Texto em conjunto por Letícia Pataquine, Fernando Oliveira e Guilherme Polonca
De 31 de outubro a 4 de novembro São Paulo recebeu os shows do Primavera na Cidade, um pré-fest do Primavera Sound cuja proposta é levar para diferentes casas de shows na capital diversos eventos antes do festival em si.
De Bebé Salvego a Sidoka, de FBC a Brvnks e de Gab Ferreira a Black Pantera, diversos foram os estilos que passaram pelos palcos da Áudio Club, do Cine Joia e do Distrito Anhembi, e nós estivemos em 3 das 8 noites, conferindo tudo o que rolou de melhor no rap e no rock durante o Primavera na Cidade.
Três noites de shows do Primavera na Cidade: rock, divas pop, trap e funk
2 de novembro – Cine Joia: funk, trap e coreografias
Nossa maratona começou no dia 2 de novembro no Cine Joia, abrindo com Brime!, projeto de Fleezus, Cersvr e Febém, e o palco foi montado para nos fazer sentir em uma reunião de amigos na quebrada, com uma mesa cheia de bebidas, cuja toalha era a bandeira do Corinthians com o rosto do presidente Lula, inclusive, os rappers celebraram o fato de ser um dos primeiros shows pós-vitória do candidato e fizeram piadas com os manifestantes que bloquearam rodovias por não aceitar o resultado da eleição.
“Avisa os boys pra ir lá tirar os avós deles das rodovias”, brincou Febém, em um show que exaltou não só o rap, mas também o funk, especialmente na música “Terceiro Mundo”, ponto alto do show, que fez o público abrir uma roda e teve até stage dive do rapper convidado P.L.K.
Na sequência, o britânico Lord Apex encontrou o calor do público brasileiro, que não parecia conhecer muito das músicas do artista, mas não deixaram de fazer muito barulho, especialmente quando Febém voltou ao palco para a música “Money to get”, faixa do disco Joga Bonito, do Apex, gravado e produzido no Brasil.
Depois desse show, o público ficou diferente. Saíram as camisas e calças largas e entraram as maquiagens e saltos altos do público que encheu o Cine Joia para a apresentação impecável de Urias. Foi impossível tirar os olhos do palco, que foi tomado pela cantora, sua voz potente e suas bailarinas. Um show que, sem dúvida, devia ter ido para algum palco grande do festival.
Após o show da Urias, a casa que antes estava bem cheia ficou praticamente vazia. Se era pela discrepância entre os dois últimos shows ou se era por conta do horário, não dá pra saber, mas o que se viu foi uma apresentação quase intimista de Sidoka, que subiu ao palco 00h30 – e digo quase, pois só no palco havia vários trappers, e o público jovem que consegue ficar até 1h da manhã tem disposição de sobra pra animar qualquer espaço. Mesmo sem o maior hit, “07”, o setlist foi perfeito pra quem curte o trap cantado em Doka language.
3 de novembro – Áudio Club: a noite é (das minas) do rock, bebê!
Já na noite do dia 3 de novembro, nosso Primavera na Cidade foi a noite do rock, com shows de Molho Negro, Black Pantera, Crypta, Ratos de Porão e Dead Fish.
Molho negro foi a primeira banda a subir ao palco para apresentar seu novo álbum, Estranho, que já está na boca do público que cantou “Berrini”, “23”, “Deixe seu coração pra lá”, entre outras. Também houve tempo para relembrar os álbuns passados, como “Rui Barbosa”, que abriu a primeira grande roda da noite, já no fim do show da banda, aquecendo para a atração seguinte, o fenômeno punk Black Pantera, que sempre deixa seu recado, com as letras politizadas e um som pesado, que dessa vez incluiu participação de Rodrigo Lima (Dead fish) em uma das músicas.
Mas foi a Crypta, terceira banda da noite, que roubou a cena, não só pelo palco decorado bem ao estilo death metal, mas por impressionar todo o público, boa parte que ainda não conhecia a banda, com seu álbum de estreia, Echoes in the soul. O vocal potente de Fernanda Lira e a incrível qualidade sonora que a banda mostrou conquistaram o público, que não tirava os olhos do palco. Com certeza, a banda ganhou muitos fãs nesse show do Primavera na Cidade.
A noite se encerrou com uma dobradinha de bandas que provam que o tempo só as torna melhores. Ratos de Porão mostrou porque está há 41 anos na cena, com uma apresentação impecável tecnicamente e com um setlist diverso. O novo álbum Necropolitica foi apresentado junto a hits passados e o Ratos comprovou que ainda está muito vivo, assim como o Dead Fish, que subiu ao palco quase 2h da manhã, mas quem aguardou não se arrependeu.
4 de novembro – Áudio Club: O baile de FBC!
Na sexta-feira, véspera de Primavera Sound, a Áudio recebeu mais um show do Primavera na Cidade e, dessa vez, foi FBC quem dominou a noite.
Assim como Urias e os rappers no Cine Joia, o público da Áudio se dividiu entre os que foram ver a espanhola Bad Gyal (que também se apresentou no palco Elo do Primavera Sound), e os que foram conferir Mac Julia e FBC.
Após um pequeno aquecimento do DJ Cost, FBC e Iza Sabino ganharam o palco cantando canções do álbum Baile, lançamento mais recente e popular do artista. A presença de Iza Sabino, inclusive, foi uma excelente adição ao show, por garantir a execução de canções do álbum colaborativo Best Duo, lançado pelos dois músicos em 2020.
A setlist do show foi bastante variada e contou com músicas de diversas fases da carreira de FBC, apesar de ser predominantemente composto pelo Baile, mas até mesmo a canção “Auto-Ajuda”, lançada em 2016, muito antes de qualquer álbum solo do artista, marcou presença no show, deixando claro que Baile é apenas um dos vários acertos da carreira do rapper.
O destaque da noite ficou por conta da faixa “Delírios”, tão esperada pela plateia, que cantou em coro – e levou FBC a repeti-la após o final da setlist – e o hit “Se Tá Solteira”, com Mac Julia de volta ao palco para cantar junto.
Por meio de músicas novas, antigas, dançantes ou românticas, acompanhado de músicos da cena do hip-hop mineiro como Iza Sabino, Mac Julia e DJ Cost, FBC mostrou que sabe entregar uma apresentação que empolga fãs, simpatizantes e até mesmo aqueles que só queriam se divertir numa noite de sexta-feira.
Primavera na Cidade: uma escolha inovadora e acertada do festival
Além das diferenças naturais de um festival pra outro, sem dúvida o Primavera na Cidade é o que faz o Primavera Sound ser tão especial, especialmente se pensarmos que 90% do line up desses shows eram de artistas nacionais.
Uma ideia acertada e que só abrilhantou ainda mais a primeira edição do Primavera Sound em São Paulo. A única dificuldade é ter energia pra ir em todos e ficar nas apresentações até o final.
Aproveite pra assistir alguns reels dos shows do Primavera na Cidade disponíveis no Instagram do Musicult.
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