A experiência musical de bandas e artistas, acumulada em anos de trabalho, pode e deve ir além dos palcos ou do que se escuta num CD ou vinil. Melhor ainda é quando aprendizados são compartilhados, e esse é um dos tantos pontos de partida para três integrantes do CPM 22 – Badaui, Phil Fargnoli e Ali Zaher Jr. – criarem a Repetente Records.
Lançado oficialmente no último dia 20, em um evento em São Paulo, o novo selo discográfico surge para fortalecer o punk rock e o street punk, em parceria com uma das maiores distribuidoras de música digital do mundo, a Ditto.
No evento de lançamento, Badaui comentou que a ideia de criar o selo surgiu durante a pandemia, quando os shows foram cancelados, a vontade de continuar trabalhando com música era gigante e ele conheceu as músicas da Ganggorra, que precisava de um produtor.
Badaui aceitou o desafio, mas precisava da expertise dos produtores e amigos de banda, Phil e Ali. Durante essa produção, a ideia da Repetente surgiu e, então, foi a vez da Ditto Music entrar no projeto.
E essa união era o que faltava na produção musical atual, já que a história do CPM 22 tem tudo a ver com a Repetente Records: ambos são formados por pessoas apaixonadas por música, sempre dispostas a experimentar e desbravar o novo.
CPM 22
O CPM 22 foi a primeira banda a se apresentar no Hangar 110, histórica casa de shows em São Paulo para o rock e principalmente punk rock, um estilo que será destaque na atuação da Repetente Records.
Além disso, o CPM foi quem furou a bolha do hardcore underground e entrou no mainstream, chegando a diversas plateias e contrato com uma grande gravadora.
E este é o caminho que a Repetente busca fortalecer e oferecer às bandas do selo. O trio vai se empenhar com as respectivas experiências na indústria musical com suporte e estrutura para facilitar lançamentos, distribuições e divulgação na mídia. A consequência, sem dúvida, será o consequente crescimento e exposição de bandas novatas e até mesmo veteranas de um estilo que eles, através do CPM 22, pavimentaram desde a década de 1990.
Por trás do nome Repetente Records
O nome tem tudo a ver com perseverança e persistência na música, praticamente um mantra para Badaui, Phil e Ali, tanto no CPM 22 como nesta nova empreitada.
Repetente tem a ver com a rebeldia contra padrões. Na escola, muitas vezes, o aluno “repetente” é aquele que não se encaixa nos moldes. E ele repete não por incapacidade, mas por não ligar, não se interessar pelas mesmas coisas ou por estar enfrentando problemas maiores e mais urgentes fora da escola. Em vez de copiar a lousa, está sempre criando – fazendo desenhos, escrevendo rimas, bolando planos, fantasias impossíveis, se divertindo com uma realidade menos careta e injusta.
Por isso, tem tudo a ver com o punk, o rebelde, aquele que questiona, se revolta, que segue suas convicções com paixão, sem medo de não estar adequado ou receber a reprovação da sociedade. Aquele que faz as coisas do seu jeito.
Repetente Records também é sobre insistência e independência. A repetição, com o ciclo “tentativa, erro, aprendizado e recomeço”, é a base da vida do autodidata, do apaixonado por uma atividade ou objetivo.
Na música isso é uma realidade ainda mais forte, principalmente no rock. Todos que sobrevivem neste meio se apoiam na paixão pelo que fazem e vivem da repetição nos ensaios, shows, na insistência de se tornar cada vez melhor e mais resiliente.
Quem faz a Repetente Records
Badauí: 46 anos, natural de São Paulo, é cantor e compositor, famoso nacionalmente com o seu trabalho como vocalista da CPM 22, desde 1996.
É um dos proprietários da rede de bares Cão Véio, que tem como sócio o chef Henrique Fogaça. Ao longo da carreira, já foi patrocinado e licenciou o sobrenome e nome artístico Badauí para diversos produtos relacionados ao seu estilo de vida.
Sua vida inteira está ligada a esportes de ação, como skate, surf, snowboard, e todo esse universo de contracultura. É praticante de Muay Thai desde 2013, graduado pelo atleta de MMA profissional Lucas Mineiro (UFC e Brave).
