Um sábado frio e chuvoso parece sempre um bom motivo para ficar em casa, mas no último dia 30 de abril foi diferente. Não houve frio e chuva que pudesse tirar o sorriso do rosto dos milhares de fãs que compareceram ao Allianz Parque para ver o KISS pela última vez em São Paulo. Bom, pelo menos é isso que a banda diz, já que a “End of The Road World Tour“, como o próprio nome já diz, é uma turnê de despedida. Ainda que não fosse o caso, perder esse tipo de show não seria um bom negócio, afinal Paul, Gene, Tommy e Eric não estão ficando mais jovens.
Nesses quase 50 anos de carreira, o KISS foi referência de hard rock, de glam metal, de atitude e de muita teatralidade. Os álbuns de estúdio são bons, alguns mais que outros, mas o ponto alto da banda sempre foram os shows ao vivo, os espetáculos cheios de pirotecnia, dancinhas os performances teatrais e um storytelling invejável.
O show em São Paulo não teve nada de muito diferente do que os fãs que já foram a outros shows já viram, com exceção de uma participação pra lá de especial de um grilo que pousou no microfone de Paul Stanley e lá ficou, talvez para se despedir ou trazer boa sorte. Mas ainda assim foi especial porque o clima nesse show foi diferente, foi realmente uma celebração, uma ode ao rock n’ roll. Vi grupos de amigos abraçados cantando juntos, crianças com a maquiagem dos integrantes e acompanhadas de seus pais, casais apaixonados e – alguns até um pouco intensos demais enquanto tocava “Lick it Up”, mas aqui eu não vou me estender muito.
A noite de comemoração começou com a famosa introdução “You wanted the best, you got the best, the hottest band in the world, KISS“, em seguida as cortinas caíram e os integrantes apareceram nas suas plataformas “flutuantes” enquanto tocavam “Detroit Rock City” – era o início de uma linda festa de despedida. Dali em diante, só pedrada mesmo, um hit atrás do outro. “Shout It Out Loud“, “Deuce” e “War Machine” vieram numa sequência muito enérgica. A sensual “Heaven’s On Fire” fez o público dançar e cantar junto e bem alto. “I Love it Loud” veio com um momento muito esperado pelos fãs, Gene Simmons cuspindo fogo.
Dentre as demais músicas, “Say Yeah” é uma das que têm menos impacto no público, e Paul Stanley sabe disso, por isso ele chamou o público para cantar junto – sempre funciona. Em seguida, “Cold Gin” e o solo de guitarra de Tommy Thayer. Depois, “Lick It Up“, “Calling Dr. Love“e o hino glam “Tears are Falling“.
“Psycho Circus” é sempre um acontecimento e precede os momentos de performance nos solos de bateria, com Eric Singer dando um show de carisma e talento na bateria que vai às alturas, e então “100,000 years“, com bastante pirotecnia. Chegou a vez de Gene Simmons fazer sua famosa encenação de cuspir sangue e em seguida seu solo de baixo enquanto subia na plataforma e tocava “God of Thunder” – facilmente um dos atos mais icônicos do show.
Chegou a vez de Paul Stanley e é nesse momento em que o vocalista conversa com o público e diz que quer ir até os fãs, mas eles precisam chamar. Com o público fazendo bastante barulho, Paul subiu em sua tirolesa e “voou” sob os fãs até chegar noutra plataforma, e de lá mesmo seguiu com “Love Gun” e “I Was Made for Lovin’ You” – nesse momento estava chovendo, mas sinceramente isso foi só um detalhe. Ao voltar para o palco principal, seguiu com “Black Diamond“.
Eu disse no começo do texto que os integrantes não estão ficando mais jovens, mas em alguns momentos a gente até esquece disso. Tommy Thayer, por exemplo, é o mais novo da banda e ele tem 61 anos. Em duas horas de show, não houve idade ou cansaço que transparecesse. Talvez por fazerem isso há muitos e muitos anos, talvez por ser tudo muito roteirizado e preparado, não sei, mas eu me peguei pensando “nossa, eu não teria esse pique todo”.
Eric Singer então apareceu tocando piano, o público já sabia, era hora da balada “Beth“. A noite de celebração já estava perto de seu fim, mas não havia lugar para tristeza, era hora de responder à mais famosa das perguntas de Paul Stanley “Do You Love Me“? E vou responder aqui pelos milhares de fãs presentes na hora: sim, a resposta é sim! O clássico veio junto a várias bolas com desenhos da banda que eram jogadas para os fãs que estavam nas pistas.
Milhares de papeizinhos foram lançados ao público na hora da despedida com “Rock and Roll All Nite”. O público, que durante todo o show cantou junto, fez um show à parte. Claro, quem deixaria de cantar esse hino? Foi uma verdadeira festa. A banda se despediu do público, Paul disse “adeus”, e os telões se apagaram. Não era bis, era o fim do show mesmo. Acabou ali e foi nessa hora que bateu “puts, será que foi a última vez mesmo?”.
Enquanto o público se retirava, “God Gave Rock ‘n’ Roll to You” ecoava no Allianz Parque.
Que satisfação em ter vivido na mesma época em da lendária banda KISS!
Confira o setlist do show
“Detroit Rock City”
“Shout It Out Loud”
“Deuce”
“War Machine”
“Heaven’s on Fire”
“I Love It Loud”
“Say Yeah”
“Cold Gin”
Solo de guitarra (Tommy Thayer)
“Lick It Up”
“Calling Dr. Love”
“Tears Are Falling”
“Psycho Circus”
Solo de bateria (Eric Singer)
“100,000 Years”
Solo de baixo (Gene Simmons)
“God of Thunder”
“Love Gun”
“I Was Made for Lovin’ You”
“Black Diamond”
“Beth”
“Do You Love Me”
“Rock and Roll All Nite”