Em fevereiro de 2020, a Hibizco se lançou no mundo e divulgou seu EP Hits de Estreia nas plataformas de streaming. Agora, depois de dois anos, a banda formada por Raquel Pianta (vocal e guitarra), Yan Maia (guitarra), Guilherme Boll (bateria) e Johnny Oliveira (baixo), lançou o single “Melhor que eu (deixa pra lá)” no último dia 21 de junho.
A música levinha fala sobre o relacionamento entre duas mulheres e ganhou um videoclipe no estilo MTV anos 90/2000, com uma fotografia nostálgica e a banda andando de skate.
E foi durante o lançamento de “Melhor que eu” que conversamos com a Raquel sobre a Hibizco, a letra do último single, os videoclipes, a representatividade LGBTQIA+ da letra e muito mais. Confira a seguir.
A Hibizco tem 2 anos de vida, certo? Como surgiu a banda?
Então, a gente tem um pouco mais de dois anos, na verdade. Os nossos primeiros lançamentos saíram em meados de 2020, mas a gente começou a se encontrar no final de 2018, e em 2019 começamos a gravação do EP já nas intenções de lançar e sair pra tocar, divulgar etc. Lançamos nosso primeiro single em uma sexta-feira 13, o “Alguma coisa de ruim”, e tínhamos nosso primeiro show marcado pra dia 19 de março, mas, naquele domingo, dia 15 de março, parou tudo. E aí, todos os lançamentos que a gente tinha planejado foram feitos no meio da pandemia, e foi uma coisa muito difícil pra nós.
Mas sobre nosso encontro, tudo começou com tweet do Johnny. Todos nós nos conhecíamos por amigos em comum, e quando o Johnny postou que talvez fosse vender os instrumentos, eu respondi “não, vamos tocar”, e já marquei o Boll, depois o Yan chegou na conversa e falou que queria tocar com a gente, então, conversamos, marcamos nosso primeiro ensaio, depois gravamos nossa primeira música, “Vale a pena ir”, e de conhecidos nos tornamos mais que amigos, uma família mesmo.
Vocês todos já tinham projetos anteriores na música?
Sim, o Boll e o Johnny estão na Cardamomo, que é uma banda instrumental muito legal. O Boll junto com o Yan tocavam na Bordines, e eu toco e dou aula com As Batucas, que é um projeto muito bacana aqui de Porto Alegre pra mulheres.
Você comentou sobre a pandemia, e eu ia mesmo perguntar sobre isso, pois vocês começaram a divulgação da banda em fevereiro de 2020. Como foi dar início a uma banda e ser pega de surpresa pela pandemia? Vocês pensaram em desistir ou justamente por ser um projeto novo foi fácil se adaptar?
É impossível responder essa pergunta pelos guris, porque cada um lidou com a pandemia de um jeito muito particular, mas, pra mim, o sentimento de acabar com a banda nunca existiu. Eu tinha medo de que a banda acabasse, com certeza, mas era mais sobre “de onde vai vir a força?”, porque tem a questão financeira, já que se não tem herdeiro na banda independente, que é o nosso caso, a gente não tem nenhum herdeiro na banda rs., é muito complicado. Todo o projeto é mais lento por falta de dinheiro pra investir nas coisas e, depois de investir não só dinheiro, mas o seu tempo, esforço e criatividade, quando chega o momento de colher os frutos, divulgar o trabalho, fazer show, vender o merch, isso não acontecer é de uma aflição horrível.
Mas a coisa que eu mais amo no universo é compor, cantar e tocar, então é muito difícil pensar em encerrar Hibizco de alguma forma porque é na banda que eu coloco mais a minha energia criativa e é algo no qual eu tenho muita fé e admiro muito os meninos que estão comigo, então acho que se a pandemia não acabou com a banda nada mais vai acabar! Rs.
Isso aí, rs.! E agora, depois do EP de 2020, vocês lançaram um single e quais os próximos passos? Já é uma preparação pra um novo EP ou álbum?
Esse single, de fato, marca uma mudança e um amadurecimento muito grande nosso, não só individualmente, mas como banda e na nossa sonoridade. No primeiro EP, nós tínhamos uma base de baixo, bateria e guitarra, salvo algumas percussões que colocamos em algumas músicas, mas agora estamos nos entendendo cada vez mais e brincando mais com as ideias, com as guitarras, com os efeitos e isso é uma coisa que daqui pra frente vai marcar muito a banda.
A gente tem material pra ser lançado na sequência, mas não temos nem EP e nem álbum no forno. Estamos preparando esse próximo lançamento com muito carinho, vai ser uma coisa bem legal que junto com “Melhor que eu” vai fechar uma transição muito gostosa da Hibizco.
O novo single veio acompanhado de um videoclipe bem legal, meio nostálgico… e no canal de vocês no YouTube há outras produções bem criativas da banda. Como surgem as ideias audiovisuais de vocês, especialmente nesse último?