Phil Fargnoli: 42 anos, mineiro, guitarrista, vocalista, arranjador, compositor, engenheiro de áudio formado no IAV, bacharel formado em comunicação social pela universidade Uni-BH e produtor musical.
Com uma experiência de 27 anos na cena musical, já se apresentou em cerca de 2000 shows nacionais e internacionais. Integrou bandas como Dead Fish, Reffer, Zander, Mr. Rude e atualmente está no CPM 22.
Como produtor musical, trabalhou nos estúdios Mega, El Rocha, Artmix, Tambor, The Tone Factory, Sunrise, Estúdio 44, Gênesis, Costella e Superfuzz, gravando dezenas de álbuns. E segundo Badauí, durante o evento de lançamento da Repetente, Phil é o melhor produtor de punk rock do Brasil.
Ali Zaher Jr.: 34 anos, de Araraquara, baixista, guitarrista, vocalista, compositor, engenheiro de áudio formado no Recording Workshop (Chilicothe, Ohio/EUA) e produtor musical.
Músico ativo no cenário independente desde 2000, tocou nas bandas Reffer, Mudhill, Everglade, Gagged, Eletrofan, entre outras bandas da cidade de Araraquara e da região. Atualmente, está no CPM 22 e na Dharma Numb.
Como engenheiro de áudio e produtor, já trabalhou com várias bandas, como CPM 22, Zander, Tusq (Alemanha), E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Eliminadorzinho, Nã, entre outras.
Proprietário do estúdio Sunrise Music, em Araraquara, onde já gravaram bandas e artistas como Dead Fish, Bayside Kings, Bullet Bane, Júlio Fejuca, Cléber Shimu, Savant Inc, entre outras.
E são esses os nomes de peso que irão trabalhar na produção das quatro bandas já confirmadas no selo – Anônimos Anônimos, Faca Preta, Fibonattis e Ganggorra – e das muitas que virão, afinal a Repetente está só começando e tem tudo que é necessário para um futuro muito promissor.
O que grandes nomes do rock falaram sobre a criação da Repetente Records
Marcão, fundador do Hangar 110: “Foi com muito entusiasmo que recebi a notícia do lançamento do Selo Repente Records. Um dos motivos é quem está por trás do projeto, Badaui, Phil e Ali. Os caras tem uma vivência enorme nesse universo de banda, sabem como funciona, sabem dos perrengues de quem tá começando e com certeza vão pavimentar esse caminho para projetos novos. Se voltarmos algum tempo, anos 90 e 2000, os selos foram fundamentais para o aparecimento de várias bandas, não só como um canal de lançamento do trabalho do artista, mas por inseri-lo no mercado de shows. Os selos foram os grandes responsáveis pelo intercâmbio de bandas pelos estados. Lembro de festas produzidas por selos que traziam bandas do próprio cast, de diversas cidades para tocar no Hangar, ali começava a troca de informações. Uma banda levava a outra pra tocar em sua cidade e assim foi fomentando um mercado. Sei que essa ideia vem de muito tempo atrás e lembro como se fosse hoje quando o Badaui veio me falar que queria lançar um selo. Acho que tudo tem seu tempo e que agora o mercado está precisando mais do que nunca dessa iniciativa. É uma grande luz no fim do túnel”
Gastão Moreira, ex-VJ da MTV e comandante do canal Kazagastão: “Em meio à anemia cultural que nosso país enfrenta, os músicos Badaui, Phil Fargnoli e Ali Zhander uniram-se para lançar uma nova gravadora, a Repetente. O objetivo é dar espaço para bandas novas na estrada, tem qualidade, mas carecem de espaço para divulgar sua música. Essa é a típica empreitada motivada pelo amor à música dos seus fundadores. Tenho total respeito por aqueles que não se acomodam. É isso que diferencia quem está nessa por dinheiro e quem está nessa de verdade, por filosofia de vida. Longa vida à Repetente Records.”
Clemente Nascimento, do Inocentes e Plebe Rude: “Uma notícia super bacana e importante para toda a galera independente. A galera da Repetente Records tem experiência notável e vai ajudar quem está começando. Que notícia ótima!”