O artista mineiro Ciro Belluci lançou hoje (10) seu álbum de estreia, Recanto, pelo selo Sensorial Centro de Cultura.
Com 12 faixas, o disco traz uma música inédita e 11 releituras de clássicos da MPB, que, apesar de já conhecidas pelo público nas vozes de seus interpretes originais, ganham uma nova identidade com a voz e o estilo de Ciro.
Aos 22 anos, o compositor, membro do grupo de teatro Ponto de Partida, reuniu no repertório, músicas que marcaram sua trajetória de alguma forma, seja pela admiração aos compositores, pelas gravações existentes, ou pela temática da letra.
“A ideia do disco veio de um show que eu já fazia e, quando surgiu a oportunidade, achei que valia a pena encontrar um bom repertório e gravar, registrar o encontro desses músicos e a sonoridade desse grupo que já gostava de tocar junto. Quem me acompanhava era Pitágoras Silveira no piano, Gladston Vieira na bateria e Matheus Duque no sax. E foram esses mesmos músicos que estiveram comigo na criação dos arranjos e na gravação do álbum”, revela o artista responsável pela direção e produção musical.
As participações especiais no repertório são um ponto marcante do disco: Zé Ibarra, da banda Bala Desejo, divide os vocais com Ciro na faixa “Beijo Partido”, também com Vanessa Moreno na faixa “Baião de Quatro Toques”, e com Nailor Proveta e Paulo Paulelli no saxofone e baixo acústico em “Choro pro Zé”.
Com o intuito de criar uma estética particular para o álbum, o artista optou por gravar alguns dos instrumentos simultaneamente: “Gravamos tentando executar o máximo de coisas ao vivo possível: teclado em linha, bateria numa sala e sax em outra; ou então, o violão no lugar do sax, dependendo da formação. Os baixos de duas músicas foram executados pelo Adalberto Silva nesse mesmo esquema do ‘ao vivo’. Os outros, tocados pelo Paulelli, tiveram que ser inseridos depois, em cima da gravação da base já feita anteriormente. Isso foi um medo no início, mas depois que vimos que era possível manter o clima que queríamos mesmo à distância, nos tranquilizamos”, explica o artista.
Além da sonoridade musical, uma das marcas do disco é a interpretação das letras das músicas, já que Ciro canta de forma quase teatral, buscando entender a música para além das notas e transmitindo a emoção e o sentimento que as palavras carregam junto aos seus significados.
Recanto: faixa a faixa
O disco se inicia com “Oriente”, uma releitura da obra de Gilberto Gil, que evidencia a dramaticidade dos arranjos, e traz influências de Elis Regina na interpretação: “A gravação do Gil voz e violão sempre me impactou muito, e a letra dessa música me toca fundo. Acho que ela comunica com qualquer jovem, na verdade, essa coisa de se orientar, e tomar decisões, e se deparar com o mundo real. Quando canto, sinto que é quase pra um espelho”.
A segunda faixa, “Baião de Quatro Toques”, composta por José Miguel Wisnik e Luiz Tatit e interpretada pelo grupo Ordinarius, ficou marcada na nova versão por uma mistura de jazz com baião e a participação de Vanessa Moreno.
Canção original de Guinga e Aldir Blanc, Choro pro Zé é apresentada com voz, saxofone e baixo. Nailor Proveta, saxofonista na faixa, também proveu como referência musical na construção dos arranjos. “Ele tem muitas gravações neste formato só com voz e sopro, e desde quando ouvi esse tipo de coisa pela primeira vez, sempre quis experimentar também, e ainda mais com alguém do nível do Proveta”.
Uma das primeiras músicas a entrarem no repertório do álbum foi “Agnus Sei”, de João Bosco. “Quando ouvi a gravação da Elis foi que comecei a entender o que era a Elis. Ouvi repetidamente por algum tempo, e desde então sempre quis cantá-la também, mas acabou que nunca rolou. Pro disco, foi uma das primeiras que escolhi, junto com Oriente”.
Djavan é uma das fortes influências do artista, que escolheu a faixa “Doidice”. Originalmente mais pop, a canção ganhou uma atmosfera jazzística na releitura. Na sequência, vem “Beijo Partido”, de Toninho Horta, que sela a parceria entre Ciro e Zé Ibarra, e, depois, o apreço de Ciro por Chico Buarque é mostrado na canção “Flor da Idade”.
O jazz do Brasil ganha destaque na releitura da obra “Zoeira”, de Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro. “Ela representa uma linguagem de jazz brasileiro que adoro, então a queria no compilado. A nossa versão tem muito da gravação dela, mas tem um quê a mais que não sei dizer de onde vem ou uma referência específica, acho que foi da soma da bagagem de cada um mesmo”.
O afro samba de Baden Powell e Vinícius de Moraes vem na faixa “Canto de Xangô”, que antecipa a releitura de “A Medida da Paixão”, composta por Lenine e Dudu Falcão.
Os arranjos rock‘n roll de Rita Lee e Roberto de Carvalho presentes na faixa “Nem Luxo, Nem Lixo” foram completamente ressignificados nessa versão: “Além da função musical, acho super simbólico ter a Rita Lee no disco, que não foi uma compositora que ouvi muito, mas que tenho muitas memórias afetivas gostosas com algumas músicas em específico”.
“Passageira” desce as cortinas e é a única inédita do disco: ”O Pablo Bertola me mandou essa música, pois achava que tinha muito a ver comigo. Fiquei super feliz com o presente. Até certo ponto o disco seria só de releituras e, por conta disso, até cogitei não colocá-la. Como o conceito acabou se transformando em abrir as bagagens e recantar as referências, fazia muito sentido ter uma música do Pablo e do Lido Loschi no meio disso, já que eles são, há um bom tempo, compositores das trilhas originais do Ponto de Partida, que cresci assistindo”, finaliza Ciro.