O projeto shaun, do artista João Carneiro, lançou hoje (29) seu EP de estreia, Atraso Marcado, mesclando modernidade e nostalgia ao juntar, nas 4 faixas que compõem o trabalho, as influências ao britpop e rock madchesteriano com melodias modernas do rock de Porto Alegre. É um EP que poderia ser um road movie e só ouvindo na íntegra para compreender o que queremos dizer com isso.
Produzido por Jojô (Tagua Tagua) no estúdio Legato, em Porto Alegre (RS), Atraso Marcado traz a sintonia entre João e Jojô, que trabalham juntos desde 2014, quando Jojô produziu o primeiro single da Bordines, ex-banda de João. Além de dividirem inúmeras referências musicais, a dupla também conseguiu amadurecer o necessário para o projeto se solidificar.
“Montamos os equipamentos nos primeiros dias e deixamos lá. Uma sala só nossa, o que nos deu bastante liberdade”, revela João, que também comenta sobre a dificuldade em conciliar a composição e gravação do álbum com seus trabalhos paralelos: “Eu tenho outro trabalho além da música e o Jojô fazia outros trampos também. Não tínhamos o dia inteiro, precisávamos aproveitar os horários disponíveis e quase sempre sobrava das 20h – às 4h. No dia seguinte, era complicado acordar pra trabalhar no meu outro trabalho. Passei mal por alguns dias, dormindo em média 3 horas por noite”, pontua João.
“Encarei esse EP com uma lupa pra dentro do universo do João. Tem tudo que eu conheço das coisas que ele gosta, desde Tropicália a Beastie Boys, passando por todo britpop, Planet Hemp e por uma geração nova de rap – tudo ao mesmo tempo com um discurso muito afiado e contemporâneo. Ora olhando pra sociedade, ora olhando para si, vindo de alguém que sempre está observando coisas que às vezes passa despercebido para a maioria das pessoas”, revela Jojô sobre o processo de produção da obra.
O EP Atraso Marcado – Faixa a Faixa
O EP inicia com uma faixa homônima, Atraso Marcado, com uma melodia que poderia ser de uma música dos anos 90, mas letra que nos lembra que estamos na segunda década dos anos 2000, na velocidade da informação sem notar o vácuo deixado no presente momento e achando que a “vida moderna é demais”. “É a primeira dessas quatro que eu compus, lá no auge da pandemia, em julho de 2020. Ela ainda traz mais o lado mais roqueiro da shaun, com bastante influências do The S.L.P, projeto do Serge Pizzorno, vocalista do Kasabian”.
A segunda faixa, Amnesia Haze prova como a música é capaz de nos transportar para outros lugares. É possível dar play nesta faixa enquanto vamos para o trabalho ou enquanto produzimos no escritório e, mesmo assim, visualizar um dia calmo em uma praia paradisíaca com alguém que gostamos: “Aquele lance de casal que vai pra praia no final de semana, no inverno, só os dois, vivi muito isso durante a pandemia. Também acredito que tenha na letra, um jeito muito meu de me colocar”. Jojo completa: “essa canção soa como uma folga, um feriado, uma tarde que o cara foi fumar um pra conseguir relaxar de todas essas observações e sentimentos presentes no disco”.
Lábios de Gudang, terceira faixa, que foi lançada em março para divulgar o EP, continua na vibe love songs do EP, iniciada com Amnesia Haze, mas sai da atmosfera litorânea, mergulhando ainda mais na influência brit pop do projeto shaun, e João conta que além de se inspirar na tradicional referência do rock madchesteriano, bebeu da fonte do compositor norte-americano Lou Reed para escrever a letra: “Tentei falar de amor de uma maneira não tão óbvia, como ele. É a história, meio que narrada – tentando colocar o ouvinte numa situação parecida – de duas pessoas que se amam, que se desejam – se olham e imaginam as cenas que podem viver juntes – e uma delas se sente ainda mais atraída pelo fato da outra ter esse sabor inusitado, originado do Gudang”.
Por ser a primeira faixa divulgada do EP, Lábios de Gudang ganhou não apenas um lyric clipe, mas um videoclipe, dirigido por Bruno dos Anjos (OCorre Lab).
E é nessa mistura brit pop made in Brazil que encerramos o EP, ou melhor, o road movie entre Brasil e Reino Unido, com Tatuagem, faixa que traz as referências a Happy Mondays e Stone Roses e um pouco de tropicália brasileira dos anos 70.
Inspirada pelo filme brasileiro com o mesmo título da canção, a letra discorre sobre ressignificação: “É sobre ser jovem, sobre esquecer velhas fases e começar novas, sobre reconhecer a si mesmo e o local onde se vive”, e João finaliza: “No dia em que eu recebi a mix final dessa música, foi um dos dias mais difíceis da minha vida, pois recebi a notícia de uma doença séria envolvendo um familiar. A frase da música ‘e o sal desse mar sempre ajuda a secar algumas das feridas que insistem em não fechar’ passou a ter um novo significado naquele momento, foram dias muito difíceis, mas a pessoa se recuperou”.
Sobre o vídeo que acompanha a letra, o músico finaliza: “Para essa música, tentamos buscar algo que remetesse a brasilidade da música. O plano de fundo é o Rio Guaíba, em Porto Alegre, em um dia quente de sol”.
Quem é João Carneiro e seu projeto shaun
João Carneiro, é um cantor e compositor natural de Porto Alegre, fundador do projeto shaun, que atualmente conta com os músicos: Lucas Juswiak (baixo), Arthur da Costa (percussão/vozes), Samuel Kirst (teclas/vozes), Bruno Neves (bateria), Eduardo Comerlato (guitarra) e Leonardo Braga (guitarra), sendo os dois últimos, ex-parceiros em um projeto anterior, a banda Bordines.
O grupo fez sua estreia com o single Terra em Transe (2019), e seguiu os lançamentos com as faixas Babylon (2020) e Voltando do Trabalho (2020). Já em 2021, lançou o EP re-codificado, com remixes das canções lançadas anteriormente.
Atraso Marcado conta com produção de João Augusto Lopes, o Jojô, integrante do Tagua Tagua e da banda de apoio de Filipe Catto, além de mixagem do vencedor na categoria de melhor álbum de rock em português no Grammy Latino, em 2016, Guilherme Ceron.