Os clipes anteriores foram feitos com recursos que a gente já tinha à mão. “Alguma coisa de ruim” que é o nosso primeiro clipe, foi uma gravação de um encontro aqui em casa, com amigos que nos apoiam fazendo uma audição do nosso EP, e a estrela do clipe é o Mariano, meu cachorro, que se tornou um mascote da Hibizco.
Sim, eu amei o cachorrinho! Rs.
Eu até tenho um outro cachorrinho, o Bruno, mas o Mariano insiste em ficar com a Hibizco, rs. Já “Bicicleta branca” foi lançado um mês depois do início da pandemia, então fizemos uma videochamada e depois gravamos cada um na sua casa…. O clipe de “Vale a pena ir” é um arquivo da vida do Yan, muito bonito e eu não consigo ver sem chorar, por mais simples que seja. E eu vou citar o Yan como uma mente muito criativa nessas coisas.
Quando a gente começou a gravar “Melhor que eu”, sabíamos da potência dessa música e investimos, gravamos com a produtora OCorre, aqui de Porto Alegre, e fomos pensando até chegar na ideia de fazer algo com skate, começamos a pegar referências nessa ideia nostálgica e eu fico muito feliz que tenha passado isso para as pessoas, afinal foi nossa intenção essa ideia dos anos 90.
As letras sempre falam de relacionamentos de forma mais leve, quem escreve normalmente na banda e como é o processo criativo de vocês?
A maioria das músicas da Hibizco são composições minhas e composições do Yan, e, quando eu componho pra banda, me desapego de como vai ser o instrumental, porque sempre chegamos em um resultado interessante. Vou dar um exemplo: a gente tem uma música que eu sempre toquei no violão e demorei bastante pra colocar na mesa porque ela é um pouco mais complicada, é uma música mais triste, mas, quando mostrei pros meninos, o Boll veio com a bateria e criamos uma melodia totalmente diferente e que eu não tinha imaginado. Então, a gente escreve individualmente, mas a composição é conjunta.
A música é cantada por uma mulher e direcionada pra outra mulher, e a gente está no mês do orgulho LGBTQIA+, foi proposital terem lançado neste mês ou aconteceu de forma natural?
A gente não planejou isso, inclusive a gente queria ter lançado mais cedo, mas é uma alegria lançar essa música nesse mês que é muito importante. E a gente descobriu hoje [a entrevista foi feita dia 21 de junho] que é o dia do skate rs., então espero que essa junção de traga coisas boas pra gente, porque estamos muito felizes.
E sobre a letra, não foi algo que eu fiz propositalmente, mas eu sou uma mulher lésbica, então, as minhas músicas românticas sempre serão baseadas em uma figura feminina, mesmo que essa figura não exista, então é muito natural falar “ELA é melhor que eu”, assim como o Yan compõe falando no masculino e eu canto junto com ele e está tudo bem, mas não tinha como a narrativa não ser um romance entre duas mulheres se tratando de uma composição minha.
E muito se fala em representatividade hoje em dia, e a gente sabe que, apesar de termos avançado bastante nesse sentido, ainda falta muito, inclusive no rock. Você espera ser uma representante para as gerações atuais e futuras? E, quando você começou, quem foi a artista que gerou essa representatividade pra você?
Eu espero sempre continuar falando o que eu sinto, acho que essa é a melhor representatividade, dentro da comunidade ou não, então eu espero ser verdadeira sempre e se for para ser referência para as outras pessoas, maravilha.
Eu tenho uma referência muito específica, que é a Avril Lavigne, em 2002, quando eu tinha 12 anos. Eu já tocava desde os 6 anos no violão, mas ficar com vontade de pegar uma guitarra foi só depois da Avril Lavigne. “Sk8er Boy” fez o meu mundo virar de cabeça para baixo, rs., e eu pensei “Quem é essa mulher? Quero ser, quero ter, quero amar, quero ser guitarrista dela, quero tudo”, rs., e ela foi uma referência muito forte não só musicalmente, mas na forma de me vestir e até me despertou a vontade de andar de skate.
E em 2004, eu vi um show da Pitty e ela mudou minha vida também. Hoje ela é a pessoa do rock no Brasil pra mim quando eu penso em alguém e em frontwoman.
Vocês têm um show de lançamento marcado para o dia 4 de agosto no Ocidente. O que os fãs podem esperar dessa apresentação e como está a ansiedade de vocês pra esse momento?
Esse não é o nosso primeiro show, mas será o nosso maior show. O Bar Ocidente é um local histórico aqui em Porto Alegre, e o que o público pode esperar é um grandíssimo baile de pop rock e uma festa animada muito massa.
Além da abertura do Natê, vamos trazer dois músicos convidados: a Julia Pianta, minha irmã e percussionista, e o Caíque Paiva, que vai estar nos sintetizadores, então, a gente está preparando um show maior do que a gente costuma fazer, explorando coisas diferentes pra trazer uma experiência diferente pro público.
E, claro, vamos levar os nossos merchs pra galera poder apoiar e a gente conseguir fazer com que o próximo lançamento venha o mais cedo possível.