No sábado, 8 de outubro, o Helloween fez o público suar a camiseta preta no espaço Unimed. O que eu esperava ser um show nostálgico e divertido, acabou se tornando um pouco incômodo, mas não pela banda, que mostrou que ainda tem peso para continuar na estrada, e sim pelo público.
Por volta das 21h20, a banda sueca Hammerfall deixava o palco com um público empolgado, mas com poucas cabeças se mexendo. Como esperado, a casa estava cheia de homens entre 20 e 50 anos, a temperatura quente e as filas do banheiro, gigantes.
“Sem a próxima banda, nós não existiríamos”, disse o vocalista, Joacim Cans, do Hammerfall, pouco antes da última música. A banda saiu do palco, dando tempo para, quem tivesse coragem de encarar as filas, ir ao banheiro ou fumar um cigarro. E foi justamente no fumódromo, depois de ser incomodada por um homem, infelizmente, o que se ouve falar de parte do público do metal se fez verdade.
Um grupo com duas mulheres e um amigo se aproximou de mim enquanto uma delas reclamava quase chorando como havia acabado de ser assediada, não apenas com palavras. “Isso só acontece em show de metal”, disse olhando para mim. Logo mais à frente, um grupo masculino debatia sobre o melhor baixista de determinada banda.
Situações ruins para o público feminino à parte, shows de metal têm uma vibe diferente pra quem não está acostumado, e Helloween consegue unir o público do power com o do metal melódico, aquele mais “fofo”. Esse, em particular, exalava energia inocente e animada jogando os balões em formato de abóbora entre a pista premium e pista comum.
Às 22h, a introdução épica começou e quando a abóbora gigante suportando a bateria ficou visível para todo mundo, o Helloween subiu no palco tocando “Skyfall”. Talvez fosse a música nova, de 2021, ou a falta de empolgação dos headbangers, mas o público só foi se animar mesmo quando o clássico “Eagle Fly Free” começou, tirando todos do chão.
Ver uma banda com dois vocalistas é muito interessante, ainda mais quando, no passado, os próprios fãs discutiam entre si qual era o melhor. No entanto, não tem discussão quanto a uma coisa: Andi Deris tem uma simpatia e conexão com a audiência maior do que Michael Kiske, primeiro vocalista da banda.
O show seguiu com outra música de 2021, “Mass Pollution“. Mesmo rápida e de refrão marcante, não animou tanto alguns fãs, que ficaram parados apreciando a agilidade dos dedos dos guitarristas. Talvez fosse o cansaço, já que muitos ali haviam ficado na fila o dia inteiro para pegar um bom lugar.
Mas o setlist do Helloween é bem planejado, por isso, tocaram outro clássico em seguida, “Future World”, fazendo todo mundo cantar em coro.
Enquanto Deris bate um papo com o público, gente passando mal sai da pista e outros sentam no chão molhado de cerveja. Pra quem está acostumado, é só mais um show. Para gente como eu, que não ia em um show de metal há mais de 15 anos, acaba gerando uma pequena perda no entusiasmo.
Mas isso não importou quando “Dr. Stein” começou, tirando até danças animadas de alguns fãs e passos sincronizados entre Deris e o guitarrista Kai Hansen. Importou muito menos também quando Deris e Hansen cantaram juntos, provando que, embora diferentes, suas vozes combinam muito bem.
Ao final da noite, o Helloween confirmou que tem energia para continuar por muitos anos na ativa, e seu público também.
Falar de um show sem falar do seu público é impossível. Porém, a tarefa não é fácil quando o público acaba criando um pouco de hostilidade para mulheres, que querem curtir o som no ambiente. Embora a banda tenha letras animadas, muitos dos fãs tiveram a capacidade de tornar a experiência desanimadora para as pessoas do sexo feminino.
O Helloween não precisa melhorar em nada, porque já conquistou há tempos seu título de uma das maiores bandas de metal do mundo, mas parte do seu público ainda tem o que evoluir para fazer jus à diversão e descontração que a banda prega.
É inadmissível a venda de cerveja em lata na pista pelo Espaço Unimed. Deveria haver uma maior e melhor fiscalização quanto a essa prática!