Estamos em março e, tendo uma equipe formada majoritariamente por mulheres, a gente não podia deixar de celebrar esse mês tão importante pra nós.
Então, além do especial “ouça mulheres” que está rolando ao longo do mês, fizemos mais um: dessa vez com pessoas fundamentais para os fãs de música, mas que, na maioria das vezes, passam despercebidas por estarem nos backstages, nas coberturas de shows e produzindo conteúdo para divulgação de discos, artistas etc.
Estamos falando delas, as minas que fazem, as produtoras de conteúdo sobre música na internet, e todos os dias vamos publicar uma matéria com uma produtora diferente. Será que seu blog ou página favorita aparecerá por aqui?
Pra começar muito bem a semana, conversamos com Lívia Pin, editore do webzine Bus Ride Notes, que além de blog, está presente no Facebook, Instagram e Twitter, tem playlists no Spotify e Deezer, além da coletânea “Discografia Caipirópolis“, disponibilizada no Bandcamp.
Quando você criou o blog?
O Bus Ride Notes foi criado oficialmente em maio de 2019, mas creio que ele já estava há muito tempo pronto na minha cabeça, só esperando estrear. Ele é um webzine sobre a cena indie rock, punk, hardcore e emocore underground brasileira. Não é uma regra, mas pra publicar usamos a orientação: se a banda tem mais do que “tantos” seguidores nas redes sociais, já não precisa da gente.
O que te motivou a criar o projeto?
A motivação inicial, como todos os blogs sobre música que já tive, foi que eu ouço muita música e não tenho com quem falar sobre (risos). Isso junto do fôlego que a cena underground tomou nos anos recentes: tinha banda demais pra falar sobre. Percebi que os sites e páginas que eu conhecia não falavam delas e então o Bus Ride Notes surgiu pra falar sobre as bandas que ninguém estava falando.
Quase imediatamente depois de estrear o Bus Ride Notes eu conheci vários sites, páginas, canais no YouTube, podcasts e etc. que falam sobre a cena underground, mas, ainda assim, como hoje o jornalismo musical não existe em grande escala no Brasil e, em comparação com o número de bandas e artistas, não são muitos os sites e páginas independentes que falam sobre música, isso é uma necessidade. Precisamos de mais pessoas falando sobre música.
Quais os maiores desafios até aqui?
Um dos maiores desafios até aqui foi aprender a lidar com as redes sociais, aprender a desvencilhar do jornalismo a criação de conteúdo nas redes. E também descobrir onde o Bus Ride Notes se encaixava.
Eu pensava “Bom, não é um site de notícias, mas também não é um blog…”. Hoje chamo de webzine e tenho certeza de que se encaixa completamente nisso, mas por muito tempo fiquei em dúvida e isso afetou até mesmo a linguagem que eu usava nas publicações.
O que te motiva a continuar?
Conhecer novos projetos e pessoas. Pra ilustrar a minha resposta tem a “Discografia Caipirópolis”. Um dia conversando com Lucas (ambos somos do interior de SP) eu disse “Nossa, tem muita banda aqui, né?”, começamos a fazer uma lista delas e, coisa de um ano depois, tínhamos uma lista com quase 300 na ativa. Decidimos então fazer uma coletânea, são vários volumes divididos por gênero musical (inclusive, o primeiro volume não foi dividido em gênero musical, ele é composto por bandas com mulheres na formação. Estamos em 2022 e esse assunto ainda dá muito pano pra manga…)
Quais são as mulheres da música e/ou do jornalismo que mais te inspiram ou que gostaria de entrevistar/fazer parceria?
A resposta pra essa pergunta é infinita, mas em todas as áreas, quem me inspira são as pessoas que eu vejo construindo algo que me dá vontade de fazer parte. Como eu digo que sou “geograficamente isolade” do resto do mundo, eu geralmente encontro essas pessoas e projetos através da internet.
Eu recomendo acompanhar páginas, sites e etc. sobre os gêneros musicais que você gosta, pois eles são o veículo por onde a gente conhece pessoas e ideias novas. Alguns internacionais She Shreds Media, Hits With Tits, B!tch Radio, Ruidosa Fest e nacionais Cada Dia Outra Música, Hominis Canidae e o Motim, que é um espaço de eventos no Rio de Janeiro, mas só de seguir nas redes sociais e ler os flyers você já conhece muita coisa (aliás, flyers são um ótimo jeito de conhecer bandas novas).
Nem todos os sites que recomendei aqui são feitos por mulheres, mas certamente você vai conhecer inúmeras mulheres incríveis acompanhando esses veículos.
___________________________
O Bus Ride hoje conta também com as colaborações de Lucas, nas artes e Junio, Fernando e Carlos produzindo entrevistas e textos.
A Livia é uma pessoa agênero, mas que se identifica politicamente como mulher, tendo essa socialização e, segundo ela, sentindo todo o peso sempre que ouve a banda Charlotte Matou um Cara dizendo “todo dia que eu acordo, tenho um direito a menos”.
Siga o Bus Ride nas redes sociais disponibilizada no início do texto e apoie o trampo das minas!