Depois de 5 álbuns e diversos shows catárticos que criaram sua base de fãs, o Molho Negro, trio formado atualmente por João Lemos, Raony Pinheiro e Antônio Fermentão, voltou em 2022 com tudo: desde o dia 28 de julho, a banda liberou, praticamente na sequência, dois novos singles.
O primeiro deles foi “Berrini”, nome de um bairro de São Paulo que é conhecido por seus grandes prédios comerciais: “Foi um caso meio raro da música que começou primeiro com o riff de guitarra, aquele que aparece ali no inicio da música, e a letra veio se desdobrando no caminho”, conta João Lemos sobre como o novo single começou a surgir.
A música veio acompanhada de um clipe gravado no próprio bairro, com pessoas que passavam por ali durante o dia e ouviam a música para dar sua opinião sem fazer ideia de que estavam falando com o próprio compositor da letra.
Sobre a gravação e a reação de quem topou ouvir a música, João conta: “A gente ficou cerca de 4 horas se eu não me engano, das 10h às 14h, pra pegar as pessoas saindo no horário de almoço. A maior parte das pessoas que toparam participar do vídeo foram bem receptivas, muita gente obviamente não topou, e acho que das que toparam, não teve nada muito combativo, mas tiveram algumas pessoas desconfortáveis sim, como o personagem que aparece nos créditos do clipe”.
Alguns dias depois, em 18 de agosto, veio o single “23”, que foge da ironia, super característica das letras do Molho Negro, para um peso não só sonoro, mas na letra também:
“Ele se sente sufocado, mas não é culpa do cigarro, o seu corpo diz ‘eu sou de outro lugar’ (….) só quer provar pros outros que ele entende da vida, da arte ou qualquer outra coisa que ele vende (…) e o golpe vai chegar, e o baque vai ser feio. A gente sempre avisou que arrogância é desespero. Vai congelar a nostalgia em isopor. Não vai faltar remorso pra quem nunca teve amor”
Ao lançar o single, João postou em seu Instagram que “não foi fácil” e, quando questionamos sobre o processo de criação e o porquê de ter sido difícil, ele responde: “é uma das minhas músicas preferidas do que virá a ser o novo disco, foi uma letra feita toda em 5 minutos, e a música também foi feita bem rapidamente, praticamente de primeira. Sobre não ser fácil, é que de fato nunca é, mesmo que nós precisemos criar uma narrativa pra conseguir traduzir um sentimento, ainda assim, expor ele dessa forma é algo que, pelo menos pra mim, é difícil… coragem, desconforto e vulnerabilidade, tudo junto”.
Seguindo um padrão, o videoclipe de “23” também é em preto e branco e também contou com a participação de alguns voluntários na gravação, só que, ao contrário de “Berrini”, em “23” as pessoas são próprios fãs da banda, que participaram de uma session no estúdio Doca: “Foi ótimo de gravar, a gente confiou na equipe que estava fazendo, e também ficamos muito contentes das pessoas que responderam nosso convite e apareceram no vídeo, o que é a parte mais legal do vídeo todo”, lembra João.
Se você vive em São Paulo, provavelmente, ao ouvir os dois singles, vai notar que eles parecem resumir o cotidiano de alguém que vive em uma cidade que é sempre chamada de “cidade cinza”, cercada por prédios e conhecida por ser um lugar de contrastes gigantes, boa e ruim na mesma intensidade. Formada por 3 músicos que não nasceram em São Paulo, quisemos saber da banda o quanto os ares nada limpos de SP influenciaram a nova fase do Molho Negro: “Nós moramos aqui há, aproximadamente, 5 anos, e é natural que a cidade comece a se infiltrar no universo lírico da banda, acredito eu que o olhar de migrante sempre vai estar presente também, da pessoa que parte, que volta etc., mas São Paulo é uma cidade que pode abraçar e esmagar na mesma proporção. Pra mim, a coisa mais valiosa daqui é justamente todas as pessoas que vivem aqui em busca de alguma coisa e, no meio do caminho, os semelhantes acabam se encontrando”, diz João.
E depois de 4 anos desde Normal, último álbum do Molho Negro, é óbvio que a gente veja esses dois singles como o prenúncio de um novo disco e João confirma: “é um álbum sim, mais um pela Flecha Discos, com a produção do Gabriel Zander, e ele vai chegar logo logo…sério, tá perto”.
Aumentamos a ansiedade de vocês? Enquanto isso, continue ouvindo o Molho Negro na sua plataforma de streaming favorita.