efervescente pegou a juventude que foi criando consciência, ajudando a pôr um fim no regime militar a partir da pressão popular.
A arte sempre estava atrelada à política. E Gal Costa nunca se calou e sempre teve posicionamentos claros, inclusive nas eleições presidenciais de 2022.
Você precisa aprender inglês
A morte de Gal causou comoção na imprensa internacional. Portais e jornais dos Estados Unidos, Europa e América Latina lamentaram a partida repentina, mostrando o poder e o alcance da voz da cantora.
Inclusive, o próprio presidente de Portugal se pronunciou, dizendo que já sente saudades da artista que os portugueses sempre seguiram, consumiram e admiraram.
O primeiro show de Gal nos Estados Unidos foi em 1985, após ter recusado convites por 5 anos, por ter preguiça de deixar o Brasil e conquistar o mercado estadounidense. Ela estreou no Carnegie Hall, com dois dias de shows, onde voltou dois anos depois com Tom Jobim, para uma turnê voz e piano.
Em 2001, foi incluída no Hall of Fame do Carnegie Hall, sendo a única cantora brasileira a compor esse hall. A inclusão foi feita após participar do show “40 anos de Bossa Nova”, em homenagem a Tom Jobim, ao lado de César Camargo Mariano e outros artistas.
Nos últimos anos, Gal Costa provou ser uma artista que sempre se reinventou e fez parcerias com novos nomes da MPB, estando sempre ao lado de Rubel.
Inclusive, a cantora se apresentaria com Rubel no Festival Novabrasil e depois seria uma das headliners do Primavera Sound, mas cancelou a participação nos dois eventos, meses antes de falecer.
Por isso é que eu canto, não posso parar: o mundo sem Gal Costa
Uma semana sem Gal Costa e o silêncio do luto ainda ecoa. Milton Nascimento fez o show de encerramento da carreira dedicado à amiga com quem um dia cogitou ter um filho.
Gil também voltou aos palcos, mesmo sendo difícil, como ele mesmo disse, para homenagear a amiga e comadre. Caetano e Bethânia afirmam que sua história com Gal “é amor da cabeça aos pés”.
Gal revelou inúmeros compositores e está presente como influência de inúmeros artistas brasileiros. Seu legado será sempre lembrado como um verdadeiro patrimônio da nossa música e sua voz nunca será silenciada.